quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Recomenda internamento?

"O Arsenal e o Chelsea são equipas rivais, equipas cada vez mais rivais, equipas por vezes doentiamente rivais".

José Marinho, jornalista da SportTv.

a arte da fuga, 7

Willem de Kooning, Excavation, 1950

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Perguntas de algibeira

Passaram onze dias desde que foi anunciado o extraordinário aumento do desemprego em Portugal. Para quando a explicação do Governo, numa sessão em directo às 20 horas?

O ministro Correia de Campos é um exemplo de uma pessoa que não acredita no que diz, mas pensa que acredita ou de uma pessoa que acredita no que diz, mas sabe que não devia acreditar? Em qualquer dos casos, não acredita Correia de Campos que está na hora de se demitir?

As emissões de dióxido de carbono cresceram em Portugal a um ritmo avassalador e estamos longe de cumprir as metas estabelecidas por Quioto. Além da notícia idiota de que o Secretário de Estado do Ambiente vai comprar um híbrido, para quando medidas capazes de fazerem (realmente) a diferença?

Por que é que Fernando Santos insiste em fazer substituições aos 91 minutos de jogo?

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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 16

A propósito deste livro de Pedro Mexia:
- É impressão minha ou não há capa mais elucidativa do que esta?: um autor perdido num submarino que se afunda...

A propósito dos Oscars desta noite:
- É impressão minha ou o único oscar verdadeiramente merecido foi o de Ennio Morricone?
Também a propósito do dito sujeito, assaltou-me uma Duvidança Especial (7):

(Clicar na imagem para ver filme)


- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

Cartas de Iwo Jima

O grande equívoco na abordagem a esta obra notável é considerá-la simplesmente como a segunda parte de um díptico dedicado à batalha de Iwo Jima, que se limitaria a mostrar “o lado japonês” do conflito, como se essa ideia constituísse por si o maior trunfo do filme. Na verdade, tanto As Bandeiras dos Nossos Pais como Cartas de Iwo Jima não são filmes sobre essa sangrenta batalha numa longínqua ilha no Pacífico, embora obviamente a tenham como ponto de partida.

Com efeito, As Bandeiras dos Nossos Pais é um tratado sobre um fenómeno específico dos conflitos bélicos – a propaganda e a ilusão por ela gerada – que toma um acontecimento singular da batalha de Iwo Jima (a elevação da bandeira americana no Monte Suribachi), para em seguida expor uma tese sobre as falsas concepções criadas pelas expectativas de quem está fora do conflito, contrastadas com a ferocidade da experiência vivida por aqueles que participaram efectivamente nesse acontecimento apenas imaginado pelos outros. Neste sentido, As Bandeiras... ilustra um diálogo surdo, e necessariamente impossível, entre aqueles que acedem à experiência da guerra em bruto, na sua áspera verdade, e aqueles que a sentem à distância, de uma forma mediada e mediatizada.

De um modo semelhante, também Cartas de Iwo Jima não é uma obra acerca da batalha de que se fala no título, mas sim um filme sobre uma série de homens condenados à morte num local remoto e inóspito – constituindo por isso um poderoso exercício metafísico acerca do que significa estar na guerra, esse diálogo próximo com a morte, o desespero e a solidão. Ao longo do filme, o que está em questão não são os eventos contingentes da batalha, ou a ambiguidade causada pela incerteza do conflito. Pelo contrário, à presença de Kuribayashi e dos seus homens na ilha está subjacente uma única evidência: Iwo Jima será o seu jazigo. Como lidar com essa verdade inexorável?

Clint Eastwood ilustra os diferentes matizes das respostas possíveis, descortinados com uma precisão clássica, atendendo simultaneamente à inerente complexidade das disposições reveladas. Uma paleta de personagens mostra a diversidade das posturas: o comandante Kuribayashi, que luta pela sobrevivência das suas tropas, até ao último minuto; os oficiais japoneses, que preferirão o suicídio à rendição; o soldado Saigo, preso numa tragédia absurda, que apenas pretende regressar a casa; o Kompitei Shimizu, dividido entre a ética militar e o complexo moral que o horror da guerra suscita; e o Tenente Ito, que procura em vão a glória da morte, e que desafortunadamente a não consegue encontrar. Diversas atitudes e modos de sentir a proximidade do fim num rochedo vulcânico, que os tons cinzas da belíssima fotografia de Tom Stern parecem unir num destino comum.

