sábado, agosto 30, 2008

Conhecer Sarah Palin [actualizado]

Pondo de lado as considerações estratégicas da escolha, proponho que olhemos para a pessoa por detrás da jogada. Quem é Sarah Palin, candidata Republicana a vice-presidente dos EUA? 44 anos, antiga jornalista, jogadora de Basquetebol e participante em concursos de beleza, era há apenas três anos Presidente de Câmara de uma vila com 6 mil habitantes. Governa o Alaska há menos de dois anos.

Vejamos agora os seus princípios: Palin advoga um modelo energético baseado no aumento da exploração petrolífera, em particular nas reservas ecológicas e naturais do Alaska, mesmo que à custa das regulamentações ambientais.

Palin é contra o aborto em todas as circunstâncias, incluindo incesto, violação, malformação do feto ou perigo de vida da mãe. Opõe-se ao casamento entre homossexuais e defende que estes não devem ser aceites no exército. A Governadora do Alaska defende ainda o direito de porte de armas sem restrições e é a favor de um código penal mais severo, que estenda a pena de porte a um maior número de crimes e Estados.

Palin confessou que pouco se interessa sobre política externa, afirmando que acompanha a guerra do Iraque pelas notícias, tendo apenas começado a reflectir sobre o assunto no Verão de 2007 (!). Sobre o cargo de vice-presidente disse não saber do que se tratava, preferindo ocupar um "cargo produtivo".

A jovem Governadora considera ainda que a teoria da evolução é uma fraude e que o creacionismo devia ser ensinado nas escolas, entendendo que a Bíblia pode ser considerada um documento científico. Palin apoiou também o fanático religioso Pat Buchanan nas primárias Republicanas em 1996 e 2000, aparentemente por considerar George Bush demasiado moderado.

Uma nota final: Palin está envolvida num escândalo político de corrupção e abuso de poder no Alaska, actualmente sobre investigação federal.

Tendo em conta o historial médico e a idade de McCain, a possibilidade de Palin ocupar a Casa Branca é grande. Olhando para o seu percurso político e ideologia eu ficaria um nadinha preocupado.

[Nas últimas horas foram esclarecidos alguns aspectos da história de Palin que não correspondem ao que escrevi inicialmente. Palin não apoiou oficialmente Buchanan - embora tenha participado em acções de campanha do mesmo; não se opõe ao aborto em caso de perigo de vida da mãe; e o escândalo que está envolvido não é o de corrupção, mas exclusivamente o de abuso de poder - demitiu um comissário da polícia alegadamente porque este se recusou a demitir um soldado estadual, o antigo cunhado de Palin que luta pela custódia de um filho da sua irmã . Muda pouca coisa, mas pelas imprecisões, fica o meu pedido de desculpas.].

CONSERVATIVE


But not too much...

sexta-feira, agosto 29, 2008

Está na altura de eu apostar no Euromilhões

The 'show business' convention is over!

Só faltaram mesmo os Fleetwood Mac, como da outra vez...

quinta-feira, agosto 28, 2008

América a votos

Duas ideiazinhas (pouco ortodoxas) que me ocupam a mente desde há alguns dias:

1. McCain é bem capaz de anunciar o candidato a vice-presidente nesta quinta-feira à tarde, ofuscando parcialmente o discurso de Obama na Convenção Democrata. Ou melhor ainda, palpita-me que o staff da sua campanha comunicará aos media que esse anúncio poderá ser feito durante a quinta-feira, mesmo sabendo que isso seria encarado como uma provocação reprovável (nada como um excelente bluff).

2. Não apostaria nisso, mas suspeito que McCain escolherá uma mulher. Seria um excelente contraponto para a mensagem de mudança de Obama e cairia que nem ginjas entre o eleitorado feminino Democrata que muito lamentou a derrota de Hillary Clinton nas Primárias. Como McCain necessita de segurar a base tradicional dos Republicanos, a escolha teria que possuir igualmente um perfil conservador. Nomes possíveis? Sarah Palin (Governadora do Alaska), Kay Bailey Hutchinson (senadora do Texas) ou mesmo Condoleezza Rice (actual Secretária de Estado).

