sexta-feira, agosto 31, 2007

Os filmes mais agradáveis, um a um (I)

A) Shichinin no samurai [Os 7 Samurais] (1954), de Akira Kurosawa:

- Visto em VHS, com uns auscultadores enormes nas orelhas, na biblioteca da universidade da minha mulher. Tendo já visto Os 7 Magníficos, o western de qualidade duvidosa cheio de estrelas de Hollywood, não sabia o que esperar. Mas o que vi deixou-me estarrecido. Os sete samurais são homens de honra, dispostos a sacrificar as suas vidas sem recompensas outras que não o reconhecimento de outrem e o cumprimento fiel de um modelo de vida pré-estabelecido como bom. No final, diz a personagem principal: "Mais uma vez perdemos, quem ganhou foram os camponeses, não nós". É que o samurai é o símbolo da total abnegação para o outro: dá-se na perda de si para o ganho do outro, e é portanto a humanização em corpo do sacrifício. Todo o filme é um hino à fortitude de ânimo que despreza o aniquilamento próprio em busca da salvação do outro. O que, no fundo, torna-o num filme intrinsecamente religioso, sem religião. É de longe o melhor filme oriental que já vi. A obra-prima (nunca a expressão se aplicou tão bem) de Kurosawa.

Alberto Gonzales: o exterminador implacável (II)

Um dos momentos mais embaraçosos da carreira de Alberto Gonzales ocorreu aquando da investigação do Congresso às suas actividades como Procurador-Geral. Um comité de senadores e congressistas interrogou-o sobre os motivos e as condições precisas que levaram à exoneração injustificada de oito procuradores federais. Gonzales, que não queria admitir terem-se tratado de destituições puramente políticas (o que seria proibido por lei), nem pretendia cometer perjúrio, socorreu-se de um truque rasteiro, afirmando que lapsos de memória o impediam de recordar com exactidão os acontecimentos. Gonzales não soçobrou perante o comité, mas levou tão a sério a sua desculpa que chegou ao cúmulo de utilizar a expressão “I don’t recall” (“não me recordo”) setenta e duas vezes numa única sessão das audiências! Um verdadeiro caso de Alzheimer galopante...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Alberto Gonzales: o exterminador implacável

Gonzales, Procurador-Geral dos Estados Unidos até ao passado dia 26 de Agosto, era uma eminência parda do regime bushista, encarnando na plenitude as características duvidosas que parecem estar presentes em todas as figuras proeminentes da actual Administração Republicana: uma enorme facilidade em atropelar as disposições constitucionais, uma aversão pelo primado da lei e pelos direitos humanos, um manifesto desagrado pela discussão racional e pelo debate de ideias, uma paixão pelo Estado “bigbrotheriano”, uma visão do mundo assustadoramente maniqueísta, e uma total indiferença pelo “governo limitado” – assente nos freios e contrapesos institucionais [checks and balances] – que define o sistema político americano.

Subiu a pulso nos meandros judiciais no Texas, onde se tornou amigo pessoal de Bush – quando este verdadeiramente reinou no Estado. Com a chegada dos Republicanos ao poder, assumiu o cargo de Procurador-Geral, tornando-se um dos principais ideólogos da Administração: Gonzales foi um dos cérebros do Patriot Act, da limitação de direitos a cidadãos suspeitos, das recomendações da prática de tortura durante os interrogatórios a terroristas, de memorandos que consideravam a Convenção de Genebra “obsoleta”, dos bons hábitos de Guantanamo, da implementação de um sistema nacional de escutas ilegais.

A utilização recorrente de expedientes duvidosos – entre os quais se destacou a exoneração arbitrária de oito procuradores federais, em Janeiro passado – levou o Congresso a investigar as suas actividades, devido a suspeitas de que Gonzales teria violado e abusado das suas prerrogativas. Vários congressistas e senadores, Republicanos e Democratas, exigiram a sua demissão, à semelhança da opinião pública, que sempre o considerou uma das personalidades mais sinistras da Administração.

Caiu no fim de Agosto. Pena que tenha deixado para trás um tão grande rasto de destruição.

