quinta-feira, maio 31, 2007

Todos ganharam? Todos perderam...

Das muitas coisas que se escreveram sobre a greve geral, encontrei um pequeno texto, no 31 da Armada, que sintetiza em setenta e nove palavras exactamente o que penso sobre o assunto. Assim sendo, e com a devida vénia, cito o Rodrigo Moita de Deus:

“Passei de mota por intermináveis filas de carros parados. Gente que vai perder uma manhã inteira dentro de um automóvel. As greves têm cada vez menos adesões porque a economia é cada vez mais privada. É por isso que o sucesso e impacto de uma greve geral já não se mede pelo número de pessoas que não foram trabalhar. Mede-se pelo desconforto e incómodo que causam nos outros. Mede-se pelo número de pessoas que foram impedidas de ir trabalhar”.

Nem mais. Aliás, parece-me que ninguém recordará o dia 30 de Maio com um sorriso. Os que fizeram greve perderam um dia de salário em vão, porque é óbvio que o Governo não vai recuar na sua política económica e social. Os que não fizeram greve sentiram que traíram os companheiros que não trabalharam e ainda por cima tiveram que levar com o Governo armado aos cucos, a dizer que a adesão foi mínima e que isso é um sinal de que as pessoas estão satisfeitíssimas com as suas medidas. Os sindicatos sofreram um rude golpe face ao evidente insucesso do evento. E o Governo perdeu pontos junto do seu eleitorado tradicional, depois de mais uma performance autoritária e com insuportáveis tiques de sobranceria (quem se lembrou de dizer que este foi um dia de “plena tranquilidade”, em novo exemplo de um absoluto divórcio com a realidade?), desvalorizando uma greve que – apesar de tudo – perturbou e/ou envolveu milhares de portugueses.

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quarta-feira, maio 30, 2007

Coisas que fazem rir, 13

Suspeito que se Portugal continuar mergulhado numa gigantesca e surrealista tragicomédia social, política e económica, terei que tornar esta série diária. Até lá, deixo-vos com (mais) um notável registo da grande narrativa humana que é o ser português. Perdido na secção do correio de leitores da revista “Pública” deste domingo, podemos encontrar um sentido – e aqui e ali poético – protesto de um atento leitor do Cacém (e como não?), a propósito da redução dos textos da Maya na dita revista:

“Decidi escrever para deixar o meu protesto pelo corte nas previsões de Maya, de quem sou leitor fiel. Nunca falho uma semana e dou atenção aos passos que dou de acordo com o que ela me diz. E não gostei de ver que, nesta nova Pública, o espaço dedicado a cada signo foi muito reduzido. Neste espaço que agora tem, Maya não tem oportunidade de ir mais além, limita-se a resumir numa linha os aspectos da nossa vida. E nestas coisas da vida, resumos não chegam”.

“Nestas coisas da vida, resumos não chegam”. Procurem traduzir esta frase para qualquer outra língua: garanto-vos que não conseguirão. Porque isto é Camões, Camilo, saudade e fado. Só um português poderá compreender esta dor – e só um português poderia exprimir este lamento. Maya, volta no teu máximo fulgor!, e que a Pública não reduza a tua prosa!

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terça-feira, maio 29, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 31

A propósito da greve nacional:

1) Todo o trabalho contém na sua definição o exercício de uma actividade. Pode ser por conta de outrem, por conta própria, mais ou menos remunerado, mais ou menos físico, etc, mas é sempre activo. O trabalhador é portanto, por definição, aquele que desempenha uma actividade. Ora, a greve é precisamente a invocação de um estatuto de trabalhador com poder para não trabalhar: é o trabalhador-activo que se faz trabalhador-inactivo. A greve é o não-trabalho do trabalhador, sem deixar de ser trabalhador. Por outras palavras, pela greve, o activo afirma-se como tal através da inactividade, a actividade da greve é a inactividade mesma. Enfim, não é a greve efectiva um delicioso (e ocioso) paradoxo?

2) Uma das mais antigas interpretações do direito natural, com raiz em Ulpiano e mais tarde integrando as Instituições de Justiniano no Corpus Iuris Civilis, confunde-o não com um conjunto de regras constitutivas de deveres, mas sim como potência de feitura. Não é simplesmente uma faculdade, como Grotius explica a vertente subjectiva do direito natural, mas sim um verdadeiro poder para se fazer aquilo que se faz: daí que Ulpiano diga que as aves têm direito a voar, os peixes a nadar, o animal maior a engolir o menor, e que tal direito assume uma vera naturalidade. Ora se Ulpiano tem razão nesta sua interpretação, quando se invoca um direito à greve, dotando-o de naturalidade, terá de significar um "poder de quem pode uma acção a não poder essa acção": será assim um poder de não-poder. Como a lógica nunca foi o meu forte, pasmo: há aqui contradição, paradoxo, ou nenhum dos anteriores?

3) Porque é que em Portugal os primeiros sinais de greve são dados nos serviços municipais de recolha do lixo, e nos transportes públicos? Como se o cenário idílico do não-trabalho fosse viver na porcaria e andar a pé para todo o lado (isto é, uma actividade, que não é não-trabalho, suja)...

4) E agora, a mais superficial duvidança que este blogue já viu: haverá algum dress code invertido para se participar numa manifestação de dia de greve?, do género "não são permitidas gravatas"? É que parece que só se pode manifestar em público a favor da greve quem se veste terrivelmente mal...

Mau jornalismo: um exemplo

A complexificação das sociedades trouxe um desenvolvimento sem paralelo nas formas comunicativas, mas um dos seus efeitos perniciosos reside na aparente diminuição da relevância do “factor humano”. Com um aparelho auxiliar tecnológico de extraordinária dimensão, os indivíduos têm vindo a desenvolver mecanismos de relaxamento e desconcentração, do qual nasceram pequenos hábitos de descuido, rapidamente transformados em práticas desleixadas e nocivas.

