segunda-feira, outubro 16, 2006

Modere-se a indignação

Como se vê com as taxas moderadoras da saúde, os portugueses reagem mal quando lhes ameaçam os privilégios. De um modo geral, confundimos direitos com regalias e gostamos pouco ou nada de sacrifícios. A indignação, pelo contrário, é uma paixão ferozmente acarinhada.

Por vezes, a luta pela manutenção dos direitos adquiridos origina realidades caricatas. O Jornal de Notícias escrevia há dias sobre uma greve de carteiros: "Na origem da paralisação estava o protesto contra os novos horários que retiravam aos 72 trabalhadores o subsídio de 'transtorno' (pelo início da laboração antes das 6 horas) e do pequeno-almoço". Sindicatos exigindo piores condições de trabalho - eis um paradoxo que se julgava impossível.

Se a administração dos CTT recuou, mantendo os carteiros transtornados como é seu desejo, já o ministro Correia de Campos está inabalável no objectivo de taxar internamentos e cirurgias no serviço público. Aqui explico-me: a saúde barata é um direito, a saúde de borla é uma regalia. Em nome de outros que nada têm, devemos percebê-lo quanto antes.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo com o aparente absurdo de algumas reivindicações associadas a direitos adquiridos. No entanto, não nos podemos esquecer que esses direitos foram, bastas vezes, contrapartidas a menores ordenados, propostas por quem agora utiliza esse aparente absurdo para ridicularizar os intervenientes.
O caminho é no sentido de mais direitos para todos e não da redução e gestão dos direitos de alguns em nome da pretensa defesa dos direitos de outros.

17/10/06 11:28  
Blogger sofia said...

infelizmente o sentido é de menos direitos e mais obrigações.
e acho que não há volta a dar-lhe.
não vamos conseguir manter todos os direitos adquiridos ou não.
"não podemos ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo" como diz aquela expressão inglesa um pouco estúpida.

17/10/06 16:29  
Blogger sofia said...

infelizmente o sentido é de menos direitos e mais obrigações.
e acho que não há volta a dar-lhe.
não vamos conseguir manter todos os direitos adquiridos ou não.
"não podemos ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo" como diz aquela expressão inglesa um pouco estúpida.

17/10/06 16:39  
Anonymous Anónimo said...

Têm os dois razão. Por um lado, os "direitos adquiridos" não são compatíveis com o nível económico do país e conduzirão ao abismo (i.e., à inexistência de quaisquer direitos) se nada for alterado.

Por outro, custa a aceitar que seja cobrado ao doente uma taxa resultante de uma prescrição médica sem a qual o tratamento é impossível. Isto é, cobra-se efectivamente pelo "estar doente" e não pela prestação de um serviço.
Imaginem que cortam um dedo e o médico recomenda cirurgia e um internamento de vinte dias. 100 euros. E qual é a alternativa? Dizer que não estão interessados? O problema é esse: a cirurgia e o internamento são decisões médicas autorizadas pelo doente, mas não requisitadas pelo mesmo.

Não me custaria nada pagar taxas moderadoras mais elevadas pela consulta propriamente dita (a que eu escolho ir), mas num internamento e cirurgia acho errado.

17/10/06 22:52  

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