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Duvidanças de uma mente curiosa, 61

A propósito da vitória do SLBenfica:

- A noite passada sonhei que o Benfica ganhava ao Kobenhavn por 0-1, com golo de Katsouranis na baliza da esquerda vista pela tv, no primeiro minuto de jogo e na sequência de um canto. Hoje reparo que falhei apenas por quinze minutos e pela natureza do livre. Uma coisa é certa e não suscita duvidança: é que gente estúpida só sonha com coisas estúpidas. Mas e se dedicar o seu tempo de vigília também só a coisas estúpidas? Enfim: deveria eu tornar-me em tarólogo ou em bruxo profissional?

terça-feira, agosto 28, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 60

A propósito dos incêndios na Grécia:

- O berço onde o nosso espírito repousou arde. O fogo, quando descontrolado, é só destruidor, nada tem de construtivo. E avança rápido, ao ponto de ter matado dezenas de pessoas ainda dentro dos seus veículos automóveis: e reporta-se a morte de uma mãe abraçada aos seus quatro filhos, tal como acontecera na antiga Pompeia. Em tudo a Grécia respira antiguidade. Por isso, pelas suspeitas de fogo posto, duvida-se: bem esticadinho, fazer arder a Grécia não será afinal um crime contra a humanidade?

A propósito da saída de Alberto Gonzalez do Department of Justice americano:

- Rumsfeld, Wolfowitz, Rove... Agora Gonzalez. É impressão minha ou esta Administração federal norte-americana vai tombando a conta-gotas? Gotas aliás que se diluem quando embatem. Já não faltará muito para a última gota também se diluir...

Momento cultural

Confesso que tinha poucas expectativas em relação à entrevista de Gualter Baptista na SIC Notícias – um tal de porta-voz dos Verde Eufémia, ex-membro do GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental), ex-membro de uma lista autárquica do Bloco de Esquerda, e mais recente estrela mediática no planeta revolucionário. É certo que o Mário Crespo consegue sempre criar uma atmosfera extraordinária, confrontando o convidado com questões incómodas e arrancando declarações inesperadas, mas pelo que tinha visto antes de Gualter Baptista, esperava apenas tiradas inócuas sobre os males da civilização ocidental e as virtudes da vida selvagem (desde que seja devidamente acautelada a abertura de estabelecimentos nocturnos no Bairro Alto e a comercialização de t-shirts com o Che Guevara). Afinal, aprendi uma série de coisas notáveis – daquelas que verdadeiramente contam para o nosso desenvolvimento intelectual e social:

Aprendi que a responsabilidade é um bem passível de ser delegado, mas jamais de ser assumido. É um perigoso atentado à saúde.

Aprendi que para se proteger um direito constitucional é legítimo violar um direito constitucional. Está bem pensado.

Aprendi que é possível participar numa acção sem a aprovar. Não sei o que Kant diria sobre isto, mas no tempo dele não havia milho transgénico, por isso não interessa.

Aprendi que me mentiram na escola, quando disseram que Sócrates tinha derrotado os sofistas. Não é verdade: eles continuam por aí e com grande implementação.

Aprendi ainda que as tendências da colecção Outuno/Inverno apontam para a utilização de máscaras que cubram o rosto. Não esperava ouvir um defensor da revolução socialista falar de “questões estéticas”, mas gostei de ver que tem olho para a moda.

Para meia hora, não está mau.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 59

A propósito de ter mencionado Lauro António num post anterior:

- Violará demasiado o que subjaz às "duvidanças" se eu me limitar a contar uma experiência pessoal passada? Duvidando ainda, conto na mesma: em tempos de adolescência, acompanhava um amigo já falecido nas suas lides de cinefilia, tendo aí adquirido também um certo gosto por ver cinema. Uma dessas lides consistia no frequentar assíduo do Festróia. Ora, numa das edições fomos assistir ao filme inaugural: fila até mais não, filme a começar pelas 21h30 em Portugal, o que significa que pelas 22h ainda esperávamos na fila. Sucede que na altura passava na TVI o programa Lauro António Apresenta..., que qualquer adolescente pensando-se mini-cinéfilo veria inescapavelmente. Pois na tal fila, eu e o meu amigo conversávamos sobre cinema (claro) e sobre Lauro António: que era um realizador medíocre, que o programa não prestava, que os filmes por si escolhidos eram uma pobreza, que ele conseguia sempre comentar o oposto do significado dos filmes, que Herman José fora certeiro ao inventar o seu "Lauro Dérmio", etc. Já farto de esperar, olhei entretanto para trás, tentando perceber até onde chegava já a fila. E fiquei estarrecido ao notar que a pessoa que estava mesmo atrás de nós, seguindo-nos na fila, acompanhada por um jovem alto, era o próprio Lauro António. Como é evidente, nada mais dissemos até entrarmos na sala, e tivemos o cuidado de nos sentarmos em local oposto ao do dito senhor. Quais são as probabilidades de tal coisa acontecer? Mas ficam aqui as desculpas em meu nome ao dito senhor Lauro António pela ocorrência.