"Actual" à deriva?

Bem sei que estamos em Agosto, mas por estes dias é difícil compreender a política editorial da "Actual", a revista de cultura do Expresso. O progressivo encolhimento do suplemento, a redução dos textos em prol da publicidade e do guia televisivo, e a preferência pelas imagens colossais em detrimento das apreciações dos especialistas deformaram gravemente a revista.

Deixo-vos com o sugestivo exemplo de um número recente. Em 48 páginas, 10 são exclusivamente publicidade (geral ou institucional). O guia de televisão (que facilmente se encontra na net ou num teletexto) ocupa 8 páginas, às quais se juntam mais quatro da agenda cultural. Uma entrevista a Gilberto Gil apresenta uma fotografia de duas páginas (não estou a brincar). O que sobra? Pouco, muito pouco. O cinema é despachado em duas páginas. A música e o teatro/dança não têm melhor sorte. Exposições? Uma página (com foto gigantesca). E os acontecimentos culturais da semana são apresentados em duas míseras páginas.

Seguindo este rumo, a "Actual" deixará de ser o melhor suplemento de cultura em Portugal.

terça-feira, agosto 26, 2008

Quando as metáforas são realidade...

Quando em miúdo primeiro me explicaram que Salazar havia deixado de ser presidente do conselho por ter "caído da cadeira", criança imaginativa como era, pensei que isso quisesse dizer "ter caído da cadeira do poder". Ainda demorei a perceber que o que eu tomava como metáfora complexa era afinal a verdade mais mesquinha: o velho tinha mesmo caído de uma cadeira.

Infelizmente, esta tendência para levar tudo para a metáfora parece jamais ter-me abandonado. Lendo que um tribunal desabou, pensei que finalmente a pseudo-justiça portuguesa houvesse declarado a sua própria falência. Não, foi o edifício do tribunal que desabou mesmo, e matou uma pessoa. Que mania que os portugueses têm de tomar tudo à letra...

Onde é que eu já vi isto?

domingo, agosto 24, 2008

Vira o disco e toca o mesmo? (2)

Tal como na temporada anterior, jogando a primeira jornada na casa de um adversário recém-promovido à liga principal, o Benfica volta a empatar 1-1.

sábado, agosto 23, 2008

Vira o disco e toca o mesmo?

Com apenas um jogo disputado, e com uma vitória confortável sobre uma equipa fraca, qual a frase-feita no final?: «Sporting terá de lutar contra as arbitragens» (Paulo Bento dixit).

CHANGE


But not too much...

Liga de Futebol

Começa este fim-de-semana o campeonato de futebol. À partida, este ano, a coisa promete:

1) O Sporting contratou pouco, mas fê-lo bem, e parece ser este o ano em que talvez se assuma como o mais forte candidato à vitória. Para Paulo Bento, poderá ser a época do agora ou nunca.

2) O Porto perdeu dois jogadores muito relevantes na equipa do ano passado (Assunção e, especialmente, Bosingwa), mas, resolvendo-se a bem a picardia "Quaresma", parece também poder vir a estar mais forte que no ano passado. Só que este ano tem concorrência.

3) O Benfica contratou muito (nem outra coisa se esperaria, depois da segunda pior classificação de sempre de um clube centenário) e, até ver, a coisa promete. Não para ser campeão, parece-me, mas para fazer boa figura. A ver.

4) Guimarães prepara-se para a mais exigente época da sua história. Depois de um terceiro lugar, e de uma participação na Liga dos Campeões, a fasquia está tão alta quanto nunca esteve. Ver-se-á como aguentam a pressão.

5) Braga reforçou-se, tal como o Benfica (mas à sua escala), muito e, até ver, bastante bem. É adversário de peso para Guimarães.

