domingo, março 30, 2008

O seu a seu dono

Confesso que me enervam a sobranceria demonstrada, o umbiguismo dentro e fora do campo, aquele ar de "vocês sem mim não existem". Mas o que este rapaz anda a jogar pelo seu clube, e o golo que marcou este fim-de-semana, são coisas de um outro mundo. Para quem quiser, v. o referido golo aqui.

sábado, março 29, 2008

Do meu baú, 3

Na cúpula do Reichstag, em Berlim.

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sexta-feira, março 28, 2008

Paradoxos dos partidos comunistas


O paradoxo maior é simples: como jogar um jogo com o objectivo não de o ganhar mas de o destruir? Ou melhor: cumprir as regras subvertendo-as, ou subverter as regras cumprindo-as.
O exemplo mais evidente é o dos direitos humanos. Hoje em dia parece que os partidos comunistas ou de tendência próxima são afinal os arautos maiores dos direitos humanos no mundo, e quando não dos direitos humanos, pelo menos dos direitos dos trabalhadores (expressão que invade hostilmente os nossos ouvidos todos os dias nos noticiários).
Ora não é curioso que o comunismo tenha nascido (e não consta que evoluísse neste aspecto) na negação da tradição conferindo realidade natural aos direitos subjectivos? O próprio Marx di-lo com todas as letras, no seu Para a Questão Judaica:
«[...] os chamados direitos do homem [...] não são outra coisa senão os direitos do membro da sociedade civil [burguesa] i.e. do homem egoísta, do homem separado do homem e da comunidade. [...] Trata-se da liberdade do homem como mónada isolada, virada para si própria.», trad. José Barata-Moura, Ed. Avante, p. 85.
A realidade material da liberdade surge com a superação da classe operária na transformação de uma sociedade sem classes. É aí que as massas se unificam na presença do homem virado para outro, num tecido de relações materiais. O direito subjectivo separa e põe o homem contemplando-se na casca de si mesmo.
Logo, quando há alguns (felizmente poucos) Estados tentando aplicar comunismo (pelo menos político), obviamente coarctam os direitos humanos, porque os vêem de base como "coisa má". Os partidos comunistas do Ocidente (como o nosso baço PCP) vêem-se então no dilema: como defender os que defendem o mesmo que nós sem divinizar os direitos humanos burgueses?, como defender os direitos humanos burgueses sem diabolizar os que defendem o mesmo que nós?

A consciência dos limites

Segundo noticia aqui o jornal desportivo Record, parece que corre um certo mal-estar junto da selecção portuguesa de futebol com o anúncio dos prémios aos jogadores no próximo campeonato da Europa. A vitória valerá a cada jogador 300 mil euros de prémio. O valor dos pagamentos diários é contudo para ser dividido em partes iguais por toda a equipa, técnicos e funcionários inclusive, fazendo com que cada jogador ganhe menos 200 euros médios por dia por ter de partilhá-los com os restantes participantes.

Ora sucede que dois dos jogadores se manifestaram desagradados com a repartição, o que obviamente não caiu bem junto dos restantes colegas, especialmente dos que não são atletas.

Logo o site do jornal Record se viu inundado por comentários de indignação: "que vergonha, estarem a reclamar por 200 euros, quando há muitos portugueses que mal ganham isso", "quando deviam ser eles a pagar 200 euros pela honra de vestirem aquela camisola", etc.

Não partilho porém destas críticas. É que me parece que esses tais dois jogadores são os mais inteligentes, os únicos com a consciência íntima de que Portugal irá ganhar coisa nenhuma no "Euro". Logo, saquemos o mais que pudermos pelos poucos dias que lá passaremos...

quarta-feira, março 26, 2008

Só uma perguntinha

Não há pachorra

O pior em toda esta história da violência nas escolas é ter de ouvir os comentadores de extrema-esquerda culparem os professores pela sua "falta de vocação", "incapacidade para lidarem com os adolescentes" ou "inaptidão para resolverem os conflitos".

terça-feira, março 25, 2008

Um dia terei também uma tamanha auto-confiança!

«Estou seguro que nos sete ou oito últimos livros que fiz não há uma única frase mal escrita [...].», António Lobo Antunes, na revista Visão.

Coisas que fazem rir, 21

Mais um exemplo da inigualável subtileza lusitana.

segunda-feira, março 24, 2008

Voltando à futilidade do futebol (II)

Tozé Marreco, da equipa holandesa Zwolle, conseguiu a sua primeira convocação para a selecção nacional de sub-21, conforme aqui noticia A Bola.