Duvidanças de uma mente curiosa, 58

A propósito desta notícia:

- Como se estrutura a psiké de uma pessoa que vive com um animal domesticado para em seguida o colocar simplesmente na rua em gesto de "fica agora aí que eu volto nunca"? Não sou daquelas pessoas doidas por animais domésticos, não tenho qualquer um nem tenciono ter, não sou defensor de direitos civis para animais, adoro comer carne e peixe... Mas desde miúdo que não consigo perceber o que leva alguém a colocar o seu próprio animal no carro, conduzir um pouco, pará-lo, abrir a porta, chutar o animal para fora, e continuar a conduzir. Na altura, criança pouco pensativa, resolvia o assunto com um preconceito. Hoje não sei o que pensar. Manterei ainda o mesmo preconceito acerca dessas pessoas?: that they're a piece of shit...

a arte da fuga, 16

Ernst Ludwig Kirchner, Street in Dresden, 1908

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sábado, agosto 25, 2007

Mariano, o iluminado

A entrevista de Mariano Gago a Mário Crespo na SIC Notícias foi um espectáculo de arrogância como raras vezes tenho visto. O ministro – que parece uma pessoa sincera e intelectualmente honesta – respondeu às críticas contra a reforma do Ensino Superior com uma altivez inaceitável. Recorrendo à retórica inócua da “Esquerda Moderna”, Gago descreveu os críticos como alguém que “vive no passado” e “receia o que é novo”. Prosseguiu em seguida com uma argumentação rasteira, afirmando que os pareceres do Conselho Nacional de Educação – altamente desfavoráveis às medidas – são feitos por “pessoas que não percebem nada do assunto” e “avessas à mudança”.

Mário Crespo bem procurou suavizar as intervenções do ministro, mas Mariano Gago estava imparável, terminando a entrevista com uma série de tiradas mais ou menos etéreas, entre o “é preciso olhar o futuro” e o “não podemos ficar agarrados ao passado” – o que aparentemente são duas coisas diferentes para o ministro.

Para falar verdade, não sei o que é mais insuportável: se o tom empertigado e a estratégia de ridicularização de críticos e adversários – como se ninguém entendesse a genialidade do ministro devido a uma congénita imbecilidade; se este discurso completamente vazio relativo à “inevitabilidade da mudança”. É um dos traços do governo de Sócrates, aliás: olhar para o futuro, sempre para o futuro, esquecer o passado, o que era já lá vai, vamos mas é para a frente, todos a trabalhar para o amanhã. Talvez não fosse pior que alguém parasse a marcha e olhasse para o mapa, só para o caso de andarmos em círculos.

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quinta-feira, agosto 23, 2007

Scolari, o intocável

Se há alguém em Portugal que construiu nos últimos anos uma extraordinária e bem sucedida operação de marketing, esse alguém é Luiz Filipe Scolari. Confesso que não conheço nenhum exemplo no nosso país de uma pessoa tão idolatrada e alvo de uma tão grande complacência e condescendência por parte dos jornalistas.

Há mais de um ano que a selecção portuguesa não obtém uma vitória assinalável, ocupando neste momento o terceiro lugar no seu grupo de qualificação para o Euro 2008, atrás da Polónia e da modesta Finlândia – tendo já efectuado oito jogos. Ontem, empatou com a ridícula Arménia, uma das mais fracas equipas do continente, numa exibição patética. Para piorar as coisas, Scolari levantou suspeitas indignas sobre a condição física dos arménios, sugerindo que os nossos adversários recorreram ao doping.

E no entanto, no dia seguinte não há uma única peça jornalística de indignação, espanto, ou até mesmo de preocupação. Os jornais generalistas quase que omitem o facto, os desportivos escondem a notícia em cantos da primeira página e pouco espaço dedicam ao caso. Durante a transmissão do jogo, os comentadores repetiram até à exaustão que a Polónia tinha perdido na Arménia e portanto o resultado não era mau de todo. Como se houvesse comparação possível. O tom geral é de relativização e desresponsabilização.

É só futebol e o caso não é grave. Mas preocupa-me esta apatia jornalística – que infelizmente se estende à política e à sociedade em geral – sinal de que as pessoas estão cada vez mais rendidas a um conformismo quotidiano em relação a tudo o que as rodeia.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 57

A propósito deste repto público lançado por Lauro António, e das respostas de Eduardo Pitta:

- Terão sido mesmo estes os filmes mais agradáveis que já vi?:

A) Shichinin no samurai [Os 7 Samurais] (1954), de Akira Kurosawa;
B) Il Gattopardo [O Leopardo] (1963), de Luchino Visconti;
C) Blow Up (1966), de Michelangelo Antonioni;
D) Il buono, il brutto, il cattivo [O bom, o mau e o vilão] (1966), de Sergio Leone;
E) Ladri di biciclette [Ladrões de bicicletas] (1948], de Vittorio De Sica;
F) Simón del desierto (1965), de Luis Buñuel;
G) Notorious (1946), de Alfred Hitchcock;
H) Vertigo (1958), de Alfred Hitchcock;
I) North by Northwest (1959), de Alfred Hitchcock;
J) Psycho (1960), de Alfred Hitchcock;
K) Det Sjunde inseglet [O Sétimo Selo] (1957), de Ingmar Bergman;
L) 2001: A Space Odyssey (1968), de Stanley Kubrick;
M) The Godfather [O Padrinho] (1972), de Francis Ford Coppola;
N) Modern Times (1936), de Charlie Chaplin;
O) Limelight (1952), de Charlie Chaplin;
P) Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino;
Q) The Last Temptation of Christ [A última tentação de Cristo] (1988), de Martin Scorcese;
R) Blade Runner (1982), de Ridley Scott;
S) Baisers volés (1968), de François Truffaut;
T) Citizen Kane (1941), de Orson Welles;
U) Mr. Arkadin (1955), de Orson Welles;
V) Ta'm e guilass [O sabor da cereja] (1997), de Abbas Kiarostami;
W) Annie Hall (1977), de Woody Allen;
X) Der Himmel über Berlin [As asas do desejo] (1987), de Wim Wenders;
Y) Paris, Texas (1984), de Wim Wenders;
Z) Nosferatu (1922), de F. W. Murnau.

(Escolhas feitas a partir da impressão forte deixada neste párvulo espectador. Faltam aqui nomes como Eisenstein, Polanski, Fellini, Ford, mas as maiores impressões foram as listadas.)

terça-feira, agosto 21, 2007

O essencial e o acessório

O grotesco episódio da destruição do milheiral em Silves tem sido alvo de múltiplos comentários na blogoesfera e na imprensa, produzindo reacções variadas. Agora que a poeira parece ter assentado, tentaria destacar os elementos fundamentais desta polémica.

1. É inadmissível que num Estado de direito a polícia pública não consiga impedir umas dezenas de energúmenos de praticar um crime à vista de todos. E de nada vale a insuportável verborreia jurídica do ministro da Administração Interna, justificando o injustificável. Os agentes que se encontravam no terreno tinham que proteger o milheiral e o seu proprietário, e deter os agressores. Sob pena de vivermos em total insegurança e à mercê de qualquer acto de vandalismo.

2. Seria humilhante para o Estado português se os criminosos não fossem levados à justiça. Eis uma questão fulcral que parece estar a ser negligenciada: o sentimento de resignação instalou-se entre nós e a ideia de que “já não há nada a fazer” é veiculada pelos agentes políticos. Isto é inaceitável: um Estado de direito não pode pactuar com a ideia de impunidade criminosa, ou seguir-se-á a subversão da ordem democrática.

3. O rescaldo político é pobre. O PP mostrou que continua a hibernar. O PS optou – como sempre desde que Sócrates chegou ao poder – pelo silêncio e o PCP achou piada, mas preferiu não se comprometer. O PSD criticou bem, mas devia ter sido mais incisivo, centrando o ataque na intervenção da polícia pública e não nos aspectos mais ou menos ocultos do patrocínio estatal da iniciativa. A malta do Bloco aplaudiu em surdina, com excepção do grande revolucionário Miguel Portas, que confessou ter ficado emocionado com o evento. Orgulha-me que este esclarecido bolchevista represente Portugal no Parlamento Europeu.

4. Impressiona a cobardia dos criminosos envolvidos. Sob a fachada de uma organização ambientalista – que está prestes a desaparecer misteriosamente – e de um evento de contornos pouco claros (como sempre convém a actos criminosos), este grupo de vândalos apregoa com desfaçatez a sua superioridade moral ao mesmo tempo que esconde os rostos atrás de máscaras e capuzes. A sua acção merece repúdio e provocou-me nojo, mas a sua cobardia dá-me pena. Este grupelho de anarquistas que pasta nos restaurantes do Bairro Alto e vegeta nas piscinas do Restelo não foi capaz de encarar nos olhos, com o rosto a descoberto, um velho agricultor do Alentejo. Mesmo a pouca dignidade que lhes resta está coberta de vergonha.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 56

A propósito do "acto de desobediência civil" (Miguel Portas dixit) dos Verde-Eufémia (não fui eu que inventei, eles tratam-se mesmo assim):

- Não seria a sanção mais adequada a uma tal violação do direito português o forçar dos "desobedientes", sob pena de prisão, à replantação com milho transgénico dos mesmos hectares destruídos ?