6) Setúbal tem um plantel com bons jogadores. Mas, mais que isso, tem o mais bem-falante treinador em Portugal num clube de uma das cidades mais mal-falantes do país. Ver-se-á como se resolve o contraste.

7) O que mais me empolga neste início de campeonato é, de longe, o facto de os três treinadores mais engraçados do futebol mundial estarem agora mesmo na berra: Manuel Cajuda, Jorge Jesus (adversários no Minho, tornando os jogos Guimarães-Braga provavelmente os mais cómicos da temporada), e, agora, o inenarrável Octávio Machado, que publica um livro onde finalmente fala mal deste ou daquele, referindo os seus nomes.

8) Mais uma vez, o futebol em Portugal mostra a massa de que é feito: para lá da Taça de Portugal, disputar-se-ão a Taça Carlsberg e a Liga Sagres. Não era preciso levarem a frase "o futebol inebria" tão à letra...

quinta-feira, agosto 21, 2008

E por falar em honra do convento

Tenho achado interessante que muitos se ponham na linha da frente a criticar os atletas olímpicos portugueses sem menção daquele que me parece ser, de longe, o maior desastre olímpico do desporto português: que a modalidade dominante, que engole a quase totalidade dos recursos desportivos do país, e que está no top 10 mundial, nem sequer tenha conseguido a qualificação...

Antes de apontar o dedo aos pobres coitados que ganham 100 contos por mês e ainda têm de pagar IRS e Segurança Social desse dinheiro, amadores que só conseguem treinar uma vez por dia, talvez fosse interessante contabilizar se um mês de ordenados de Moutinhos, Velosos, Fernandes, Amorins, e afins, não chegaria para cobrir os pagamentos a toda a delegação olímpica portuguesa.

O homem sem defeitos


Benfiquista, português, bem-falante, bonito, e campeoníssimo atleta em triplo salto.

Alguém tinha dúvidas de que seria ele o salvador da honra do convento?

Há desenhos com muita piada

sábado, agosto 16, 2008

Quando a arte consegue fazer tudo o resto mais pequeno

A internet tem as suas virtudes. Por vezes, deparamo-nos com estas pérolas.

O mais belo movimento de Mähler, segundo Mehta e os israelitas...

O plágio do pimba ou o pimba do plágio

Terão chegado à Sociedade Portuguesa de Autores acusações de plágio dirigidas ao cantor Tony Carreira por três das suas cantigas. Sempre continua a haver quem me consegue espantar: quão preguiçoso e desprovido de talento se é preciso ser para plagiar pimbalhada? Quão difícil será inventar versos sem nexo, todos terminados em "ar"?

Doping nos JO

Leio ter havido novos casos de doping nos Jogos Olímpicos, desta vez nas provas de ginástica e de tiro. Volto atrás: de tiro? Há tipos que só conseguem premir o gatilho com auxílio de alguma substância química? O que tomariam então se praticassem um desporto a sério...

sexta-feira, agosto 15, 2008

Bruxelas


O melhor: a Grand Place, uma das mais belas da Europa. Os chocolates. As guloseimas. O Museu dos Instrumentos, que permite ouvirmos em headphones o som dos instrumentos expostos quando nos aproximamos dos mesmos. Os vários edifícios Arte Nova espalhados pela cidade. A Galerie Bortier, um apetitoso centro comercial de alfarrabistas.
O pior: a chuva. O frio. As ruas sujas. A comida, cara quando boa, intragável quando barata. Os oito Magrittes guardados em depósito no Museu de Belas-Artes. Em geral, os preços - recordando como o poder de compra lusitano anda pelas ruas da amargura.
A surpresa: o Centro de Banda Desenhada contém uma exposição deliciosa sobre as aventuras de Tintin, Lucky Luke, Chuck Bill e os "Strumpfes", todas elas geradas pela imaginação prodigiosa de artistas belgas (Hergé, Morris, Tibet e Peyo, respectivamente). Um mimo.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Natação ao rubro 3

Mais dois records, 10 minutos depois, para o fabuloso Michael Phelps: bate o record do mundo nos 200 metros mariposa, e torna-se o primeiro atleta na história do desporto mundial a conquistar 10 medalhas de ouro nos JO.