Voltando à futilidade do futebol


Nem eu me sentiria bem se não louvasse o feito da equipa de futebol deste clube.

sábado, março 22, 2008

Por que gosto d' A paixão do Cristo

Pareço ser a única pessoa de todas aquelas poucas que conheço a gostar imenso deste filme. A desnecessidade da violência empregada e o facto de contar uma história que toda a gente já sabe constituem comummente os critérios apontados pelo bom-gosto para a sua rejeição.

Da minha perspectiva, nem interessam muito para discussão a fotografia excepcional do filme, a espantosa direcção artística, a excelente interpretação de Jim Caviezel, a óptima banda sonora, a apreciável maquilhagem, a extraordinária coragem do realizador no emprego de línguas mortas.

Há várias maneiras de interpretar o filme: enquanto retratando a narrativa bíblica da condenação e morte do Cristo, caso em que é um filme religioso; enquanto retratando a narrativa cristã de como a morte do homem Jesus levou à sua consideração religiosa de Cristo, caso em que é um filme quasi-documental; enquanto retratando simplesmente a narrativa de um sujeito qualquer torturado até à morte, caso em que é um filme gore; etc..

Gosto de estender a minha interpretação para lá disto. A violência acaba por ser importante, porque é ela que me diz que o que está ali em narração não é apenas a história do Cristo, mas uma história de tortura e morte por condenação injusta (o filme começa no Jardim das Oliveiras, termina com a ressurreição, e nunca chegamos bem a perceber o porquê de tudo aquilo). O filme pode ser visto pelo olhar do cristão, ou daquele que pretende olhar para o olhar do cristão, mas também pode ser visto pelo olhar daquele que vê naquele homem o símbolo do condenado injustamente.

Entendo o filme como um hino aos milhões que ao longo da história foram torturados e mortos por razões injustas e estapafúrdias, a maioria sem inscrição na memória da sua existência e dos seus padecimentos. E a cena final, que um cristão vê como a ressurreição do Cristo, vejo-a como que o grito dirigido a esses milhões: não sabemos o vosso nome, quem foram nem por que padeceram, mas reconhecemos hoje em vós o valor da vida e da dignidade que vos foram tiradas: a valorização da justiça e a presentificação em eminência da vida é a homenagem pela qual vos fazemos ressuscitar.

É sobretudo na extrema violência daquele Cristo do filme que o consigo ver mais como Filho do Homem...

sexta-feira, março 21, 2008

Agenda

Até segunda-feira estou em retiro espiritual.

quinta-feira, março 20, 2008

A paixão do Cristo

O melhor que a Páscoa tem tido para me oferecer nestes últimos anos é afinal a oportunidade de rever este filme. Quer consiga revê-lo ou não, já é de agradecer a oportunidade.

Amanhã, na SIC. Depois da meia-noite, claro.

Sou rico: tenho a melhor bolsa do mundo

Parece que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia encomendou um estudo à Deloitte & Touche na avaliação das bolsas de doutoramento, segundo aqui noticia o DN.

Ansiosa por mostrar serviço, a empresa de consultoria demonstrou que cada doutorando recebe da FCT em Portugal 15 448 euros anuais, e 34 800 se desenvolver o doutoramento no estrangeiro. A FCT, claro, agradeceu o favor.

Convém no entanto esquecer o facto desses 15 448 incluírem o pagamento de uma propina à universidade que acolhe o doutorando, pelo que o dito investigador só vê pouco mais que dois terços desse valor.

Convém também esquecer o facto de a FCT pagar mais dinheiro a quem decide emigrar e produzir riqueza noutro país.

E convém ainda esquecer que há quase oito anos que o valor das bolsas não é actualizado nem em 1 cêntimo, o que significa afinal que o valor da bolsa decresce a cada ano que passa. Estranha forma de investir!

Mas é verdade que não temos razões de queixa, caros colegas bolseiros: como bem disse o presidente da FCT no ano passado, «os bolseiros não se podem queixar, porque fazem aquilo que gostam.» Estranha maneira, contudo, que o dito senhor teve de afirmar que ganha bem mais que nós com a consolação de que é um desgraçado sentimental na sua profissão...

quarta-feira, março 19, 2008

Duvidanças de uma mente curiosa, 78

Há duas coisas em especial que não consigo perceber nesta história da violência no Tibete:

1) A China, para não variar e talvez só para fazer jus à ilusória imagem de comunista que tem de si mesma, voltou a fazer remontar ao Dalai Lama a origem da violência agora ocorrida. Mas será que a China crê mesmo que o resto do mundo é capaz de acreditar que o Dalai Lama é que anda a incitar as pessoas à violência? Parece que a China é já um mundo dentro de um mundo, e talvez pretenda ser um mundo isolado: pelo menos vai andando na direcção certa, pois parece viver já num mundo imaginário...