Um filme perfeito, ao qual (necessariamente) iremos voltar.

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domingo, fevereiro 25, 2007

Coisas que fazem rir, 6

As previsões de 2007 por Mestre Alves.

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Se eu fosse membro da Academia

Melhor Filme: Cartas de Iwo Jima

Melhor Realizador: Martin Scorcese (The Departed)

Melhor Actor: Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia)

Melhor Actriz: Helen Mirren (A Rainha)

Melhor Actor Secundário: Leonardo di Caprio (The Departed) - não foi nomeado, mas devia ter sido.

Melhor Actriz Secundária: não estaria muito para aí virado.

Melhor Argumento (adaptado): The Departed

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sábado, fevereiro 24, 2007

Traduttore, traditore

A ambivalência que rodeia o mercado da tradução é inexplicável. De um lado, as traduções literárias e científicas, de qualidade apreciável, por via do empenho de especialistas rigorosos e bem preparados. Do outro, as traduções televisivas e cinematográficas, miseráveis e pavorosas.

Nos últimos dias registei vários erros grotescos de toda a ordem. Numa série do AXN, um jovem confessa a um juiz ter consumido marijuana: "Yes, I was high." ("Sim, eu estava pedrado"). O tradutor preferiu um "Sim, eu estava alto". Numa cena do filme ainda em exibição "O Último Rei da Escócia", o actor principal (um médico escocês) marca um golo num jogo de amigos, gritando "Another goal for Scotland!". Estarrecido, pude ler nas legendas: "Mais um objectivo para a Escócia!". Numa reportagem da RTP sobre uma aterragem descontrolada de um avião, um passageiro dizia que "as pessoas tinham ficado doentes", segundo a legendagem. O senhor tinha afirmado: "people were getting sick" ("as pessoas estavam a ficar enjoadas"). Numa série da TVI "prosecutor" surge como "promotor", quando a referência era obviamente ao "advogado de acusação". Num western, um assalto a uma diligência (the stage [coach]) foi transformado num assalto ao "teatro". Por fim, parabéns à imaginação do tradutor do filme "O Patriota" (SIC), que conseguiu ver na "French and Indian War" (Guerra dos Sete Anos ou Guerra da França e da Índia) uma "Guerra da França contra a Índia", num interessante exercício revisionista.

Estes exemplos – a que se poderia juntar a célebre tirada "Vamos fazer uma tosta! (Let’s make a toast!)" (quando no ecrã podíamos ver três companheiros a fazer um brinde) – configuram erros demasiado grosseiros para afirmarmos que se trata de falta de competência. Referi-me apenas a casos de língua inglesa, para a qual existem milhares de pessoas capazes em Portugal, e a exemplos que um aluno do 7º ano saberia resolver sem dificuldades. Não se trata portanto de um problema de falta de qualificação.

O que está em causa é a atitude do mercado de tradução relativamente ao espectador. Enquanto uma tradução de um livro, de um folheto informativo ou de uma conferência, são consideradas tarefas de indiscutível relevância pública – exigindo um elevado rigor, as traduções televisivas ou cinematográficas são entendidas, pelo próprio mercado de oferta, como um exercício de somenos importância, uma função que não merece verdadeiramente a mesma diligência dos tradutores, que facilmente trocam a qualidade do seu produto pela rapidez com que efectuam a sua tarefa. O resultado é a prestação de um serviço lastimável, que irrita o consumidor, tanto mais que o problema poderia ser resolvido com duas medidas elementares: bastaria um pouco mais de empenho e uma dose razoável de bom-senso.

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Coisas que valem a pena, 9

Conhecer o Palácio da Música Catalã, em Barcelona.

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

Duvidança Especial (6)

(Clicar na imagem para ver filme)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas? Ou, se não o youtube (por ser uma maminha mais indecente do que um enforcamento), um outro qualquer similar?

Duvidanças de uma mente curiosa, 15

A propósito da Madeira de Alberto João Jardim:

- Se parece um país diferente, se soa a um país diferente, se age como um país diferente, se recebe dinheiro exógeno como um país diferente, não poderá então ser um país diferente?