A propósito do mau começo de época do SLBenfica, e das poucas perspectivas de melhoria imediata:

- É só impressão minha ou isto suscita apenas um leve sentimento de déjà vu?

sexta-feira, agosto 17, 2007

Coisas que valem a pena, 15

Visitar o Museu Judaico, em Berlim. Uma experiência extraordinária.

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Duvidanças de uma mente curiosa, 55

A propósito de alguns gestos interessantes dos fumadores:

- Porque é que a generalidade dos fumadores segura o cigarro ao lado da cabeça, impedindo assim que o fumo invada as suas faces e se aproxime do nariz do vizinho do lado? Será o momento do descanso? (Louvor aos que fumam sempre com o cigarro em frente do nariz, em timidez ou em coragem.) E porque é que muitos fumadores atiram as suas beatas (muitas delas mal fumadas) pela janela do carro, considerando que hoje em dia não há carro sem cinzeiro? Será que até ao próprio fumador incomoda um cheiro de fumar-se?


- Aniversário?! Mas Elvis Presley já morreu? Não consta que o sujeito seja dotado de imortalidade encapotada?

A propósito deste filme visto ontem em dvd:


- Será possível que um filme com esta qualidade tenha realmente sido feito por Paul Verhoeven? Vi os extras, vi as fotos das filmagens, vi o making of, vi o genérico... E continuo a não conseguir acreditar.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Duvidança Especial (20)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

Duvidanças de uma mente curiosa, 54

A propósito do centenário do nascimento de Miguel Torga:

1) Se for função dos funcionários políticos da república o dedicarem horas do seu tempo na celebração de centenários de quaisquer indivíduos com actividade cultural, não terá de haver funcionários a tempo inteiro para tal função? É que com certeza todos os dias se celebrará o aniversário ou o centenário de um qualquer versejador de bairro, cançonetista de variedades, fadista de tasca, ou rabiscador de paredes...

2) Se não houver tal função cumprida em tempo inteiro, então os aniversários e centenários celebrados pelos funcionários políticos da república, com dinheiros comuns, não serão meros julgamentos de opinião cultural? Juízos acerca de quem merece ou não merece ser recordado pela nação independentemente de lhe ter passado qualquer cartolina, ou de sequer ter vivido os seus anos neste território...

3) Nem sempre houve ministérios ou secretarias de Estado em Portugal para a cultura. Como será então que se festejavam os centenários de nascimento e morte dos indivíduos preferidos pelas elites culturais?

4) Miguel Torga sempre foi para mim imagem de quem escrevia bem, mas sem tons de genialidade. O meu primeiro contacto com a sua imagem e com uma reprodução da sua voz foi atroz: cara de mau feitio e voz esganiçada como um rato, declamando poemas num jeito semi-teatral como se as palavras não tivessem valor por si se não entoadas ridiculamente. Duvidei desde esse dia: como se expressaria oralmente o valoroso Camões? Que escrevia como ninguém e conhecia o português como se fosse o próprio idioma incorporado, disso temos provas. Mas teria também voz de rato, carregaria os rrr's ao jeito francês ou setubalense, declamaria olhando para o céu com um embevecido olhar de parvo? Quem sabe?

segunda-feira, agosto 13, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 53

A propósito do 81º aniversário de Fidel Castro:

- Porque é que os estadistas com tendências tirânicas, quando não assassinados, morrem todos podres de velhos? Será que a tirania conserva quem a cultiva?

domingo, agosto 12, 2007

Mais uma volta, mais uma viagem


De volta às salsichas, à língua cerrada, às manhãs agrestes.

Onde está o sorriso Pepsodent?

O Porto perdeu a Supertaça para o Sporting. Creio que se tratou de um caso de “justiça poética”, para apaziguar o excesso de confiança e os tiques de arrogância de Jesualdo Ferreira, a quem o sucesso recente subiu à cabeça. A equipa de Paulo Bento foi a antítese deste espírito: segura na defesa, coesa no meio-campo, humilde na forma como aguardou pela oportunidade certa. Com um golo daqueles, qualquer taça ficaria bem entregue. Terá Jesualdo aprendido a lição?

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sexta-feira, agosto 10, 2007

Curtas

OS JORNALISTAS E O "CASO DA PEQUENA MADDIE". Para quando a dicionarização do termo “abutrismo”?