2) O Dalai Lama, em conferência de imprensa, ameaçou resignar caso a situação não melhore. Resignar? Mas ser Dalai Lama não acarreta ser em simultâneo líder espiritual e líder político? Ademais, este Dalai Lama é já o XIVº, o que para um budista significa que é a mesma alma reencarnada pelo menos 14 vezes: como se pode resignar de algo que já se era antes de se ser? Ou por outras palavras, como se escreve a carta de demissão da santidade?

terça-feira, março 18, 2008

Eu também gosto de ti (I)

"O senhor Jean Wahl está a estudar Hegel há já dez anos? Pode dar-se por satisfeito se encontrou motivos suficientes para poder afirmar, com absoluta segurança, que nada percebe do que ele diz". [Um comentário do ensaísta Emmanuel Berl sobre o filósofo francês Jean Wahl.]

segunda-feira, março 17, 2008

Nada a declarar

Portugal tem uma política externa? Uma orientação ideológica ou estratégica sobre o que se passa no mundo? Algo que esteja para além da organização de cimeiras inócuas, distribuição de croquetes no Museu dos Coches e a instalação de tendas e outros abrigos para receber líderes exóticos?

Creio sinceramente que não. Ou melhor, tem uma política externa que se caracteriza precisamente por não existir. Os países europeus estão a discutir e aprovar o Tratado de Lisboa? Nós vamos aguardar mais um bocado. O Kosovo declara a independência? O Governo acha bem-talvez-não. Chávez ameaça meia América Latina? Anunciamos que não temos nada para anunciar. A comunidade internacional indigna-se com a repressão no Tibete? O Primeiro-Ministro deve estar a fazer jogging ou a tomar o seu duplo café matinal. Prevê-se uma tomada de posição lá para o Natal.

domingo, março 16, 2008

Notas sobre "No Country For Old Men"


1) Retiro o que disse a semana passada a propósito de os realizadores americanos não saberem filmar sem sobrepôr ruído pretensamente musical. Os Coen sabem-no, e bem. P. T. Anderson devia aprender neste filme como filmar deserto...
2) Javier Bardem mostra o que espectadores atentos dele já sabiam: que é o melhor actor europeu de cinema na actualidade.
3) O interveniente Anton Chigurh leva-me a querer separar, contra Thomas Hobbes, o que seja representação e personificação. Tamanha banalização do mal e "animalificação" do outro é apenas um "tornar-se presente nele" e não um "estar na máscara dele", um "estar em pessoa".
4) Extraordinária a primeira meia-hora do filme. E que dizer da síntese de tensão emocional da cena na bomba de gasolina?
5) O filme, no monólogo inicial e a partir da última meia hora, acompanha a perspectiva de um idoso xerife no sentimento de inadequação e desconforto perante um mundo com tanta violência e mal constante. No fundo, se o romance não tivesse sido escrito por um americano, chamar-se-ia com propriedade "No World For Old Men": mas como o norte-americano vê o mundo condensado nos EUA, assim se compreende o título (estranhamente, parte do filme decorre até em território mexicano).
6) Tive a experiência completa com a "moral" do filme no seu visionamento. Ao meu lado na sala, um casal de idosos via o filme com um misto ar de espanto (soltando onomatopeias como "aaaaahhhh!", "eeehhhh!"), de indignação ("ttchhhhh!"), e de horror ("ai credo!"), para não falar na constância de comentários inúteis ("o que é aquilo?", "ah, é um chip!", "um quê?!", "um chip."). Senti afinal que talvez fosse um filme demasiado sobre este mundo para ser adequado a gente de um mundo outro. No fundo, a minha experiência demonstrou que No No Country For Old Men For Old Men...

sexta-feira, março 14, 2008

Eleições americanas: ponto da situação

Mãos na calculadora. As mais recentes votações não alteraram as contas entre os Democratas. Hillary recuperou delegados no Ohio, Texas (Primária) e Rhode Island, mas as vitórias folgadas de Obama no Vermont, Wyoming e Mississippi, além do êxito no Texas (Caucus), anularam essas conquistas. Por outro lado, Obama garantiu novos apoios entre os superdelegados, conseguindo até mesmo estender ligeiramente a sua vantagem. Resultados actuais: Obama lidera nos delegados conquistados (1404-1243), e na contagem total (1611-1480), já incluindo os superdelegados (dados CNN).

Sendo necessários 2025 delegados para vencer as Primárias, e estando apenas em jogo cerca de 550 nas eleições restantes, torna-se claro que nenhum dos candidatos tem hipóteses reais de garantir a nomeação exclusivamente através do processo eleitoral. Por outras palavras, Obama e Hillary necessitam do apoio de uma parte significativa dos superdelegados ainda indecisos (cerca de 300) para triunfarem na Convenção Democrata.