A propósito das comissões bancárias:

- Imaginemos que entramos num restaurante, sentamo-nos, lemos a ementa atentando nos produtos compráveis e nos respectivos preços, encomendamos o que pretendemos consumir (entradas, sopa, vinho, prato principal, sobremesa, café), e tomamos a nossa refeição descansados. No final, pedimos a conta devida e reparamos que para além de pagarmos as entradas, a sopa, o vinho, o prato principal, a sobremesa, e o café, pagamos 3 euros pelo simples facto de nos termos sentado, 3 euros por o empregado se ter dado ao trabalho de nos ter trazido o que pedíramos, e 1 euro por cada produto pedido. Imaginemos que, desconfiados, pedimos um esclarecimento do conteúdo da conta, sendo então apontado ao cliente o facto de, no final da ementa, em pequenas letras, vir incluída a lista destas "comissões". Ora, não nos dirá o senso comum da confiança mútua que os preços apresentados aos convidados a contratar devem incluir já o custo da sua prestação? Qual a pessoa que não exigiria o livro de reclamações, prometendo em simultâneo não mais pôr os pés em tal estabelecimento?

Paulo Portas alérgico ao poder

o belo e o sublime, 9

Lémure-negro, Bornéu

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Produtos Seleccionados

Para o Carnaval, uma escolha assumidamente conservadora.

1. "Os novos ditadores", no Hoje há Conquilhas. Sobre os recentes esforços censórios da patrulha da moral, a malta do Bloco, sempre motivada pela defesa dos bons costumes.

2. "Israel e o ataque ao Irão", no Kontratempos. Um texto desassombrado acerca do perigo real que envolve a ideia de um Irão nuclear, e da necessidade de virmos a contar com Israel, uma vez mais.

3. "Revolução", no Mar Salgado. Uma boa pergunta a fazer ao senhor Chávez.

4. "Contra os preconceitos de esquerda", no Portugal dos Pequeninos. Um merecido elogio à recente publicação portuguesa das Memórias de Raymond Aron.

5. Para terminar, um post cheio de ironia – mas que acerta em cheio – sobre a diferença entre progressistas e conservadores: "A confissão mais velha do mundo", no Cachimbo de Magritte.

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O homem certo no tempo errado

António José Teixeira tem os dias contados à frente do Diário de Notícias. Lamento-o sinceramente. Teixeira é um homem íntegro e um jornalista moderado, com um discurso claro, esclarecido, sem fazer uso da retórica e da argumentação fácil, que prefere o discernimento e o sentido crítico à análise mediática e precipitada. Não enveredou pelo radicalismo que parece ser hoje requisito de um jornalismo “de causas”, embora tenha adoptado uma postura mordaz e acutilante face aos poderes estabelecidos. Circunspecto e moderado, afável no trato, António José Teixeira encontra-se nos antípodas das modas jornalísticas hodiernas, que vivem do pitoresco, do acessório, de notícias circenses e do espectáculo da imagem. Será difícil resistir num ambiente tão adverso à sua natureza intrínseca.

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domingo, fevereiro 18, 2007

A natureza da praxe

Eis um tema que chega aos jornais ao ritmo lento das denúncias. Na última semana, a história da aspirante Cláudia Almeida Brito chocou a opinião pública e relançou o debate. Alvo de múltiplas agressões, incluindo pontapés e coronhadas na cabeça, vítima de abusos continuados, a aspirante não resistiu e viu-se forçada a desistir do tirocínio no quartel de Mafra. As investigações já começaram, mas é óbvio que, como de costume, irão esbarrar numa cortina de silêncio e cumplicidade.

O Expresso entrevistou figuras públicas ligadas ao Exército, em busca de declarações sobre o fenómeno. As respostas de Ramalho Eanes, Vasco Lourenço e Loureiro dos Santos reflectem convicções comuns na sociedade portuguesa: a tradição da praxe serve para “integrar” e “facilitar o entrosamento”, mas, se executada com violência, é reprovável e os seus autores devem ser punidos. Nada mais falso.

O equívoco reside nesta dicotomia, que define os contornos de uma praxe “boa” e de uma praxe “má”. A primeira procuraria familiarizar os indivíduos com a instituição a que agora pertence; a segunda utilizaria meios violentos para o atingir. Trata-se de uma mistificação. A essência da praxe não é a “integração”, mas sim a humilhação. A praxe não existe para introduzir um indivíduo num contexto social harmónico ao qual ele aspira pertencer, mas sim para clarificar desde logo a relação de forças que existe nesse mesmo contexto, ou seja, para tornar evidente que o noviço se encontra na base da estrutura hierárquica da instituição, devendo submeter-se às condições impostas pelo topo da pirâmide. Evitando uma longa e penosa explicação teórica destas circunstâncias, a praxe manifesta, num instante físico conciso e intenso, os contornos exactos dessas regras, instaurando uma relação imediata entre o senhor e o servo, o dominador e o submisso.