EU GOSTO DE BOLA, MAS O QUE É DEMAIS ENJOA. Até quando é que os telejornais vão continuar a dedicar vinte minutos em cada hora aos treinos dos clubes de futebol? Até quando é que vamos saber que “Izmailov sofre de uma luxação no gémeo da perna direita, mas talvez recupere a tempo de defrontar o Recreativo de Huelva”, “Óscar Cardozo treinou com os colegas de manhã, mas fez apenas corrida e exercícios específicos”, ou ainda que “Ricardo Quaresma esteve ausente na sessão matinal devido a assuntos pessoais, mas participou no treino da tarde, onde se destacou na marcação de pontapés de canto”? Ninguém na edição acha isto ridículo?

A FESTA DO POVO. Haverá sinal mais óbvio da natureza intrinsecamente popularucha da "Volta a Portugal" do que a prova ser liderada por um ciclista cuja alcunha é o “Expresso da Rebordosa”?

Se há "posts" de Verão...

... este é seguramente um dos melhores. O início é delicioso:

"Os bancos fazem agora venda ambulante. A ideia é enfiar cartões de crédito na carteira das pessoas. Os vendedores estão em qualquer lugar. No outro dia e ali junto ao Tejo, aproxima-se uma rapariga jovem com um sorriso que prometia. Depois de nos cumprimentar, a mim e a um amigo, começa a venda. Tratava-se de um cartão de crédito que, nas palavras dela, não é como os outros.

Antes de ouvirmos com atenção a ladainha do costume, não pudemos deixar de reparar nos avassaladores seios que a rapariga levava para a venda, visíveis, estou certo, da outra margem do rio. Umas mamas incontáveis, que eram desnecessariamente ajudadas por um artefacto engenhoso, disfarçado na roupa, que as empinava três torres Vasco da Gama acima do rio. A ver pelas glândulas, o plafond prometia.

Sobre a conversa, pouco há a dizer. Pose pirosa, tiques brejeiros e algum atrevimento. Falava connosco como falará com as amigas nos átrios dos centros comerciais ou nas saídas às docas. Um desplante. Queria tanto vender que concordava sempre connosco, até quando lhe disse que não gostava de bancos nem com molho de tomate. “Eu também não” – disse ela, como se fosse capaz de distinguir um banco de uma cabine telefónica. "

Visitem o Lóbi do Chá e leiam o resto, que vale a pena.

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quarta-feira, agosto 08, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 52

A propósito de noticiários televisivos:

- Porque é que os jornalistas dos noticiários televisivos das 20 horas passam tempos e tempos falando entre si? Não tiveram tempo durante o dia para conversar sobre temas vários? Têm mesmo de pôr a conversa em dia na hora do noticiário? Chegou-se ao ponto de as notícias se transformarem em jornalistas entrevistando jornalistas sobre matérias que não jornalismo. Faz lembrar aqueles trabalhos de grupo no liceu em que um fazia de entrevistador e outro de entrevistado para apresentar um mesmo trabalho...

A propósito das férias:

- Porque é que os cronistas da imprensa têm férias das suas actividades de cronistas? Que eu saiba "cronista" não é propriamente profissão. Merece férias? Não pode o indivíduo que publica um textozinho semanal escrever logo quatro ou cinco antes de ir de férias, não empobrecendo assim a publicação? No fundo, a duvidança é jurídica em teor: se o cronista parece mais um prestador de serviços e menos um trabalhador por conta de outrem, porque diabo se lhe aplicam termos dos contratos de trabalho?

A propósito do caso Maddie:

- Onde estão o Gil Grissom e o Horatio Crane quando são precisos?

o belo e o sublime, 17

Camaleão de Jackson, Quénia

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terça-feira, agosto 07, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 51

A propósito do termo silly season:

- Porque é que muitos insistem em sublinhar que a parvoíce que passa nas TVs, na política, no desporto, na cultura, é típica da época estival em que nos encontramos? Quem se refere a estes tempos de Verão e de férias para muitos como silly season onde anda no resto do ano?: é que a parvoíce não é cíclica, é sim uma característica natural do ser português...

A propósito deste blogue, chamado Abrupto:

- Foi o blogue que me introduziu neste mundo estranho da blogosfera, foi a ele que recorri quando quis saber o que diabo era um blogue. Entretanto perdi o hábito de ir lá espreitar. Hoje fi-lo. E é impressão minha ou, se não fosse "escrito" por uma pessoa que aparece muito na TV e que escreveu uns livritos sobre uma personagem política portuguesa muito famosa do século transacto, ninguém visitaria aquilo? Só vi banalidades e fotografias de telemóvel... Ou estarei a ser demasiado abrupto?