Este facto é especialmente visível nos media, onde a parafernália técnica quase que dispensa o jornalismo, pois a imagem (seja na televisão, seja nos periódicos) é suficiente como “narrativa” e “ilustração”. Nos últimos anos, esta tendência tem aumentado exponencialmente, e hoje é raro o espaço noticioso em que não sucedam negligências, descuidos ou até mesmo graves incompetências no exercício jornalístico. O Blasfémias e A Grande Loja apresentam dois casos interessantes (aqui e aqui), mas existem muitos outros exemplos.

Como o do artigo assinado por Isabel Oliveira, no Expresso do passado sábado (pág. 11). O texto é sobre a Governadora Civil de Lisboa (Adelaide Rocha) e as críticas que a sua conduta mereceu, a propósito da marcação das eleições para a Câmara a 1 de Julho (data que favorecia os partidos e prejudicava as candidaturas independentes), destacando a evidente posição “partidária” de Adelaide Rocha, que não se coibiu de apoiar pessoalmente a candidatura de António Costa (que a nomeou justamente quando era ministro da Administração Interna).

De súbito, somos confrontados com as seguintes frases bizarras: “Maria Adelaide Rocha, de 58 anos, não dá grande importância às críticas que lhe são endereçadas de parte a parte. O currículo profissional que granjeou na área da Cultura tornaram-na praticamente imune às tricas partidárias. Sublinho que se trata de um corpo de texto sem aspas no original. O que é especialmente grave, pois dá a entender que se trata de uma opinião da jornalista, ainda para mais contrária à lógica de denúncia de um comportamento censurável que encontramos no resto do artigo.

Perante este cenário, há duas hipóteses. Ou se trata efectivamente de uma afirmação da jornalista – e é grave porque contém uma evidente e inaceitável opinião subjectiva partidária e partidarizante, que iliba a dita governadora de todas as dúvidas que a própria a notícia levanta; ou estamos perante uma declaração da própria governadora, e nesse caso aquela frase devia obviamente vir entre aspas, esclarecendo tratar-se de uma citação.

Dirão que se pressupõe que aquelas frases, tão decisivas no contexto do artigo, são da própria governadora. É até provável que assim seja, mas importa sublinhar que o jornalismo é um exercício de informação rigorosa, e não um concurso de intenções.

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domingo, maio 27, 2007

Duvidança Especial (16)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

Duvidanças de uma mente curiosa, 30

A propósito de Zodiac, de David Fincher:

1) É impressão minha, ou já vimos outrora este filme? Chamava-se JFK, realizado por Oliver Stone...

2) Mais do que um thriller, este não é sobretudo um "filme histórico"? Pelo menos alguns pormenores de representação dos anos 70 são deliciosos...

3) Não é Robert Downey Jr. o actor que mais se destaca pela qualidade da interpretação?

4) Vi o filme num cinema de pipocas. Pouca coisa me surpreende hoje em dia, é certo, mas não pude deixar de reparar que grande parte da sala ria ruidosamente e com gosto em todas as cenas dos homicídios. Estultícia? Forma de aliviar a tensão que a cena provoca? Fiquei preocupado por mim: é que não consigo perceber a piada na representação de uma cena em que um casal amarrado é brutalmente esfaqueado. Ou há algo de errado nos outros, ou há algo de errado em mim. Como não acredito que todos os outros estejam errados e só eu certo, o erro deve estar em mim. A não ser que os meus colegas de sala de cinema sejam todos serial killers em potência... Estarei cada vez mais afastado da realidade?

Top ten

Respondendo a um desafio do André, apresento uma lista dos meus dez filmes preferidos da última década. Não sei se por ter ido menos vezes ao cinema, ou se porque a qualidade diminuiu, tenho dificuldade em encontrar uma obra verdadeiramente estimulante desde Million Dollar Baby (2004). Por ordem de preferência:

The Thin Red Line [A Barreira Invisível] (1998), de Terrence Malick;
Million Dollar Baby (2004), de Clint Eastwodd;
La Stanza del Figlio [O Quarto do Filho] (2001), de Nanni Moretti;
Elephant (2003), de Gus van Sant;
The Pianist (2002), de Roman Polanski;
Wo hu can long [O Tigre e o Dragão] (2000), de Ang Lee;
Saraband (2003), de Ingmar Bergman;
The Lord of the Rings (2001-2003), de Peter Jackson;
Gato Preto, Gato Branco (1998), de Emir Kusturica;
Magnolia (1999), de P.T. Anderson.

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sábado, maio 26, 2007

Produtos seleccionados

1. Sobre os disparates da semana – do “caso DREN” às declarações patéticas de Mário Lino – recomendo três textos: “O humor político”, no Suburbano; “Gaffes linosas e o ocaso deste regime”, no Combustões; e “Tempestade no deserto”, no Corta-Fitas.

2. A propósito da tirada antológica de Almeida Santos, dois pequenos apontamentos com muita graça: “O que virá a seguir?”, na Atlântico; e “Almeida Santos: o delírio”, no Bloguítica.

3. “A moral do ditador”, no Kontratempos. Uma nota sobre o programa político de Hugo Chávez, que naturalmente lida muito mal com eventuais críticas.

4. “O homem desfocado”, no Portugal dos Pequeninos. Em torno da estratégia de António Costa, algures entre o capanga do governo e o salvador de Lisboa.

5. “Um livro”, na Natureza do Mal. Uma importante recordação de Fahrenheit 451, num momento em que a informação cultural é ostracizada na imprensa portuguesa.

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sexta-feira, maio 25, 2007

Já existem 11 candidatos à Câmara de Lisboa

Agora a sério

Com a aproximação do verão, e com o previsível aumento do fluxo de trânsito para as praias da Costa da Caparica e do Algarve, acho que chegou a altura de se iniciar um debate nacional esclarecedor sobre esta história das “pontes dinamitadas”. Caso contrário, o Norte do país ainda fica separado do Sul, e então aí é que temos uma chatice...