O que se segue? Apesar disso, as eleições restantes têm grande importância, pois definem a distância final entre os candidatos e podem esclarecer quão legítima seria a sua nomeação. Este último dado é crucial para Hillary. Sendo quase impossível ultrapassar Obama no número de delegados, Hillary precisa de obter resultados notáveis nas próximas votações para assim convencer os superdelegados de que ela é a candidata mais forte, apesar de ter conquistado menos delegados.

Dia 22 de Abril há eleições na Pensilvânia, onde Hillary é a grande favorita. Mas Obama poderá compensar com um triunfo claro na Carolina do Norte, duas semanas depois. E até Junho, a corrida deve manter-se equilibrada: Hillary poderá vencer Kentucky, Virgínia Ocidental e Porto Rico; Obama é favorito no Oregon, Montana e Dakota do Sul.

As pedras no sapato. As anormalidades verificadas na Florida e no Michigan apimentam estas eleições históricas. Os dois Estados quebraram as regras do Partido, anteciparam as suas votações para Janeiro e foram punidos com a exclusão dos seus delegados. Contudo, Hillary – que obteve vitórias esmagadoras nas duas votações – exige agora que os resultados devem ser considerados, o que lhe permitiria reduzir drasticamente a sua desvantagem para Obama.

Seria uma manobra politicamente inaceitável: não houve campanha na Florida e Obama nem sequer constava do boletim de voto no Michigan. Hillary pretende no entanto pressionar o Partido para que organize uma nova votação, esperando obter vitórias folgadas nestes Estados muito populosos. Mas Obama opõe-se, considerando que seria injusto alterar as regras a meio do jogo. Para já, todas as hipóteses se mantêm em cima da mesa.

A “agenda Clinton”. Como se prevê uma divisão dos restantes delegados, a estratégia de Clinton passa por objectivos colaterais ao aspecto puramente matemático da corrida. Um deles consiste em procurar desgastar o seu adversário, convencendo os superdelegados que ela é a mais capaz para ocupar a Presidência. Os recentes ataques a Obama incluem-se nesta lista, tal como as suas insistentes referências aos triunfos nos “grandes Estados” – por oposição às vitórias supostamente menos relevantes de Obama no Sul e no Oeste.

Um outro objectivo essencial é vencer na contagem do voto popular. Hillary perderia em delegados, mas ganharia em número total de votos. A desvantagem actual cifra-se em 500 mil votos, pelo que uma vitória esmagadora na Pensilvânia poderia equilibrar as contas. E nesse momento, Hillary poderia apelar a uma espécie de “legitimidade moral” à nomeação, que actualmente parece pertencer a Obama.

A “agenda Obama”. Ao senador do Illinois importa sobreviver politicamente às próximas semanas, nas quais será alvo de ataques cerrados e onde o espera uma derrota pesada (Pensilvânia). Resta saber como tentará resistir: contra-atacando Clinton ou insistindo numa mensagem positiva e evitando polémicas? Por outro lado, Obama terá que cortejar os superdelegados, para se aproximar o mais possível do “número mágico” que lhe garanta a nomeação em Agosto.

Em todo o caso, a luta continua renhidíssima. O que dizem as casas de apostas? Os mercados electrónicos dão 75% de favoritismo a Obama. E a Ladbroks paga 3 para 2 em caso de vitória de Obama. Alguém quer arriscar um palpite?

quinta-feira, março 13, 2008

A (outra) frase da semana

«Século das Luzes deve ser o XX, por ter que ver com a tecnologia e a electricidade.»

(Ouvida hoje, no programa Quem quer ser milionário?, da RTP.)

A frase da semana

«Qualquerr dia as mulherres têm de se agarrarr às árrvorres, que já nã há homes.»

(Ouvida no burburinho da rua em Setúbal, lançada pela boca de uma qualquer transeunte.)

Do meu baú, 2

Uma tabuleta em Berlim. Em cima pode ler-se: "Lugares do medo, que nunca devemos esquecer". Segue-se uma lista de campos de concentração, onde morreram milhares de judeus.
À direita, o KaDeWe, o maior centro comercial da Alemanha.

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terça-feira, março 11, 2008

Curtas

ELEIÇÕES ESPANHOLAS. A cobertura jornalística nacional do acto eleitoral no país vizinho foi vergonhosa. Houve de tudo um pouco: análises precipitadas (falou-se de “vitória folgada” do PSOE e “derrota histórica do PP”); comunicação errada de resultados (dando conta de uma suposta descida de deputados do PP); incompreensão do sistema eleitoral espanhol (o Público afirmou que o PSOE, conquistando 171 lugares, teria maioria absoluta num parlamento constituído por 350 deputados). Lastimável.