Não se trata pois de um ritual iniciático, cujo móbil é o desejo de inscrever e assimilar. A praxe é uma cerimónia puramente exclusiva, que define os espaços interditos ao aspirante, confinando-o às rígidas fronteiras da hierarquia imutável da instituição. Na verdade, só o tempo permitirá a ascensão na pirâmide, embora apenas com o intuito de cristalizar a ordem pré-definida. Em rigor, a praxe é o mais acabado e cínico exercício de mumificação que as sociedades modernas engendraram.

Uma sociedade civilizada devia erradicar este fenómeno puro de exclusão, esta coacção psicológica necessariamente violenta, esta forma de opressão perpétua. Num mundo esclarecido, não há lugar para a praxe. Sem excepções.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Como se eu fosse muito burro

Houve um brutal aumento do desemprego em Portugal no último trimeste de 2006. Existem agora cerca de 460 mil desempregados registados, num total de 8,2% da população. Um crescimento de 0,8% relativo ao trimestre anterior, e 2,5% superior no que respeita ao trimestre homólogo de 2005. Trata-se do maior desemprego em Portugal nos últimos 20 anos. Aguardo pacientemente pela explicação do governo, de preferência em Powerpoint.

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Sic transit gloria mundi

Três meses de campanha para o referendo. Horas e horas de debates inócuos e argumentos vazios. Mais uns dias a discutir os resultados. Um comboio caiu num rio. Agora vamos esperar a ver se resgatam os desaparecidos. Um estudo qualquer (cheio de boas intenções, não duvido) chegou à conclusão que uma em cada cinco crianças portuguesas está de mal com a vida. Já se antevê um Prós e Contras com pedopsiquiatras, sociólogos, associações de pais, professores no desemprego e a pandilha do costume em acalorada discussão. Parece que há por aí umas prostitutas com SIDA que não usam o preservativo e não dizem nada à malta. Um tribunal acha mal. Esmeralda está desaparecida e o Sargento emagreceu uns quilitos. No fim-de-semana é Carnaval, a Páscoa é logo a seguir e a época de incêndios está quase a começar. E depois, bem, depois é o calor. E as férias.

Por vezes tenho a sensação de que se Portugal se afundasse, os telejornais abriam com notícias sobre a venda de equipamentos de mergulho em Sernancelhe.

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

a arte da fuga, 6

Paul Cézanne, La montagne Sainte-Victoire, 1902-1904

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Mania da higiene

Recentemente, a Autoridade das Actividades Económicas fez uma inspecção ao transporte de pão em camiões e apreendeu umas quantas carcaças por desrespeito das normas de conservação. Logo se apressou o condutor a esclarecer: “É verdade que as condições não eram famosas, mas até parecia que estava lixo em cima do pão!”. Não nos escandalizemos, dado que esta cena ocorreu na passada sexta-feira. Não voltarão a repetir-se tiradas deste calibre, pois desde domingo Portugal transformou-se miraculosamente num país moderno, progressista e civilizado.

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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Teste

De volta à Idade da Pedra.

Esclarecimento: estava apenas a experimentar as extraordinárias potencialidades do Novo Blogger. Mas agradeço os comentários.

Duvidança Especial (5)

(Clicar na imagem para ver filme)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas? E ficará contente a minha namorada (que é também minha mulher) por lhe dedicar este vídeo?

Choque tecnológico

O Novo Blogger deve ter inúmeras vantagens, não duvido. Para já, o único efeito da mudança forçada é um estado de irritação permanente em quem o utiliza. Não se consegue postar vídeos, a edição e publicação de texto dá sistematicamente erro, a caixa de comentários está cheia de spam e mensagens auto-geradas, o sitemeter não funciona. Isto está bonito.

Actualização: o sitemeter desapareceu por artes mágicas. Pede-se a quem o encontrar, o favor de contactar o nosso e-mail. A gerência agradece.

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Quando rir (não) é o melhor remédio

A (lamentável) iniciativa do “Pior Português de Sempre”, organizada pela SIC e pelas Produções Fictícias, chegou ao fim. Da pior maneira possível. Foi escandalosa a forma como a produção procurou subverter os resultados e condicionar o apuramento de um vencedor. Surpreendidos e chocados com a possibilidade de Mário Soares ser o eleito – depois de passar semanas a fio na liderança da votação – os produtores chegaram a equacionar a hipótese de “cancelar a gala final”, como admitiu Nuno Artur Silva há cerca de um mês. Imaginativamente, os humoristas decidiram engendrar um outro expediente para obter os resultados pretendidos, seleccionando cinco personalidades para uma “fase final”, a ver se Salazar ultrapassava finalmente Soares.