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quinta-feira, maio 24, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 29

A propósito de pensamentos dispersos:

1) Seguindo as declarações de Mário Lino, eu, enquanto nascido e vivente na margem Sul, serei afinal descendente encapotado de tuaregues?

2) Almeida Santos disse que o Sul tem um defeito óbvio, que é o de necessitar de pontes para se comunicar com o Norte. Pontes são alvos preferidos de ataques terroristas, e portanto construamos o aeroporto sem necessitar de pontes, disse o simpático velhinho. Ora, chamem-me parvo (já estou habituado), mas o Norte não tem o mesmo defeito? E o argumento das pontes (o da sua desnecessidade, não o dos malvados terroristas) não funciona só se as gentes do Sul não usarem o aeroporto? Também está certo, os tuaregues deslocam-se em camelos, não em aviões...

3) Se na final da Taça de Portugal as claques usarem os seus habituais cânticos gloriosos de louvor ao guarda-redes adversário no momento dos pontapés de baliza, será que o Primeiro-Ministro, lá estando presente, e mergulhado na sua própria teoria da conspiração, tentará instaurar processos disciplinares a todos os claquistas funcionários públicos?

4) A propósito de uma lista de preferências fílmicas que li, serão estes os meus filmes preferidos dos últimos dez anos?:

A) The Thin Red Line [1998], de Terrence Malick;
B) Ta'm e guilass (O Sabor da Cereja) [1997], de Abbas Kiarostami;
C) Fa yeung nin wa (Disponível para Amar) [2000], de Wong Kar-wai;
D) Memento [2000], de Christopher Nolan;
E) Todo sobre mi madre [1999], de Pedro Almodóvar;
F) The Passion of the Christ [2004], de Mel Gibson;
G) The Eternal Sunshine of the Spotless Mind [2004], de Michel Gondry;
H) Million Dollar Baby [2004], de Clint Eastwood;
I) Eyes Wide Shut [1999], de Stanley Kubrick;
J) The Pianist [2002], de Roman Polanski.

Coisas que fazem rir, 12

O Governo de Santana Lopes era pródigo em trapalhadas, mas o executivo liderado por Sócrates – felizmente mais eficaz na arte da governação – tem-lhe seguido as pisadas. Os campeões do disparate são, até ao momento, Manuel Pinho – capaz das maiores confusões – e Mário Lino, o rei das tiradas de antologia (basta recordar o inesquecível “eu sou engenheiro devidamente inscrito na Ordem”).

Num discurso sobre a localização da Ota, Lino voltou a brindar-nos com várias pérolas, afirmando que “a Margem Sul é um deserto”, onde “não há cidades, não há gente, não há hospitais, nem hotéis nem comércio”, pelo que “seria necessário deslocar milhões (!!!) de pessoas para essa zona” para justificar a construção do novo aeroporto. A que se seguiu uma frase lapidar: fazer um aeroporto “no Poceirão ou nas Faias” seria o mesmo “que construir Brasília no Alto Alentejo”. E para terminar, Mário Lino comparou esta opção, a Sul do Tejo, com um “doente aparentemente de boa saúde”, mas “com um cancro nos pulmões”.

Isto é só comediantes.

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O melhor do mundo


Cristiano Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho são génios do futebol, Drogba é o melhor avançado do mundo, e Essien, Henry e Van Nistelrooy são atletas incrivelmente dotados. Mas, neste momento, Káká está a jogar a um nível estratosférico. Na final da Liga dos Campeões produziu três momentos brilhantes. Inesquecível a finta “em moinho”, que deixou três adversários por terra com apenas dois toques na bola. Incrível o controlo de bola seguido de um movimento felino, que o coloca na cabeça da área, onde sofre a falta que dá origem ao primeiro golo do jogo. Extraordinário o passe para o segundo golo, obra de requinte, que principia com uma ameaça de remate, seguida de uma abertura tão delicada quanto de difícil execução, que isola Inzaghi e mata o jogo.

Os senhores da UEFA, que viram a partida entre copos de champanhe e caviar, naturalmente designaram Inzaghi o melhor em campo.

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quarta-feira, maio 23, 2007

Um monarca em São Bento?

Consumada a saída das figuras com maior peso político do Governo (Freitas do Amaral, António Costa); assegurada a exportação de críticos internos (João Cravinho, Ferro Rodrigues, Carrilho); salvaguardada a reforma compulsiva de incómodos “históricos” (Medeiros Ferreira, Helena Roseta); garantida a presença de uma figura dócil em Belém (Cavaco Silva); silenciada a imprensa por destemidos pistoleiros (Pedro Silva Pereira, Santos Silva); e controlada a Administração Pública por fiéis capangas como a prepotente Margarida Moreira (a famigerada directora da DREN, directamente responsável por este lindo episódio) – Sócrates pode finalmente implementar uma duradoura monarquia constitucional.

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terça-feira, maio 22, 2007

Duvidança Especial (15)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

segunda-feira, maio 21, 2007

o belo e o sublime, 14

Um fabuloso repasto

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Novela mexicana

Kate McCann foi à missa. Kate McCann foi à praia. Kate McCann não tirou os óculos escuros. Kate McCann tirou os óculos escuros. Kate McCann comeu sardinhas com batatas assadas ao almoço. Gerry McCann ficou a dormir a sesta. Gerry McCann chorou durante a noite. Gerry McCann bebeu uma limonada. Gerry McCann foi à casa de banho. Murat foi ouvido pela polícia. Murat foi libertado. Murat poderá voltar a ser ouvido. A polícia investigou. A polícia não encontrou nada. A polícia continuou a investigar.

Quanto tempo mais poderá durar este filme mediático? Quantos minutos mais dedicarão diariamente os telejornais a esta fantochada? Quantos mais psicólogos, pediatras, investigadores, ex-investigadores e treinadores de cães irão debater durante horas o desaparecimento de uma criança no Algarve, há 17 dias atrás?