Os gladiadores

Os candidatos à liderança do PSD bem apregoam que pretendem “discutir ideias”, “projectos”, “políticas para o país”. Claro que tudo não passa de um processo de intenções (e se calhar nem isso). Assistimos diariamente a azedas trocas de palavras, insinuações rasteiras e ataques pessoais, sempre em torno de questões comezinhas como os “estatutos”, as “quotas”, o “diz que disse” e as dispensáveis apreciações de carácter. Cada vez mais, o PSD transmite ao país uma imagem de verdadeira putrefacção, qual partido em processo de implosão. E se o estilo trauliteiro de Menezes é abjecto, a absoluta inépcia política e conceptual de Marques Mendes é confrangedora. O embate entre ambos pode agradar ao público adepto do Wrestling, mas servirá apenas para afastar ainda mais os eleitores dos social-democratas.

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Tomada de assalto

Marcos Perestrello, número quatro da lista do PS nas eleições de Lisboa, foi escolhido para Vice-Presidente da Câmara Municipal. O ex-deputado, eleito pelo círculo de Beja para a Assembleia da República, torna-se assim o braço-direito de António Costa. Parece-me bem. Já temos um Presidente que vive em Sintra. Um dos líderes da oposição ao executivo era vereador em Setúbal. E agora o vice-Presidente vem de Beja. Ainda dizem que Lisboa não é uma cidade cosmopolita.

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segunda-feira, agosto 06, 2007

"Mamã, como é um israelita?"

O ódio nasce, acima de tudo, da ignorância. É a incompreensão do outro que gera a dificuldade de o olhar como ser humano. E é o desconhecimento desse outro que torna tolerável a violência. Uma das grandes causas do conflito israelo-árabe deve-se a esta ignorância e estranheza mútuas, que impossibilita um debate racional, humanizado, recíproco. Disto nos fala um excelente texto de Mahmoud Al-Moukhtar, publicado no jornal libanês An-Nahar, e integrado na edição portuguesa do Courrier Internacional (p.21). Alguns excertos:

"Quando era pequeno, imaginava Israel como uma criança desumana, inferior aos homens, mas todo-poderosa, algo de que se devia ter medo como de uma sanguessuga que se apodera dos corpos e das mentes. [...] E o mesmo se passava com a maioria das crianças libanesas e árabes. Ninguém tentava fazer-nos mudar de ideia. Era impossível imaginar que os israelitas podiam ter uma vida normal para lá das guerras e da violência. [...] Para a maioria das pessoas, o simples facto de exprimir estas coisas faz de mim um traidor [...]. Estas acusações de traição destinam-se a combater uma ideia, a ideia de que são possíveis outras imagens para imaginar os israelitas. [...]"

"Enquanto conduzia ao longo da fronteira, apercebi-me da presença de um israelita do outro lado do arame farpado. Estava a fazer o seu «jogging», de fato-de-treino, com a toalha enrolada à volta do pescoço, transpirando a bom transpirar... exactamente como os libaneses que correm sobre a escarpa em Beiture. Uma voz interior dizia-me que devia desconfiar dele. E se fosse um soldado à paisana a vigiar a fronteira? Ao mesmo tempo, sabia que ele tinha tanta razão como eu para ficar preocupado. Podia pensar que eu era um daqueles milicianos que tanto assustam os israelitas. Nada lhe permitia saber que eu não queria fazê-lo refém [...]"

"No caminho de regresso à minha aldeia, perscrutava a estrada. Temia estar a ser seguido por um elemento das forças da ordem ou do Hezbollah, que ia interrogar-me sobre aquele que foi o primeiro e provavelmente último contacto com um israelita. Tinha feito tudo para o odiar. Mobilizara todos os meus sentimentos patrióticos e todas as minhas recordações de atrocidades contra [...] todos os árabes unidos. E, no entanto, provavelmente não mentiria se dissesse que era um bom tipo, em suma um homem como eu. Simplesmente, havia arame farpado e minas a separar-nos. E o medo do outro e daqueles que se erguem por trás de nós."

Gosto deste puto

domingo, agosto 05, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 50

A propósito de matérias várias:

1) Porque é que o habitual "cantinho do hooligan", de Francisco José Viegas, insiste em fazer o que fazem todos os outros adeptos do FCPorto, que é só falar de um outro clube que veste de vermelho e cor-de-rosa?

2) Ele é manifestações convocadas por sms, ele é baixo-assinado, ele é indignação transparecida via blogues... Mas porque diabo é que se dá tanta importância a este caso Dalila Rodrigues? Uma coisa é coarctar o direito de opinião do funcionário (justo cavalo de batalha aqui do meu Masterblogger), outra é um subalterno achando que pode ditar as ordens do seu superior hierárquico... E se a discordância de uma face a outra era assim tão grande, porque não fazer o que fez o anterior director da Biblioteca Nacional, demitindo-se? Ademais, que me interessa a pessoa que esteja à frente do museu, desde que ela apresente bons resultados?