Todavia, nada havia a fazer. A quatro dias do fecho das votações, Soares continuava a liderar destacado... Tempo para uma manobra extra, ao serviço do politicamente correcto. O site deixou de mostrar os dados oficiais, sob o pretexto de uma “grande revelação” na noite da (dita) gala. Lá apareceram a patrulha da praxe e as recomendações veladas para votar no ditador. Aliás, foi bonito ver os próprios apresentadores a esclarecerem: “isto vai decidir-se entre o doutor Mário Soares e o OLIVEIRA SALAZAAAAR. Para o caso de ainda alguém estar com dúvidas.

Com pompa e circunstância, veio o anúncio. Salazar vencera, pois claro. O “Pai da Pátria” não podia ser submetido a esta sátira, a esta vergonha, enquanto o outro, o ditador, o fanfarrão, está mortinho e enterrado. Um alvo fácil, naturalmente. E assim terminou esta farsa, entre risos contidos e laivos de manipulação. Ao bom e velho estilo do vencedor, o tal senhor que o programa procurou por todos os meios demonizar.

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 14

A propósito de algumas parvoíces:

- A demanda de Pedro Arroja em tornar-se o João César das Neves da sua geração (evidenciada aqui e aqui, por exemplo) leva-me a inquirir: porque é que o comprometimento ideológico e religioso de uma pessoa leva-a a tornar-se cientificamente inválida?

- Noticia o DN que Concessionárias pedem dois milhões ao Estado, por terem sido lesadas nos seus direitos contratuais. E quais são os motivos e os factos invocados para a dita compensação? Segundo o DN, (1) "alterações impostas pelo concedente por motivos de esfera política ou resultantes de intervenções do poder local", (2) "atrasos na execução pela demora nas declarações de impacte ambiental ou na entrega de terrenos", e (3) "a evolução da procura abaixo do previsto". Os dois primeiros parecem-me razoáveis, se contratualmente previstos, ou se correspondem a modificações contratuais unilaterais por parte do concedente (porque só nas relações bancárias é que impera o estranho hábito de o banco realizar alterações contratuais, sendo os custos correspondentes suportados pelo outro contratante). Quanto ao terceiro, sinceramente não percebo: quando uma empresa concorre a determinada exploração comercial, não faz os seus próprios estudos de viabilidade financeira da dita exploração? Entrar no mercado (mesmo que não concorrencial) não acarreta riscos? Não acarreta poder ganhar, mas pelo simples facto de se estar lá a fazer o que se faz, poder também perder? Quando é que os empresários portugueses percebem que a sua actividade é uma actividade de risco, que implica ganhar ou perder, consoante a sua capacidade, e que não é função do Estado suportar a mediocridade? É que assim sendo, não hesito: também quero ser concessionário de alguma coisa. Dessa maneira, I can't lose...

- Como é que o presidente do Irão, aqui, continua a acreditar piamente na estultícia de todas as outras nações do mundo?

Pós-referendo (II)

Um breve passeio pela blogosfera, pelos jornais ou pela televisão mostram igualmente a evidência da auto-ilusão como lastimável sub-produto da votação de dia 11. Frases como “Portugal chegou ao séc. XXI” (verdadeiro grito de vitória na noite de domingo), ou o extraordinário post “Acordar com a sensação de que a longa noite obscurantista chegou ao fim” (Sim no Referendo) são manifestações ridículas de quem precisa urgentemente de sair de casa e observar a triste realidade portuguesa. Não me interpretem mal: o triunfo do “sim” foi um passo positivo e necessário para resolver um problema de saúde pública, mas considerar que se verificou um “avanço civilizacional” ou que Portugal, por artes mágicas, registou no domingo um progresso significativo para a sua existência, é um exercício quimérico e delirante.