Cai o pano

O FC Porto, algo abúlico nas últimas semanas, acabou por conquistar o título. O Desp. Aves, como o Professor Neca havia prometido, participou na festa. Pela magnífica primeira volta (40 pontos em 45 possíveis), o FC Porto mereceu a vitória, embora sem a autoridade e classe com que nos habitou nos últimos vinte anos. Quaresma é o homem do campeonato, Postiga e Adriano, alternadamente, foram decisivos.

O Sporting produziu o futebol mais espectacular, mas foi inconsistente durante um curto, mas essencial, período – o que lhe custou a perda de pontos determinantes (empates com Belenenses, Paços de Ferreira, Boavista, Aves). O título assentava bem ao trio Veloso-Nani-Moutinho, mas terá que ficar para a próxima. Liedson provou (uma vez mais) que é o melhor avançado em Portugal.

O Benfica pagou caro um início de época muito fraco, com 3 derrotas em 10 jogos. Durante várias semanas foi a melhor equipa portuguesa, mas baqueou nos momentos decisivos. Problemas físicos de unidades nucleares, a carência de um avançado goleador regular e alguma inépcia psicológica foram determinantes. Ironicamente, acaba o campeonato estando invicto há 20 partidas (a última derrota ocorreu num longínquo 18 de Novembro).

Para o ano há mais.

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sábado, maio 19, 2007

Cúmulos da desfaçatez

Ouvir Paulo Portas utilizar a expressão “lealdade”.

Ler que Fernando Negrão foi “a única pessoa a ser convidada formalmente pela direcção do PSD”.

Ouvir Olegário Benquerença (o árbitro do FC Porto-Aves de amanhã) dizer que está a preparar o jogo em concerto com a polícia, para que a invasão de campo e os festejos do campeão não criem problemas aos intervenientes.

sexta-feira, maio 18, 2007

No pasa nada

O desemprego continua a aumentar a um ritmo impressionante, cifrando-se agora nos 8,4%. Em Portugal existem cerca de 500 mil pessoas que não têm trabalho. As políticas reformistas de Sócrates falham em toda a linha e a “estratégia de contenção financeira” – verdadeiro desígnio nacional – diminuiu o poder de compra dos cidadãos e restringiu benefícios sociais e fiscais. O país não sai da cepa torta. Somos os que menos crescemos na UE, somos cada vez mais últimos na educação, na saúde, na qualidade de vida, e cada vez mais primeiros no aumento de impostos, na inflação, no preço dos combustíveis. Somos ridículos, somos patéticos.

Tema de sobra para os telejornais? Nada disso! Tudo porque a esposa de um sujeito russo que talvez tenha visto a “pequena Madeleine” vai prestar depoimento à polícia: 19 minutos na SIC Notícias. Segue-se mais um exclusivo: descubra como o “caso Madeleine” vai prejudicar o turismo no Algarve. Não saia do seu lugar: mais à frente, conheça a história do homicida de uma adolescente no Barreiro, condenado a 21 anos de prisão. E, claro, há ainda a extraordinária notícia da substituição do cônsul honorário em Cabo Frio.

Depois de tudo isto, e se ainda alguém tiver resistido, ficará por fim a saber que o desemprego em Portugal é o mais elevado desde 1986. “O mais elevado desemprego desde 1986”? Como diriam os ingleses, “who cares?”.

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Fernando Negrão: primeiras impressões

Notas da entrevista de Alberta Marques Fernandes a Fernando Negrão, na RTP2:

POSITIVO
»A forma cuidada como apresenta os argumentos, falando pausadamente e procurando justificar as suas observações e propostas. Os debates prometem ser ricos e moderados. Ainda bem, porque de tiradas demagógicas e políticos popularuchos estamos fartos.

»Face à idiota questão (que infelizmente se vai repetir) “como se sente por ser a terceira opção de Marques Mendes?”, foi inteligente ao lembrar que também António Costa não foi a primeira escolha do PS – e que portanto esse facto é neste momento irrelevante.

»Ao referir-se ao estado calamitoso das finanças da Câmara, esteve bem ao criticar os executivos liderados pelo PSD, mostrando que não vai recorrer ao habitual “a culpa é dos outros”.

ASSIM-ASSIM
»Sublinhar que é essencial resolver os problemas financeiros da Câmara será a bandeira de todos os candidatos, pelo que insistir nesse tema não lhe vai certamente trazer votos.

NEGATIVO
»Pareceu pouco à vontade com a sua condição de um “setubalense” a concorrer em Lisboa – na verdade um detalhe relevante que precisa de justificar com brevidade.
»Revelou desnorte quando confrontado com o facto de ainda não ter composto uma equipa para concorrer à Câmara – isto quando faltam apenas seis semanas para as eleições.
»Foi estranho – para não dizer bizarro – que Negrão tenha referido que a sua segunda prioridade em Lisboa era resolver o problema dos idosos “que não têm ninguém”, referindo-se às 35 mil pessoas em “completa solidão”. Ora, por um lado, já existe uma diversidade de apoios estatais e camarários a estas situações (táxi social, vigilância do INEM, etc.), que além do mais, se resolvem sobretudo ao nível da própria comunidade (vizinhos, família, etc.) – sendo pois uma tarefa que compete em especial às Juntas de Freguesia. Por outro lado – e com todo o respeito pelos idosos “sozinhos” – habitam em Lisboa 700 mil pessoas e vivem diariamente na capital mais de um milhão e meio. Durante os 15 minutos da entrevista, Negrão limitou-se a falar dos “idosos” e das “contas públicas”. Ninguém se sentiu excluído?

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quarta-feira, maio 16, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 28

A propósito da Câmara de Lisboa:

1) Felizmente, o senhor do futebol, que é já presidente camarário, recusou-se à formação de uma pandilha municipal. Segue-se, ao que parece, pelo PSD, Fernando Negrão, juiz de profissão em idos tempos. Ora este senhor, que foi juiz em Setúbal, deputado eleito pelo círculo eleitoral de Setúbal, vereador eleito para a câmara municipal de Setúbal, residente há muitos anos em Setúbal, vai concorrer para a presidência da câmara de... Lisboa. Não há nada de errado nisso. Mas não seria preferível um presidente de câmara que sinta o município nas suas entranhas?