UMA QUESTÃO DE PRIORIDADES. O PSD afunda-se numa crise interna sem precedentes. O Governo treme com uma manifestação de professores como nunca se viu. O mundo político agita-se com as eleições na Espanha, na França e nos EUA. Qual o tema do “Prós e Contras”? A monarquia e a república em Portugal. Um debate que, estou certo, terá prendido milhões de portugueses ao televisor.

AMÉRICA A VOTOS. Nesta terça-feira, há Primárias no Mississippi. Estão 33 delegados em disputa, num Estado onde a existência de uma forte comunidade afro-americana permite adivinhar um triunfo de Obama. O senador do Illinois é o favorito nas sondagens. A confirmarem-se estas previsões, e tendo em conta o êxito de sábado (venceu no Wyoming por 23 pontos de vantagem), Obama reforçará a sua liderança na corrida Democrata, refreando seguramente o ânimo de Hillary, em alta devido aos triunfos de 4 de Março.

O estado do PSD: Errata

Há cerca de dez meses atrás, escrevi um post sobre a possibilidade de Luís Filipe Menezes chefiar o PSD, acompanhado da seguinte imagem:

Tendo em conta os recentes acontecimentos, aproveito para pedir desculpa aos nossos leitores e actualizar a imagem que afinal se justificava:

segunda-feira, março 10, 2008

a arte da fuga, 24

Katherine Dreier, Abstract Portrait of Marcel Duchamp, 1918

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domingo, março 09, 2008

Duvidanças de uma mente curiosa, 77


A propósito do novo filme de Paul Thomas Anderson, There will be blood:
1) Porque é que Daniel Day-Lewis coxeia durante metade do filme, e se esquece de o fazer na outra metade?
2) Porque é que dá a sensação de, por vezes, vermos não Daniel Plainview, mas Bill 'The Butcher' Cutting?
3) Que diabo se passa afinal com os irmãos Paul-Eli Sunday? São gémeos, em que um serve de irmão-fantasma, ou é um mesmo sujeito com dupla personalidade? Terei de recorrer a Upton Sinclair para o perceber?
4) Porque é que os realizadores americanos, mesmo aqueles que já deram provas de serem bons, têm uma ânsia permanente de preenchimento do espaço, visual e sonoro? Seria mesmo necessário encher-nos os ouvidos de música infernal em cenas de isolamento passadas numa paisagem deserta?
5) Porque é que se cantam tantas loas a Daniel Day-Lewis, e ninguém liga pevide ao espantoso trabalho do jovem actor Paul Dano?
6) Seriam mesmo precisas quase três horas para nos tentar dizer que a ganância corrompe e exclui?
7) Extraordinária a primeira meia hora do filme. Mas porque é que teria de haver sangue, mesmo?

Doidos à solta

O ministro Augusto Santos Silva sobre as manifestações recentes: "[...] os manifestantes não sabem distinguir entre Salazar e os democratas [...] nem lutaram contra o fascismo. [...] A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira. [...] O clima político que algumas pessoas estão a tentar desenvolver em Portugal é um clima de intimidação, é um clima próprio da natureza anti-democrática dessas forças".

Só uma perguntinha: afinal, que pessoas é que estão a desenvolver um clima de intimidação em Portugal? As que se manifestam de forma ordeira e legítima nas ruas ou as que procuram por todos os meios desvalorizar e controlar essas manifestações?

sábado, março 08, 2008

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Não é comum haver em Portugal quem se aventure na publicação contínua de clássicos da filosofia política. Pois bem, o Círculo de Leitores fê-lo agora, sob coordenação de Diogo Pires Aurélio, e merece todo o louvor. A colecção tem muitas lacunas e parece resumir-se a clássicos de filosofia política de tamanho reduzido, com poucas páginas (nalguns casos não correspondendo às mais importantes obras dos autores, como em Burke), e recorrendo a algumas traduções que já não são novas. De qualquer das maneiras, a iniciativa promete, e pode até vir a ser the beginning of a beautiful friendship.