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Pós-referendo (I)

O referendo ao aborto deu origem a dois lamentáveis sub-produtos: o ressentimento e a auto-ilusão. O primeiro encontra-se, desde logo, entre alguns defensores do “não", que, uma vez conhecidos os resultados, deram imediatamente azo à mais primária insensatez. O caso de Luís Filipe Menezes é exemplar do ponto de vista político, quando afirmou que “o primeiro-ministro saiu ferido na sua credibilidade” e que a votação de domingo “foi um primeiro cartão amarelo a esta governação cinzenta, desesperançada e triste” (aqui). Na blogosfera também assistimos a algumas tiradas infelizes. Talvez a mais estapafúrdia tenha sido expressa no Blogue do Não, onde se podia ler 11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!”.

Mas o ressentimento assumiu outras figuras, nomeadamente entre os vencedores que, não satisfeitos com o facto, logo se apressaram a ressuscitar ódios de estimação, utilizando uma argumentação sectária e disparatada. Daniel Oliveira, Vital Moreira e Carlos Abreu Amorim, por exemplo, não hesitaram em identificar o grande derrotado do referendo: a Igreja Católica. A mesma Igreja Católica que oficialmente não se envolveu na campanha, a mesma que demonstrou uma moderação exemplar – salvo os inevitáveis excessos de 2 ou 3 casos isolados – a mesma que evitou declarações oficiais e se pronunciou exclusivamente a favor da vida (de acordo, aliás, com os seus princípios intrínsecos).

Algumas pérolas dos bloguistas supracitados: “(...) constatou-se a força decisiva que as seitas possuem dentro da máquina eclesiástica. Perderam. Por culpa própria. E muito mais do que um simples referendo. Estranhamente, uma instituição que prima pela actuação tácticamente ponderada, quase sempre sábia, não percebeu a mudança enorme que este país teve nos últimos anos.” (CAA, aqui); “desde a implantação da República que a Igreja Católica não sofria uma derrota política tão profunda. E desta vez directamente às mãos do voto popular. Decididamente, a Igreja deixou de comandar a consciência moral dos portugueses e as opções políticas do Estado.” (Vital Moreira, aqui); e para terminar, o inenarrável Daniel Oliveira: “O poder político da Igreja sai muitíssimo fragilizado deste referendo. Depois deste resultado, dificilmente a chantagem da igreja terá a mesma eficácia” (aqui, sublinhados meus).

Decididamente, o dia 12 serviu para expelir toxinas e revisitar alguns fantasmas.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Duvidança Especial (4)

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- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas? E quando é que o youtube conseguirá funcionar com a porcaria do New Blogger?

Ficar em casa

Como é habitual, o elemento eleitoral mais incompreendido pelos comentadores foi o da abstenção. Nos últimos anos, à medida que se acentuou o decréscimo da percentagem de votantes (especialmente visível em referendos e eleições para o Parlamento europeu), vingaram essencialmente três teses: a) a desculpa climatérica (de variantes infinitas: frio, calor, vento, chuva, nuvens escuras, geada matinal, sol encoberto, etc.); b) a auto-crítica (os políticos não souberam passar a mensagem, a comunicação social não fez uma boa cobertura da campanha, etc.); c) a censura moral (o povo está-se nas tintas, não quer saber da política, desinteressou-se pela coisa pública, troca os centros comerciais pelo dever de votar).

São teorias válidas, mas que apenas explicam parcialmente os resultados. Na verdade, creio que a abstenção elevada pode ser justificada por três outras razões bem mais decisivas.

1. Os cadernos eleitorais estão repletos de imprecisões, existindo um grande número de cidadãos que já faleceram ou que entretanto mudaram de residência, mas continuam registados nas antigas freguesias. Dados mais ou menos oficiais estimam que existem entre 300 a 400 mil eleitores-fantasma. Mesmo que todos fôssemos votar, haveria sempre pelo menos 5% de abstencionistas.

2. A lei actual está completamente desfasada da realidade social portuguesa. A regra que obriga uma pessoa a votar na freguesia em que está registada é obtusa e contrária a uma sociedade moderna, na qual esse sedentarismo individual escasseia. Na verdade, quantos são os cidadãos que, por diversos motivos (profissionais, pessoais, etc.), se encontram numa região afastada do local onde estão registados? E quantos destes indivíduos estariam dispostos a votar, desde que para isso fosse possível fazê-lo nos locais de voto mais próximos? Num mundo informatizado, e num país que proclama adoptar o “choque tecnológico”, nada mais fácil.