2) António Costa, ao que parece, desiste de ser membro de um órgão de soberania, para se tornar presidente de câmara. Este movimento parecerá a muitos um salto ambicioso. Mas para que uma presidência de câmara municipal seja considerada mais importante que um órgão de soberania, basta não só que o município seja capital, mas também central: no fundo, não ambicionará António Costa ser presidente da metrópole?

3) Rui Pereira foi nomeado para o Tribunal Constitucional há umas 3 ou 4 semanas. Boatos chegaram a circular de que era o principal candidato a assumir a sua próxima presidência. Pois eis que um mês depois está de saída para um ministério, o da Administração Interna. Ora, este passe-par-tout frequente dos mesmos indivíduos de um órgão de soberania para um outro, que tendem suposta e juridicamente à independência, é afinal danoso ou enriquecedor para a separação de poderes? Juízes que se fazem deputados, deputados que se fazem juízes, juízes que se fazem ministros... Que diria disto Montesquieu?

4) Porque é que Rui Pereira me faz lembrar o Carlos Lobo d'Ávila, dos Vencidos da Vida, que desde pequenino sonhava e achava-se destinado a ir "pa minito"?

terça-feira, maio 15, 2007

A preferida dos portugueses

Já não bastava termos mandado para o Festival da Eurovisão uma música pimba sem ponta de graça, ainda tivemos o discernimento de atribuir 12 pontos à canção da Ucrânia, interpretada por um travesti marciano e cantada em alemão, russo e inglês, com a qualidade que o vídeo atesta. Aguardo pacientemente por um estudo sociológico dedicado aos televotantes portugueses – os tais que escolhem Salazar, votam neste freak-show e expulsam celebridades de concursos pirosos.

domingo, maio 13, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 27

A propósito do nome Fernando Seara para a Câmara de Lisboa:

- Primeiro, avançou a Bastonária da Ordem dos Arquitectos. Parece que o senhor que se segue, pelo PSD, é alguém que surge mais vezes vestido de vermelho na TV do que de laranja. Ainda por cima, vermelho esse sediado precisamente no munícipio para o qual se procuram candidatos. Qual será o candidato seguinte? É que só falta um construtor civil para completar a habitual pandilha municipal...


A propósito do filme de David Lynch, Inland Empire:


- É certo que David Lynch é o único cineasta que consegue acagaçar-me até à ponta dos cabelos. Actualmente, parece-me ser o único capaz de pôr em filme um pesadelo. Nesse aspecto, Lynch é o verdadeiro onirista, mas na vertente negativa (que é afinal a mais interessante): é um "onirodinista". Inland Empire é o seu trabalho mais "pesadélico" até hoje. Mas seria mesmo necessário dar-nos um pesadelo de 3 horas? É que a determinada altura já não sabemos se estamos num cinema a assistir ao pesadelo de outrem, ou se somos nós que estamos a sonhar um pesadelo depois de adormecermos num cinema... (Adendando: como sempre nos filmes de Lynch, os actores são soberbos.)

sexta-feira, maio 11, 2007

Uma imagem vale mais...

Desculpem-me pelo elogio descarado, mas acreditem que é sincero: o Notas ao Café é um blogue imprescindível. A selecção de cartoons é excelente, surgindo devidamente acompanhados de um texto que os enquadra e/ou os aprofunda. Este e este são notáveis, mas roubei o meu preferido para o Bem pelo Contrário. Com a devida vénia, aqui fica este delicioso cartoon sobre o que (já não) há a fazer no Iraque:

Steve Sack, «The Minneapolis Star-Tribune»

quinta-feira, maio 10, 2007

Perfeito, perfeito...

... era que as pessoas estivessem caladas nas bibliotecas. Que os toques polifónicos fossem proibidos em edifícios públicos com menos de 100 m2 e sem ventilação sonora adequada. Que os meus vizinhos de cima usassem chinelos. Que a utilização de buzinas para chatear o condutor alheio fosse punida com prisão preventiva. Que a música techno fosse abolida nas lojas de roupa. Que os gritos das crianças fossem devidamente taxados em restaurantes e outros locais públicos.

Perfeito, perfeito, era que o mundo fosse um tudo ou nada mais silencioso.

a arte da fuga, 11

Natalia Goncharova, Geada, 1911

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Declaração de interesses

Ainda sem saber se vai ter apoio partidário, sem considerar os elementos da sua equipa e sem conhecer as suas propostas concretas, tenho para mim que Helena Roseta poderia ser uma excelente Presidente de Câmara de Lisboa.

terça-feira, maio 08, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 26

A propósito da cruzada pós-moderna anti-tabaco:

1) Um Estado que insiste na aprovação de leis que sabe de antemão não terem qualquer ponta de eficácia não é um Estado caduco?

2) Supondo que num qualquer restaurante fechado uns cinco ou seis clientes em mesas diferentes acendem um cigarro, é expectável que, cumprindo zelosamente os seus deveres legais, o proprietário do estabelecimento peça aos respectivos clientes que apaguem os respectivos materiais de fumo. Supondo agora que os ditos clientes a tal se recusam. Quid iuris? Convidados a sair?, empurrados a sair?, autuados pela polícia?, cuspidos em cima?, violentados com umas lambadas ofertadas pelos outros clientes?... Talvez se houver um funcionário da ASAE vigilando cada estabelecimento...

3) O não-fumador tem um direito à saúde dos seus pulmões. Não terá o fumador um direito à sua saúde mental?

4) Se eu for proprietário de um restaurante que decorei com vista a uma clientela fumadora (por crer ser esse o maior público-alvo de um restaurante como o meu), que deverei fazer à minha casa? Fechá-la? Poderei então pedir uma indemnização ao Estado português por danos sofridos pela nova lei?