3) É impressão minha ou, para além de Vasco Pulido Valente (Público) e António Lobo Antunes (Visão), as melhores crónicas da imprensa portuguesa saem no DN aos sábados e, pasme-se, são escritas por um padre?: Anselmo Borges é o nome.

4) O ciclismo hoje em dia mais vai parecendo uma variação dos Centros de Apoio à Toxicodependência, desta vez como Centros Ambulantes de Apoio e Vigilância à Toxicodependência... Rara é a prova mediática que não apresente casos de doping. Mas porque será que exigir que desportistas pedalem 4 a 5 horas diárias, todos os dias, em provas com 3 a 4 etapas de montanha de 1ª categoria, não seja considerado um incentivo ao doping? É que, pelo menos até à última vez que vi, os ciclistas ainda eram gente humana...

5) Na fórmula 1, após a polémica discussão entre Felipe Massa e Fernando Alonso, e após as suspeitas e boatos de espionagem de uma equipa a outra, eis que volta a haver escândalo através do atraso forçado nas boxes a que Alonso forçou o seu companheiro de equipa, Hamilton. Mas porque diabo é que, precisamente agora que a F1 se tornou numa discussão entre comadres, não está lá um português para passar por cima daquilo tudo?

sábado, agosto 04, 2007

Tentação irresistível

O PS de José Sócrates pode ter adoptado todos os princípios da Esquerda Moderna: a preferência pelo "estilo Armani", o gosto pelas apresentações em Powerpoint e pela entrega de relatórios em "pens", o desejos de adornar as salas de aula com décors futuristas, até o empenho para colocar os ministérios em realidades virtuais – como o "Second Life". Mas a par de toda esta modernidade, o Partido Socialista continua a conservar um dos seus mais antigos e enraizados costumes: um apetite voraz pelo centralismo, pelo controlo, pela superintendência, pelo domínio absoluto de toda a máquina administrativa do Estado.

Se há algo em comum aos episódios do processo movido pela DREN contra o Professor Charrua, do afastamento de uma delegada de saúde em Vieira do Minho, da queixa-crime contra o blogue Do Portugal Profundo, e das recentes “dispensas” de Pinamonti do São Carlos e de Dalila Rodrigues do MNAA, é justamente esta tendência para estender os tentáculos do poder desde as altas cúpulas dos institutos do Estado ao mais insignificante departamento público, numa espécie de policiamento político pouco condigno com as boas práticas democráticas.

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sexta-feira, agosto 03, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 49

A propósito do grito:

- Porque é que há ainda vários operários de entretenimento que confundem uma boa voz de canto com gritos? Dulce Pontes, Mariza...

- Porque é que há pessoas completamente incapazes do oposto do grito, o sussurro? Mesmo que se lhes peça ou se lhes ensine, não conseguem não gritar: o meu pai sempre que comunica pelo telefone, ou o meu vizinho de baixo em todas as circunstâncias da sua vida...

- Porque é que há pessoas que apenas conseguem desempenhar um papel público em actividade cívica gritando? Valentim Loureiro, a malta do Bloco passeando pela rua, os CGTP's...

- Um bom uso das cordas vocais é uma rara e difícil virtude, e o recurso ao grito tanto pode ser um exercício de violência como uma exortação da felicidade. De qualquer das maneiras, a relevância do seu ocorrer depende sempre de uma receptividade auditiva, o que significa que o grito é uma daquelas coisas tão dependentemente determinadas que só se cumprem na sua essência na presença de um outro, a audição. Logo, não seria da maior utilidade ao gritante respeitar ao máximo o auditivo?: é que a valoração de um é proporcional à valoração do outro. Porque é que então quem mais grita tende a não conseguir ouvir? Não é a agressão ao ouvido do outro um atentado à audição como um todo? Ou, refraseando António Castro, "não deve à audição, o que grita, obediência"?

- Não é estranho que uma mesma elevada intensidade de voz inarticulando palavras consiga exprimir disposições sentimentais tais díspares como o desespero ou o êxtase? E serei eu o único por vezes a querer também ir à janela, tal Peter Finch no filme Network, gritar "I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!"? Ou, tal Tobey Maguire no filme Spiderman, quando a personagem pende velozmente entre os prédios, gritar no meio da rua "yuppiiiiii"? Ou, tal como as personagens no início do filme Amélie, gritar que nem um doido no momento do orgasmo?

quinta-feira, agosto 02, 2007

Coisas que valem a pena, 14

Acompanhadas por um bom vinho branco, numa esplanada junto ao mar. Que pitéu!

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