3. Por fim, importa clarificar que a abstenção nem sempre configura um desinteresse. Ao invés, ela é muitas vezes fruto de uma decisão consciente e ponderada, traduzindo uma tomada de posição. Perante a pouca expressão dos votos brancos (usualmente nem sequer figuram nos gráficos televisivos), são muitos os eleitores que, por vários motivos (desagrado em relação aos candidatos, reprovação da pergunta em questão – no caso de um referendo, descontentamento com o sistema político, não-identificação com as propostas partidárias, etc.), decidem abster-se do seu direito de votar (escrevi direito e não dever, porque é disso que se trata). Compreendendo este dado, e procurando respeitar os muitos milhares de cidadãos que adoptam esta figura da abstenção, talvez fosse bom evitar a já tradicional e precipitada condenação moral dos abstencionistas.

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domingo, fevereiro 11, 2007

Acontecimentos improváveis nesta noite de domingo

A Eurosondagem acerta na sua projecção. A explicação de Rui Oliveira e Costa é esclarecedora.
Francisco Louçã não utiliza a expressão “mulheres humilhadas e perseguidas” no seu discurso.
Jerónimo de Sousa clarifica o conceito de “avanço civilizacional” citando Locke e Kant.
Sócrates faz um discurso de vitória espontâneo, demonstrando um entusiasmo genuíno.
Um apoiante do “sim” refere-se finalmente à “interrupção voluntária da gravidez” como “aborto”.
Independentemente do resultado, nenhum membro do Bloco recorrerá aos termos “vão de escada”, “aborto clandestino” e “lei medieval”.
Com a vitória do “não”, Daniel Oliveira converte-se ao Judaísmo.
João César das Neves e Lídia Jorge envolvem-se num apertado abraço.
Paulo Portas elogia a dedicação e competência de Ribeiro e Castro.
Marques Mendes diz qualquer coisa de jeito.

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sábado, fevereiro 10, 2007

Meditar ao sábado

O “dia de reflexão” é uma daquelas excentricidades em que (alguns) regimes democráticos são pródigos. Na tentativa de estimular a participação cívica, os governos instituíram esta curiosa concepção – muito interessante no papel, mas totalmente desadequada na prática.

O “dia de reflexão” apenas faria sentido numa sociedade desinformada, com pouca implementação dos media, alheia à coisa pública e mais ou menos afastada dos centros de decisão política. Ora neste momento em Portugal não se verifica nenhuma destas condições. Pelo contrário. O país foi bombardeado durante semanas a fio com manifestações, comícios, debates, artigos, mesas-redondas, tempos de antena e propaganda de toda a espécie. Os jornais e os noticiários televisivos veicularam essa informação com pompa e circunstância. Não se fala de outra coisa na blogosfera, nos cafés, nos restaurantes. Atrevo-me a dizer que não há nenhum português que não saiba que domingo há um referendo sobre o aborto. E depois de os argumentos terem sido esgrimidos e esmiuçados centenas de vezes, só indivíduos completamente absortos na sua vida quotidiana – que na sua esmagadora maioria são abstencionistas crónicos – ainda poderão ter dúvidas em relação a um eventual (mas improvável) sentido de voto. Neste contexto, o “dia de reflexão” não serve qualquer propósito.

Por outro lado, o “dia de reflexão” introduz uma espécie de movimento paradoxal no seio da sociedade que esta tem grande dificuldade em absorver. Tendo estado mobilizados de um modo frenético durante vários meses para discutir o tema, os movimentos organizados, os cronistas, os comentadores, os jornalistas e o cidadão comum sentem como contraditório o apelo legal para que, de súbito, se silenciem justamente nas 24 horas que precedem o evento que tão ansiosamente debateram ao longo de diversas semanas. É também por isso – ou sobretudo por isso – que o “dia de reflexão” é habitualmente marcado por uma outra disputa, entre aqueles que acabam a violar a lei (fazendo “vigílias”, incentivando ao voto nos blogues, ou imiscuindo-se em propaganda dissimulada) e os que passam o sábado a denunciá-las. Com franqueza, é um triste espectáculo que se podia evitar.

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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 13

A propósito do próximo referendo, novamente (e para não mais abordar este tema que já farta):

1) Serei eu o único egoísta imoral a preferir a despenalização como um mal menor, não por interesse das abortandas (estou-me nas tintas para elas) mas por meu próprio interesse? É que se o Estado que tem como função (recorrendo à força ou à ameaça da força) o impedir que outros destruam a minha segurança, se esse Estado incrimina um facto que sabe ser praticado e não consegue impedi-lo, preveni-lo ou puni-lo, não está a assumir publicamente a sua própria impotência? A afirmar-se incapaz da sua própria função? A proclamar a sua caducidade intrínseca? O poder da ameaça da força esbate-se assim, e o medo para com o Estado, que impede o meu inimigo de me transformar em puré de batata, esfuma-se também. E eu, pequenino, aterrorizado perante os que não gostam de mim...