5) Passará a haver em Portugal aqueles estranhos guetos de fumo, onde os fumadores são empilhados num apertado cubo de névoa, como existe em Espanha, por exemplo?

6) Por outro lado, palimpsestando o Chief Justice Holmes: o meu direito a fumar não acaba quando o meu fumo embate no nariz do meu vizinho?

7) Será que a minha mulher, que sabe quanto me incomoda o fumo do tabaco, me perdoará por este post anti-probicionista? E continuará a ser este o único tema político que nos divide?

Duvidança Especial (14)

(Clicar na imagem para ver filme)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

segunda-feira, maio 07, 2007

Opções

Na Madeira, Alberto João Jardim consegue uma vitória histórica, obtendo mais do quádruplo dos votos do PS. Ontem decorreu a segunda volta das eleições presidenciais francesas, onde votaram mais de 35 milhões de pessoas, com um triunfo notável de Sarkozy. Hoje foi divulgado um relatório da UE que cria grandes dúvidas acerca do controlo do défice em Portugal (o tal que obriga a enormes sacrifícios dos portugueses), e que confirma que o nosso país tem o pior crescimento económico da UE pelo sétimo ano consecutivo.

Qual é a notícia de abertura do telejornal da SIC Notícias? No Algarve, a polícia continua as buscas para encontrar a “pequena Madeleine”.

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Obrigado, Zé!

A coluna “Viver para Contar” (revista Tabu, no Sol), da autoria de José António Saraiva, é verdadeiramente indispensável. Nela, o autor apresenta-nos o fruto de reflexões elaboradas, o resultado de anos e anos de meditação intelectual. Veja-se o texto deste sábado, acerca do ciúme, repleto de pensamentos profundos e originais:

“O ciúme está associado ao medo de perdermos o amor ou a atenção de um ser de quem gostamos. [jura!] Todos gostamos de ser amados”; “Por significar o receio de uma perda, o ciúme é tanto mais forte quanto maior se apresentar a perda”. Para que o leitor não perca o fio à meada, perante tão intrincado argumento, Saraiva explicita: “Dito de outra maneira, quanto mais gostamos de uma pessoa mais medo temos de a perder – e, por isso, mais ciúmes temos dela”. Este homem é um génio.

Mas há mais: “os apaixonados tendem a idealizar o objecto da paixão. Não vêem a outra pessoa objectivamente, tal como os outros a vêem: vêem-na como um ideal”. Quem diria que uma pessoa que idealiza uma outra pessoa a vê como um ideal...

O texto tem ainda momentos de pura arte literária: “A quem não aconteceu achar uma pessoa o ser mais encantador do mundo (...) e um tempo depois encontrá-la na rua e achá-la vulgar, banal, igual às outras? [que tal estes três pleonasmos?] Sentimos que houve um encantamento que se quebrou, um efeito de deslumbramento que se esfumou. [Shakespeare meets Kafka]”. E também há um bocadinho de Camilo: “Se os ciúmes e as paixões durassem a vida inteira, muita gente morreria de amor”.

Para terminar, dois excelentes apontamentos sobre a ética animal, a mostrar que este é um texto multifacetado: “O Paco (que é o meu cão, de quem já aqui falei) é terrivelmente ciumento. Se vê alguém de quem gosta abraçar ou beijar alguém, perde positivamente a cabeça: começa a ladrar furiosamente e põe-se em pé, procurando separar as pessoas. (...) Quando o meu cão se intromete entre mim e alguém que abraço, sinto a medida do sentimento que tem por mim”.

Obrigado Zé! Não desistas de partilhar connosco estes momentos de inspiração filosófica.

sábado, maio 05, 2007

O regresso do circo

Como o "caso Esmeralda" está encerrado, os jornalistas portugueses – sempre ansiosos por mais uma história de faca e alguidar – regalam-se com o desaparecimento de uma criança inglesa no Algarve. Os noticiários dedicam largos minutos ao caso da "pequena Madeleine" (excelente prolongamento linguístico do "caso Esmeralda"), em directos com testemunhos da população (que naturalmente nada sabe, nada viu, nada ouviu), declarações da polícia (que se refugia no estafado "estamos a investigar"), e ainda, obviamente, com o pedido de auxílio dos pais, repetido até à exaustão.

Verdadeiramente espantosas são as reportagens sobre o modo como a imprensa inglesa aborda o caso, notável exemplo do tema "o jornalismo dentro do jornalismo dentro do jornalismo", que revela o nosso inultrapassável provincianismo (não há nada de que os portugueses gostem mais do que ser tema de reportagem "lá fora"), e o patético egocentrismo da imprensa nacional, sempre em busca das "reacções estrangeiras" e da auto-referência. Tudo isto oferecido em pacotes sentimentalistas, em narrações arrastadas e melancólicas e com Chopin em música de fundo.

Todas as semanas desaparecem crianças em Portugal, levadas para o mundo da pedofilia, da escravatura laboral, da prostituição. As famílias nunca verão o seu rosto na televisão: são casos demasiado vulgares para merecerem um espectáculo mediático.

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Nós somos muito modernos

O cultivo do tabaco iniciou-se na Virgínia no princípio do século XVII. O seu primeiro Governador, Thomas Dale, proibiu esse cultivo (sem sucesso), seguindo ordens do rei inglês Jaime I, para quem o tabaco “tendia em geral a corromper os corpos, as maneiras e as mentes dos homens”.

Coisas que valem a pena, 12

We'll always have Paris.

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sexta-feira, maio 04, 2007

Curtas

MOMENTO PAULO COELHO. Ségòlene Royal encontrou uma forma poética para terminar os seus comícios: “Vamos dar as mãos, vamos unir os nossos corações, vamos conquistar, todos juntos, a França!”. A discussão política continua elevada.