Natação ao rubro 2

Outro record, cinco minutos depois, agora nos 200 metros femininos.

Natação ao rubro

Em apenas cinco minutos, acabei de ver o record do mundo dos 100 metros livres batido, ora na primeira meia final, ora na segunda meia final.

Não parece haver limites para a espectacular forma destas atletas. Só se Jesus Cristo descer à terra e correr sobre a água...

sábado, agosto 09, 2008

Viram filmes, mas eram os filmes errados

Dá a sensação que os brasileiros do assalto falhado à dependência do BES viram este filme em vez deste...

Os Jogos Olímpicos da nossa era

São de tal maneira espaço de conflito internacional que há Estados a empreender novas guerras e invasões precisamente no mesmo dia da cerimónia de abertura.

Why so serious?


Mesmo a quem não gosta do género, recomenda-se o novo filme Batman, The Dark Night. Em especial por Christopher Nolan esticar o género de filme de "super-heróis" ao ponto de quase o transfigurar. Tudo por efeito dos seus dois vilões, que pela primeira vez abandonam aquela imagem "de desenho animado", habitual nestes filmes: um Joker impelido ao sadismo por profundos traços psicóticos, um terrorista maquilhado tomando o seu terrorismo como um fim em si mesmo; e um Harvey 'Two-Face' que é como que um Janus moral, afastando um fortíssimo afecto para o bem por um ainda mais forte, para o mal. No fundo, é como se vilões de um thriller fossem inseridos à força num filme de "super-heróis".
No meio de tudo isto, a personagem Batman, o sujeito mascarado, é talvez a mais secundária do filme: não surpreende que pouco apareça e se limite a marcar presença nas cenas de pancadaria e explosões. Se bem que seja adorável o facto de ser visto pela última vez fugindo esbaforido dos cães da polícia...
É o mais negro dos filmes de "super-heróis" que já vi (mesmo mais que os de Tim Burton), e portanto é talvez o melhor...
P.S.- Excelente, tal como no anterior filme, o começo abrupto do filme. Como poucos.
P.S.2- Muito bem o falecido Heath Ledger. É aliás interessante que no último frame da sua carreira surja de pernas para o ar, pendurado pelos pés, quando é precisamente essa a representação nas cartas tarot do enforcado...

sexta-feira, agosto 08, 2008

Gosto desta série


Que evolução desde os tempos da "Balada de Hill Street"!

quinta-feira, agosto 07, 2008

É mais civilizado quem mais preserva o selvagem

Uma tal de União Internacional de Conservação da Natureza emitiu agora um estudo dizendo com ar muito chocado que 48% dos primatas está em vias de extinção, em especial na Ásia, em países como o Cambodja, o Vietname, a Indonésia, o Laos, e a China.

As causas são variadas, e vão desde a destruição de habitats à caça para comércio ilegal ou alimentação. Há países onde, diz-se, «os primatas estão literalmente a ser devorados até à extinção». Ver aqui.

Fala-se, claro, dos primatas em condições selvagens. As quais obviamente só existem onde a civilização tecnológica não conseguiu meter o dedo. E não conseguiu meter o dedo porque os países em questão, quer os asiáticos referidos, quer os africanos Congo, Ruanda, e Botsuana (onde apesar de tudo parece que os dados não são tão alarmantes), estão ainda em vias de desenvolvimento. É muito fácil para nós, gente do hemisfério norte no conforto do seu sofá, vivendo em países nos quais as coisas mais selvagens que se encontram são os chocolates Lion e João Vale e Azevedo, acusar os outros de matar os queridos primatas, e quase exigir que se mantenham subdesenvolvidos para continuarmos a ver gorilas e orangotangos na TV. Esquecemo-nos porém que se há gente a matar primatas para comer, é porque se o não fizerem estarão eles mesmos em vias de extinção.