Eis a lista dos volumes a publicar, com a saída já do primeiro:

O Político, de Platão
Tradução, introdução e notas de Carmen Soares
Tratado da República, de Cícero
Tradução, introdução e notas de Francisco de Oliveira
O Príncipe, de Maquiavel
Tradução, introdução e notas de Diogo Pires Aurélio
Tratado Político, de Espinosa
Tradução, introdução e notas de Diogo Pires Aurélio
Testamento Político, de Richelieu
Tradução de Carlos Leone
Introdução de Diogo Pires Aurélio
O Contrato Social, de Rousseau
Tradução de Manuel João Pires
Introdução de João Lopes Alves
O Que É o Terceiro Estado?, de Sieyès
Precedido de «Ensaio sobre os Privilégios»
Tradução de «O Que É o Terceiro Estado?» de Teresa de Meneses
Introdução de José Gil
Tradução de «Ensaio sobre os Privilégios» de João Tiago Proença
Defesa da Sociedade Natural, de Burke
Tradução, introdução e notas de Pedro Santos Maia
Discursos à Nação Alemã, de Fichte
Tradução de Alexandre Franco de Sá
Introdução de Diogo Ferrer
18 de Brumário, de Marx
Tradução de José Barata Moura
Introdução de Eduardo Chitas

sexta-feira, março 07, 2008

Great Expectations


Está em fase de pré-produção o filme que finalmente emparceira os dois maiores comediantes nova-iorquinos dos últimos 60 anos.

Alvin e a Terceira Vaga de paradoxos

Em entrevista à revista Visão, Alvin Toffler anuncia que não acredita em nenhum dos candidatos presidenciais do seu país, mas anuncia que o seu voto vai para Obama.

Porquê? Justifica: «Ter um Presidente negro passa a mensagem de que os EUA ultrapassaram um certo ponto de desenvolvimento. [...] Se ganhar, podemos dizer com orgulho que já não somos uma nação racista. [...] Desprezo o racismo e isso leva-me a Obama, que é um símbolo de anti-racismo e da vitória do anti-racismo.»

Duvida-se: votar num determinado candidato por nenhuma outra razão senão a raça do dito não é uma modalidade específica de racismo?

quinta-feira, março 06, 2008

O dilema Obama/Clinton

Como dar ao país uma imagem de união se não consegue sequer unir o seu próprio partido?

Se o país se divide ao meio em republicanos e democratas, o candidato nomeado será primeira escolha apenas para um quarto do eleitorado nacional. No fundo, como abandonar-se enquanto segunda escolha e enquanto "mal menor" do seu próprio partido?

Os dilemas McCain

Como atacar os democratas sem defender de maneira expressa a administração Bush?

Como não dar uma imagem de "mal menor" para os mais conservadores republicanos?

E como não deixar alguns republicanos suspirando para que a constituição fosse um pouquinho diferente, e permitisse uma candidatura muito especial?:

quarta-feira, março 05, 2008

Hillary vence no Texas, mas...

No Texas registou-se uma das lutas mais equilibradas até ao momento. Hillary Clinton acabou por ganhar à tangente (3% de diferença). Os dados recolhidos não surpreendem: Obama obteve apoio junto dos negros, dos jovens e dos mais educados; Hillary consegue uma votação expressiva com os hispânicos e os mais velhos. Obama venceu nas áreas urbanas, mas Hillary arrasou nas zonas rurais. Contudo...

... o sistema de votação do Texas é incrivelmente complexo. Desde logo, divide-se em duas fases: a eleição primária (à qual me refiro acima) e o caucus. A primeira atribui 2/3 dos delegados; do caucus sai o restante 1/3. Mas a distribuição dos delegados é confusa, privilegiando distritos que votaram Democrata em eleições recentes e áreas mais populosas. Sabendo dos bons resultados de Obama nessas zonas e da sua previsível vitória no caucus, ficamos com um duplo cenário (quase paradoxal): Hillary vence o voto popular, mas Obama conquista mais delegados.

O que é mais importante? Os delegados, dirá Obama, pois são eles que escolhem o candidato na Convenção de Agosto. A vitória popular, retorquirá Hillary, pois é a expressão real da vontade dos eleitores e cria “momentum” para as votações posteriores. Podemos decretar um empate?

:: Amanhã escreverei sobre o ponto da situação, em jeito de resumo e de antevisão das próximas semanas.

Ao que certos amores obrigam...

São 5 e 36 da manhã e eu à espera dos resultados do Texas.

Hillary vence no Ohio

Não houve capitulação, pois. Obama diminuiu a desvantagem nas últimas semanas, mas Hillary recuperou de forma espectacular durante o fim-de-semana e obteve uma vitória confortável (54%-44%). A chave do triunfo esteve na sua capacidade em cativar novamente o eleitorado que lhe tem sido mais favorável desde o início das Primárias: os mais pobres, os menos educados, os mais velhos, as mulheres. Por outro lado, o apoio incondicional do popular Governador Ted Strickland poderá ter sido determinante. E pergunto-me se o famoso anúncio televisivo de tom apocalíptico não terá travado a recuperação de Obama...