A ENTREVISTA. “Ó Judite!”, para aqui, “ó Judite!”, para acolá. Marques Mendes refugiu-se num estilo paternalista para tentar disfarçar o impossível: a aguda e profunda crise do PSD.

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS. SIC Notícias, Jornal das 9. Para Luís Fazenda, o presidente da Câmara de Lisboa, o arguido Carmona Rodrigues, está “agarrado ao poder”. A presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, a arguida Ana Cristina Ribeiro (BE), está “a fazer um grande esforço ao serviço da causa pública”.

O MILAGRE. A “fraca” equipa do Espanyol, que para muitos jornalistas desportivos se tornou ainda mais fraca quando eliminou o Benfica, cilindrou o Werder Bremen (5-1 no agregado dos jogos) e está na final da Taça UEFA. Venceu ontem em Bremen, contra uma equipa que não perdia em casa para as competições europeias há 9 jogos (nos quais defrontou Barcelona, Chelsea e Juventus). O Espanyol ainda não perdeu qualquer encontro na UEFA, leva 9 vitórias e 3 empates, marcou 30 golos e é a equipa com mais pontos conquistados no Ranking da UEFA este ano (incluindo a Liga dos Campeões). São uns sortudos.

quinta-feira, maio 03, 2007

Coisas que fazem rir, 11

1) Diz a Visão desta semana: «O Clube dos Pensadores, um grupo de reflexão dinamizado por Joaquim Jorge, vai organizar um debate, a 7 de Maio, sobre a realidade do futebol português e a utilização de novas tecnologias. Hermínio Loureiro, presidente da Liga de Clubes, Vítor Baía, guarda-redes do Porto [...], e Drulovic, ex-jogador, são os convidados especiais

2) Em entrevista à mesma revista, na sua página 52, diz Paulo Rangel: «A liberdade de expressão e as garantias de defesa dos cidadãos são património do PSD.»

3) Em três anos consecutivos, a única equipa que conseguiu eliminar o Liverpool da Liga dos Campeões de futebol foi o SLBenfica.

Coisas que fazem rir, 10

Notícia do DN da passada quarta-feira: «[...] a PSP teve de intervir durante o discurso de Alberto João Jardim no nó que liga a via rápida ao Bairro da Nazaré. [...] centenas de pessoas enchem os passeios. No meio da multidão os candidatos do PND, mais o actor que interpreta Manuel do Bexiga, aquecem os ânimos. Jardim finge que nada se passa, mas as "bocas" lançadas pela personagem não deixam dúvidas. Uma jovem ameaça "aquelas bestas com uma porrada" e, de imediato, passa à agressão. A polícia intervém.

Já no palco, Jardim, na qualidade de presidente do governo demissionário, decide homenagear aqueles que "foram enxovalhados por alguns que, na Madeira, ganharam fortunas à custa dos trabalhadores madeirenses". Lembrou os homens que "plantaram a cana-de-acúçar e que a entregavam no engenho do Hinton, deitados no muro da ribeira, com a balança que era do patrão e que pagava o que queria".

Nesta altura percebe-se que o discurso vai azedar. Um dos elementos da PND presente na inauguração, Jorge Welsh, é herdeiro dos Hinton. Mas o pior estava para vir quando Jardim se dirige "aos colonos do Baltazar que não remiam a terra", sendo preciso "ir para tribunal para que a terra fosse entregue" a quem a trabalhava.

"Evoco todos esses trabalhadores humilhados e ofendidos por famílias que deviam ter vergonha do passado e ter honra na Madeira Nova." De repente, uma voz saída da multidão grita: "Mentiroso, mentiroso. Você é um mentiroso", sobrepondo-se às palavras de Jardim. É Baltazar Aguiar, candidato do PND, cunhado de Manuel Monteiro e filho do primeiro líder do CDS/ /PP regional, o advogado Baltazar Aguiar, que não admite a referência de Jardim à sua família.

A confusão instala-se. Baltazar continua. Jardim mal consegue acabar o discurso. A PSP cerca os homens do PND. Ao mesmo tempo, Baltazar diz que Jardim "está a insultar milhões de madeirenses", pois na ilha, "incluindo na família dele [Jardim], houve colonos e senhorios". "A minha família foi colona e senhoria. É uma vergonha que este senhor, 30 anos depois de Abril, venha virar o povo contra o povo. E que a cinco dias das eleições se façam inaugurações eleiçoeiras para insultar as pessoas."

Um homem de cadeira de rodas eléctrica, com uma criança ao colo, tenta atropelar o orador. A polícia mete-se a meio. Jardim está afastado. Diz que não se apercebeu de nada. Segue para a terceira inauguração, a de uma ETAR no Caniçal.»

O caos de Lisboa

Nesta triste história, PS e PSD não ficam nada bem na fotografia. O PSD, por razões óbvias. A escolha de Santana Lopes – o Kalimero português – redundou num erro político crasso, que deixou Lisboa durante vários anos ao abandono. Utilizando a Câmara como trampolim para o poder, Santana limitou-se a deixar o tempo passar, sem tomar decisões determinantes para o futuro da cidade. Seguiu-se Carmona Rodrigues, uma escolha pessoal de Marques Mendes, que triunfou pela sua honestidade e pela sinceridade do seu projecto político. Infelizmente, deu-se um desastre e a Câmara de Lisboa é hoje um freak-show, onde pululam oportunistas, corruptos e políticos absolutamente inábeis.

Vão aparecer muitos elogios a Marques Mendes, pela “coerência” demonstrada ao retirar o apoio a Carmona e ao pedir eleições intercalares, mas não creio que o líder do PSD mereça crédito por isso. Na verdade, não se tratou de uma verdadeira opção, mas de uma manobra de sobrevivência política – pois sem esta posição todo o programa moralista de Mendes ruiria, juntamente com a sua credibilidade e a sua capacidade de liderança. Além disso, onde estava Marques Mendes quando, há uns meses atrás, Fontão de Carvalho e Gabriela Seara foram constituídos arguidos? Onde estava Mendes quando a autarquia se afundava em escândalos de favorecimentos? Onde tem estado Mendes, afinal, à medida que a Câmara se afunda num vórtice de asneiras?