Tudo isto resolvia-se com algo que defendo há vários anos: se os países ricos querem os animaizinhos da Ásia e da África vivendo nos seus habitats naturais, então paguem àqueles que os têm. Se é do interesse de todos que haja lugares selvagens no planeta (e acredito que é), que toda a gente contribua para os preservar: uma contribuição do género "aceitem esta contribuição financeira para evitar que o vosso desenvolvimento se faça à custa da vossa fauna e flora".

No fundo, é do maior interesse da civilização que haja ainda selvajaria contemplável...

quarta-feira, agosto 06, 2008

O paradoxo dos Jogos Olímpicos

Na Antiguidade, os jogos serviam para celebração da paz ou da vitória: ora interrompiam guerras, ora festejavam conquistas (como os jogos de Aquiles, após a morte de Heitor). Em qualquer dos casos, representavam sempre uma cessação do confronto político.

Nos Jogos Olímpicos contemporâneos, em especial desde 1936, e até hoje, não há competição desportiva mais politizada. São como que um conflito desportivo de nações, e portanto não representam de todo uma cessação do confronto político, mas um seu espaço mediatizado e não bélico.

As cambalhotas do mundo

Não há melhor propósito de sobrevivência que o de viver o suficiente para assistir a coisas como a Líbia em acordos de cooperação com os EUA e a Inglaterra, o Boavista de Jaime Pacheco a descer às distritais, e Soljenitsyn a ser enterrado na Rússia com honras de Estado...

Próximo destino: Bélgica

Mas volto em breve...

segunda-feira, agosto 04, 2008

Recomendação


Sai este mês, pelo Círculo de Leitores e pela Temas & Debates, pela primeira vez em tradução portuguesa (boa) por Diogo Pires Aurélio, e directamente do original latino, aquele que é um dos primeiros grandes textos modernos sobre a viabilidade da democracia.

Foi dele que os novos ideólogos anti-globalização, como António Negri e Michael Hardt (os tais do Império), recuperaram o conceito de multidão ao qual, nas suas palavras, "um novo proletariado pode beber uma nova metafísica". Foi também dele que outros retiraram a percepção de poder constituinte ou constitucional (antes de Sieyès), compatível com democracias-liberais. É um texto curto, incompleto, e, como se vê, aberto a muitas e distintas interpretações.

A quem se interessa por estas coisas da filosofia política, recomenda-se.

sábado, agosto 02, 2008

[Pub.]

Já está disponível o vídeo do "Clube de Imprensa", no qual tive o prazer de participar. Vejam aqui, e seleccionem o programa de 23 de Julho.

o horizonte sensível, 12

Londres, 2008 [via Andrew Sullivan]

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sexta-feira, agosto 01, 2008

Uma fogueira que não faz muito calor

O amigo com quem partilho este blogue pensou que se ia meter numa cruzada heróica ao defender a extinção do chamado Rendimento Social de Inserção, que nem D. Quixote avançando contra os moinhos de Freston. Mas vai parecendo que afinal não tem grande oposição às ideias que apresentou.

De minha parte, acho graça sobretudo ao novo nome que deram à coisa: rendimento social de inserção. Inserção onde?, e em quê? Se acaba por ser incentivo a não se trabalhar (porque nem se assemelha a um subsídio de desemprego), não produz mais exclusão social do que inserção? Só se aqui pretende-se auxiliar as pessoas a ficarem em casa (ou na barraca, ou na tenda, consoante as preferências de cada um) permanentemente sem mexer uma palha: aí sim, é um rendimento social de inserção doméstica.