O discurso de Hillary teve momentos altos e baixos. O ponto forte esteve nas frases iniciais, quando Hillary recordou a importância do Ohio nas eleições nacionais: desde 1960 quem vence o Estado vence também a Presidência. “As Ohio goes, so goes the nation”, exclamou. O seu êxito nesta noite seria assim um importante sinal quanto às suas hipóteses em Novembro. O ponto mais baixo residiu nos ataques que lançou sobre Obama (mais uma vez), uma insistência que enfraquece o seu adversário mas que, a longo-prazo, vai acabar também por desgastar o partido aos olhos dos eleitores nacionais. Hillary tem demasiadas virtudes para se limitar a menosprezar o seu opositor.

Primárias históricas

As votações de hoje confirmam que estamos perante recordes de afluência. Os principais responsáveis são Obama e Hillary, que transformaram esta disputa numa das mais renhidas e entusiasmantes das últimas décadas. Os números falam por si: no Texas votaram nas Primárias Democratas perto de 3 milhões de pessoas. Entre os Republicanos contaram-se cerca de 1 milhão de votos. E é bom recordar que o Texas é um Estado que vota à direita desde 1980 e no qual 60% dos eleitores inscritos são Republicanos.

Esta afluência – aliada a uma tempestade no Ohio – está a provocar atrasos significativos nas contagens. Na zona de Cleveland os boletins de voto esgotaram-se e um juiz prolongou a votação por mais algumas horas. No Texas há engarrafamentos à meia-noite para participar nos caucus. E a contagem nas zonas urbanas arrasta-se penosamente. Eu hoje até me queria deitar cedo, a sério que queria, mas está difícil.

Democratas: prenúncio de um impasse

Numa noite que se prevê longa, já há alguns dados definitivos – e estes espelham bem o tom geral em que esta disputa se transformou: vitória clara de Hillary em Rhode Island (59%-40%), contraposta pelo triunfo confortável de Obama no Vermont (60-38). São dois Estados pequenos, valendo o primeiro 21 delegados e o segundo 15. Contas feitas, os ganhos anulam-se. Todas as atenções se concentram pois no Ohio e no Texas, cuja fatia gorda de delegados (334 no total) poderá ajudar a clarificar as contas.

John McCain: o nomeado Republicano

Desde a sua vitória clara na Super Terça-Feira que McCain se tornara no favorito entre os Republicanos. Hoje, contudo, veio a confirmação matemática, depois de vitórias claríssimas no Vermont (72%), Rhode Island (65%), Ohio (60%) e Texas (51%). McCain pode agora concentrar esforços na campanha nacional, unir o partido e obter o apoio de figuras centrais entre os conservadores (o sector em que recolhe menos simpatia). É provável que ainda nesta quarta-feira McCain se desloque à Casa Branca, onde deve receber o apoio oficial de George W. Bush.

Mike Huckabee desistiu das Primárias, mas sai pela porta grande. Ganhou em oito Estados e foi o único que resistiu ao “furacão McCain”. Conquistou a preferência do eleitorado mais conservador e dos evangélicos – um segmento eleitoral fulcral do partido – e obteve resultados notáveis no Sul, onde os Republicanos são tradicionalmente fortes. Tudo isto com escassos recursos financeiros, um staff limitado e sem o apoio de figuras importantes do partido. Se recordarmos que Huckabee há apenas seis meses não tinha mais de 2% nas sondagens a nível nacional, podemos constatar como foi extraordinário e surpreendente o seu desempenho nestas Primárias.

Por isso mesmo o seu discurso de derrota foi optimista e transbordou entusiasmo. Huckabee recordou o seu sucesso entre os conservadores, mencionou a palavra “fé” pelo menos uma dezena de vezes e teceu rasgados elogios a McCain. Procura desse modo reforçar as suas hipóteses de ser escolhido para Vice-Presidente, e prepara, em simultâneo, uma eventual candidatura presidencial em 2012.

terça-feira, março 04, 2008

Curiosidades

Porque é que isto

tanto me tem feito lembrar disto?:

Duvidanças de uma mente curiosa, 76

Para desanuviar dos americanos, retoma-se a série de duvidanças idiotas:

1) Quando é que o programa da RTP A Liga dos Últimos terá o destaque que merece na televisão portuguesa? É uma mistura de Gato Fedorento com Vamos jogar no Totobola, só que bem melhor do que qualquer um destes dois. (Dispensando, é claro, a inadequada parvoíce dos dois apresentadores.)

2) Quando é que o Sporting disputará um jogo com o Benfica em que não ganhe e não se queixe do árbitro?

3) Quando é que o concurso Quem quer ser milionário? terá algum concorrente de jeito, que viva pelo menos neste mundo?

4) Por falar nesse concurso, porque é que se chama Quem quer ser milionário? se o prémio máximo é de 250 mil euros? Para se ser milionário não é preciso ter-se pelo menos um milhão de qualquer coisa? Ademais, 250 mil euros hoje em dia compram uma casa em Lisboa: serão todos os proprietários lisboetas milionários, então?