O PS também deve ser censurado, pois orientou a sua conduta por princípios puramente politiqueiros. Perante a catástrofe que atingiu a Câmara, veiculou sempre uma mensagem ambígua, criticando o executivo, mas sem exigir a consequência lógica: a convocação de eleições antecipadas. Naturalmente, fê-lo por duas ordens de razões. Por um lado, porque pretendia que o PSD se afundasse ainda mais ao longo dos próximos meses, para que o triunfo em 2009 não lhe escapasse em definitivo. Por outro lado, porque sabe que as eleições intercalares se referem apenas à autarquia, e não à Assembleia Municipal, onde o PSD detém maioria.

Receando o combate político, e o verdadeiro desafio que seria liderar o executivo camarário contra uma Assembleia hostil, o PS preferiu apostar numa estratégia cínica, aguardando a consumação da tempestade para depois recolher os despojos de guerra. Tudo isto com a conivência do seu Secretário-Geral, que ainda não se pronunciou uma única vez sobre o assunto.

Enquanto isto, Lisboa permanece uma cidade mais suja, mais feia, com mais trânsito, mais violência, casas a preços absurdos, uma rede de transportes públicos ridícula, uma zona ribeirinha atulhada em contentores, jardins abandonados, um programa cultural diminuto, uma administração pública abúlica, ruas esburacadas e obras intermináveis. Mas orgulhosa do seu casino, dos seus túneis e da Revista.

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Duvidanças de uma mente curiosa, 25

A propósito de Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal:

- Serei eu o único a crer que nenhum dos candidatos ainda em corrida tem "pinta de presidente"?

- Porque é que os media portugueses parecem dar maior importância ao que sucede em França, em detrimento de países que têm mesmo relevância europeia, como a Alemanha, ou a Inglaterra? Não me lembro de as últimas eleições legislativas alemãs terem tido semelhante destaque...

- Sinceramente falando, haverá algum problema em não ligar importância alguma ao que vai ocorrendo na política francesa?

quarta-feira, maio 02, 2007

Lost in Translation

Há uns tempos, escrevi um post sobre os lastimáveis trabalhos de tradução produzidos para a televisão e para o cinema. Alguns amigos criticaram-me, considerando excessiva a minha observação. Infelizmente, os exemplos gerados desde aí parecem continuar a dar-me razão. Ainda na segunda-feira, a série “Mentes Criminosas” (AXN) motivou um caso notável. O episódio tratava de um serial killer que assassinava prostitutas em Washington. Inicialmente, os ataques ocorriam em becos escuros, mas posteriormente o psicopata atacava as vítimas de modo quase indiscriminado. Encontrando uma das prostitutas assassinadas junto ao Capitólio, um investigador afirma: “He is getting bolder” ("ele está a tornar-se mais ousado"). Tradução? “Ele está a tornar-se mais careca (balder)” (!!!).

Este exemplo patético não tem a ver com “falta de tempo”, nem prazos apertados, como sugeriam as minhas amigas C. e H., já que se tratava de uma simples frase. O problema é mesmo a incompetência. Pois, das duas uma: ou o tradutor não viu o episódio e não sabe que “bold” (ousado) não tem nada a ver com “bald” (careca) – e devia mudar de ramo; ou viu o episódio e achou que um serial killer, depois de esventrar quatro prostitutas, começou de súbito a perder o cabelo. O que até teria a sua graça, convenhamos.

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terça-feira, maio 01, 2007

Mstislav Rostropovich

Faleceu na passada sexta-feira este violoncelista excepcional, capaz de expressar uma notável paleta de emoções: ora tocando Haydn maquinalmente, absorvendo o racionalismo da partitura, ora anunciando o entusiasmo de Dvorak com lampejos de fúria. Transportava o público para ambientes de inexplicável serenidade ou de surpreendente inquietação. Ofereceu-nos o violoncelo como nenhum outro o fizera. E tocou Bach como ninguém.

Loose Change (parte II)

Na noite de Domingo, a RTP1 transmitiu “O Julgamento de Tony Blair”, telefilme que gerou polémica em Inglaterra, pela forma como ostensivamente acusava Blair de “crimes de guerra”, responsabilizando-o pelo envolvimento britânico na Guerra do Iraque. Esperava uma abordagem parcial, mas razoavelmente fundamentada. Ingénuo, claro. Trata-se de uma obra de propaganda rasteira, que se observa a si própria como um objecto de elevação moral, capaz de corajosamente “denunciar” e “criticar”. O problema é que o realizador e o argumentista acharam que bastaria estender o dedo indicador para alicerçar a narrativa e a “mensagem”, dispensando uma crítica verosímil e minimamente sustentada.

Na ausência de mais ideias, bastou uma sessão de “brainstorming” e a tradicional estratégia do retrato maniqueísta: Blair é um homem sem escrúpulos, egoísta, corrupto, ensimesmado, a quem apenas o poder importa, um criminoso de guerra perseguido por vozes, fantasmas e visões da sua própria morte em televisores que o recordam, a todo o instante, da sua terrível culpa (e tem uma cauda vermelha, barbicha, dois chifres e os amigos tratam-no por Belzebu). A esposa, naturalmente, é um ser angélico, que o responsabiliza por todas as atrocidades que são cometidas no Iraque, e que o chama à razão – sem sucesso.

Numa cena fabulosa, está contido todo um programa: Blair, já destruído pelo “julgamento” e consumido pelos remorsos, recebe um telefonema da Embaixada americana, para uma reunião de trabalho. Quando comunica a mensagem à sua esposa, esta questiona: “E o que vais fazer à Embaixada americana? Discutir crimes de guerra?”. Obviamente! – afinal, que mais pode um primeiro-ministro inglês fazer numa Embaixada americana senão orquestrar planos para assassinar criancinhas com morteiros e granadas?

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