Somos todos pseudo-estruturalistas

Lévy-Strauss dizia que uma estrutura era um modelo formado de maneira tal que o seu funcionamento pudesse explicar todos os factos observáveis. Neste sentido, parece haver uma certa rigidez e transcendência do modelo perante a realidade a que se aplica.

Os portugueses, pelos vistos, gostam muito disto. É só reparar no uso constante de "plataformas" na linguagem: ele é "plataformas de reflexão" (como Pedro Passos Coelho pretende agora fundar), ele é "plataformas de entendimento", ele é "plataformas de objecção"... As contratações dos jogadores de futebol, então, resultam todas de "plataformas de entendimento": eles são os plataformados.

No fundo, todos gostamos de uma arrumaçãozinha do espaço onde temos de encontrar a chatice que é o outro.

Sócrates e o tipo do "Thank you for smoking"

José Sócrates vai tendo cada vez mais o hábito enfadonho de surgir todos os dias na TV não aparentando que governa, mas tentando vender algo que não interessa aos portugueses. Agora até computadores o homem tenta vender, julgando-se uma espécie de Steve Jobs tuga lidando com dinheiro dos outros. E a falta de convicção, aquele tom de quem decorou as palavras (mal) apenas na noite anterior... E a gente imagina-o, à noite, em frente ao espelho, a fazer poses e a praticar entoações de voz.

Faz-me lembrar a personagem principal de um filme que me agradou muito, o Thank you for smoking: um sujeito porta-voz de uma empresa tabaqueira, que sabe perfeitamente o mal inerente ao seu produto, mas que o promove de maneira descaradíssima.

Sócrates é afinal menos um primeiro-ministro e mais um porta-voz do governo: e mau, ainda por cima.

Não percebi

Cavaco Silva veio anunciar em directo na TV (à mesma hora a que costumam falar Paulo Portas e o novo director desportivo do Benfica), com cara de caso, que ia vetar um estatuto que estava obrigado a vetar por já ter sido chumbado pelo Tribunal Constitucional. O estatuto, aliás, de uma região do território português onde a larga maioria da população nunca pôs nem há-de pôr os pés.

Sinceramente, não percebi...

Mais achas para a fogueira

Uma série de ciganos foi julgada por actos de desordem pública, pois numa bela noite de Agosto decidiram fazer uma festa ao ar livre, mandar uns tiros para o ar e insultar a polícia quando esta foi chamada ao local para acalmar os ânimos. Entre os desordeiros encontrava-se Inácio Guedes Monteiro, a propósito do qual se lê no Acórdão: "O arguido Inácio Guedes Monteiro já foi condenado pelos crimes de condução ilegal e furto qualificado [...]. Actualmente acha-se em regime de prisão preventiva. [...] antes de detido/preso vivia com uma companheira e dois filhos menores [...]. O agregado vive do Rendimento Social de Inserção no valor de 515 euros mensais.".

O melhor vem a seguir. Querem saber o que este senhor tinha consigo quando a polícia chegou ao local? Este jovem, que anda de prisão em prisão há séculos, e que recolhe 6000 euros do Estado ao fim do ano? Pois aqui vai: "Aquando da detenção do arguido Inácio Guedes Monteiro, este trazia consigo uma caçadeira de dois canos, de marca Valtro, uma pistola de alarme, calibre 8mm [...] com 5 munições, um revólver de calibre 7,65 mm, marca Browning, com 5 munições [...] e uma meia de criança com 9 munições de calibre 7,65 mm, não manifestadas nem registadas".

Nota final sobre três outros arguidos (todos condenados por agressões, posses ilegais de arma e afins). Adolfo Gonçalves: recebe RSI no valor de 637 euros mensais e vive numa habitação social. Paulo Monteiro: recebe RSI (637 euros) mais subsídio de crianças (!) (163 euros). Manuel Monteiro: vive numa habitação social, recebe 1100 euros mensais de RSI. Se isto não é obsceno, não sei o que possa ser.