5) Porque é que, fora de casa, uma torrada é normalmente composta por duas fatias de pão?

6) É apenas impressão minha ou o novo presidente da Rússia, Medvedev, parece figurar uma espécie de cowboy euroasiático?

segunda-feira, março 03, 2008

Eleições americanas: adenda (II)

E para nos recordar que em política não há certezas, eis alguns dados de última hora que parecem contrariar a anunciada queda de Hillary Clinton... Quatro sondagens hoje divulgadas mostram uma ascensão súbita de Hillary no Ohio: a PPP dá-lhe 9 pontos de vantagem, a Suffolk 12 (!), a SurveyUSA 10 e a Rasmussen 6 (aqui). E no Texas, a Rasmussen mostra Obama apenas 1% à frente de Hillary, enquanto a WFAA/Belo Tracking revela existir um empate técnico (aqui). [Adenda às 19:15: a sondagem PPP para o Texas baralha ainda mais as contas: Hillary à frente por 6 pontos!].

Em todo o caso, como cerca de 20% dos eleitores decidem em quem votar nos três dias anteriores à eleição, todos estes dados são demasiado provisórios e incertos. O melhor é mesmo esperar pela noite de amanhã.

Eleições americanas: adenda

As sondagens são inconclusivas e é provável que os resultados sejam renhidos na próxima terça-feira. Mas julgo que Hillary está mesmo em dificuldades. As últimas sondagens no Texas continuam a dar vantagem a Obama, e uma das mais recentes (Reuters/Zogby) coloca o senador do Illinois 4% à frente da sua adversária. E no Ohio a sondagem Reuteurs/Zogby mostra Hillary apenas com um ponto de vantagem.

Por sua vez, Hillary parece empenhada em sabotar a sua própria candidatura. Tudo começou com a divulgação de uma imagem de Obama, envergando vestes tradicionais quenianas, que a campanha de Clinton alegadamente terá utilizado para questionar o patriotismo do seu adversário e reavivar o receio de que Barack Hussein Obama seja na verdade um muçulmano não-confesso.

Seguiu-se uma prestação medíocre num debate televisivo no Ohio, onde Clinton se queixou (é a palavra certa) de ser sempre a primeira a responder às perguntas, recorrendo mesmo a um sketch de um programa humorístico para sustentar as suas lamúrias (ver vídeo). É escusado dizer que o eleitorado não recebeu bem esta estratégia de vitimização.

Para terminar uma semana desastrada, a campanha de Hillary lançou um anúncio televisivo grotesco, baseado numa política de intimidação do eleitorado. O vídeo é esclarecedor: uma crise mundial aterroriza a América. As crianças podem estar em perigo caso um candidato sem experiência seja forçado a reagir; mas com Hillary na Casa Branca haveria uma Presidente sempre preparada para atender o “telefone vermelho” e solucionar o problema. Pergunto-me se esta estratégia agressiva – na qual Hillary se revela mais “bushista” que o próprio Bush – não poderá no fim de contas prejudicar ainda mais a sua campanha...

Do meu baú, 1

Casa das Culturas Mundiais, Berlim

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sábado, março 01, 2008

Anti-americano, eu? (II)

Mais uma análise profunda, idónea e racional sobre a América, desta vez por Inês Pedrosa, no “Expresso”:

Os EUA são Walt Disney por fora e Apocalipse Now por dentro. Esta mistura explosiva é controlada por uma linha epidérmica de música e néon: New York, New York, o brilho de Hollywood, «welcome to the cabaret» – e o espectáculo continua. De vez em quando, um adolescente louco enche de balas uma espingarda – estão por todo o lado, as balas – e mata metade do liceu. Mas o espectáculo continua, tapando esses dramas e tapando os caixões que vão chegando do Iraque.

Os americanos habituaram-se ao infinito da guerra [...] e desde que salvaram a Europa do nazismo acostumaram-se à ideia de serem os nadadores salvadores do mundo. Seja lá como for. Não pensam muito nisso – quando têm exorcismos a fazer, realizam filmes, catadupas de filmes, onde o horror se concentra em duas horas e os actores são bonitos e maravilhosos. Choram e vão para casa, consolados com a excelência dos actores.”

Portanto, em resumo: os americanos não têm preocupações reais e vivem num mundo de ilusões; gostam é de se matar uns aos outros; e, quando estão deprimidos, preferem ir ao cinema em vez de tomar Prozac. Nesta descrição adolescente só faltava mesmo recordar que todos os americanos são muito gordos, fanáticos por basebol e ouvem música country de manhã à noite.