2) Se o ramo do direito que trata da matéria criminal é hoje em dia usualmente chamado de Direito Penal, que nome tomará ao aceitar a tese da criminalização despenalizante? E o código contendo tal norma, chamar-se-á ainda Código Penal?

A propósito de António Lobo Antunes:

- Como é possível serem de um autor que sempre me enfadou com os seus romances (ou melhor, com o seu romance em tomos vários) as únicas crónicas que consigo ler com prazer na imprensa portuguesa?

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Produtos Seleccionados

1. “Exílio”, no Kontratempos. Sobre a fuga do prémio Nobel Orhan Pamuk para os EUA, país que fez do acolhimento a sua matriz distintiva.

2. “John Edwards, o candidato que vem do Sul”, na Grande Loja do Queijo Limiano. Uma cuidada apresentação de um político americano muito promissor, na corrida para a nomeação Democrata de 2008.

3. “O monstro sublime”, no Portugal dos Pequeninos. Sobre o (segundo!) Prós e Contras dedicado ao aborto. Uma feira de horrores.

4. “Algumas precisões sobre as relações entre o direito e a moral”, no Sobre o Tempo que Passa. Um texto de José Adelino Maltez em torno do problema da normatividade ética e jurídica, a partir dos Utilitaristas, Fichte, Jellinek e Habermas.

5. “Questionar o passado”, no Hoje há Conquilhas. A propósito da habitual perseguição do CDS-PP e da sua “juventude” aos ambientalistas, essa gente egoísta e mal formada.

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o belo e o sublime, 8

Bonobo, República Democrática do Congo

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O efeito eucalipto

Estes três meses de campanha para o referendo do aborto consumiram tantas energias, exigiram o empenhamento de tantas figuras públicas, delapidaram tantas contas bancárias, ocuparam tantas horas de debate televisivo e preencheram tantas páginas de jornais, que no dia 12 de Fevereiro ninguém vai ter forças para debater os problemas realmente importantes deste país.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A importância de um nome

Durante anos, a Primeira Guerra Mundial foi conhecida como a Grande Guerra. A dimensão global do conflito, a utilização de poderosos dispositivos bélicos, os terríveis bombardeamentos aéreos, a abertura de trincheiras e o uso de gases mortíferos transformaram aquela disputa numa guerra que o mundo nunca conhecera. Vinte anos depois, chegaria um horror ainda maior, de proporções inimagináveis. Era a Segunda Guerra Mundial, e com ela a anterior deixou de ser a Grande para se tornar somente na Primeira. Contudo, para aqueles que nele combateram, o conflito que se travou entre 1914 e 1918 continuou a ser a Grande Guerra – denominação adoptada por uma geração de historiadores e perpetuada por muitos avôs de todos nós.

As guerras sempre tiveram muitos nomes. A Guerra dos Sete Anos, termo anódino para os europeus, ideal para designar um conflito distante do século XVIII, é grafado French and Indian War na historiografia americana – conferindo um rosto a uma guerra que, na verdade, haveria de abrir as portas, alguns anos mais tarde, à independência das treze colónias.

A própria Guerra da Secessão, o evento mais marcante na consciência histórica americana, recebeu duas denominações. Para os habitantes do Leste e do Norte, ela foi a Guerra Civil, na qual pais e filhos derramaram sangue em barricadas opostas. Todavia, para os sulistas, tratou-se antes da Guerra dos Estados, travada pelas nações soberanas do Sul contra a opressão dos Estados do Norte. Para o Sul, lutou-se pelo reconhecimento da independência de facto da Confederação. Para o Norte, tudo não passou de uma rebelião dos irmãos sulistas.

Hoje disputam-se outras batalhas. Mas também nestas se luta por um nome. Os partidários do “sim” envolvem-se num complexo e demorado exercício linguístico para defender a “despenalização da interrupção voluntária da gravidez”. Entretêm-se nos termos, alongam-nos esperando que se diluam lentamente e se distanciem da audiência. Os defensores do “não”, ao invés, declaram-se bruscamente contra o “aborto”, conceito que arremessam aos incautos ouvintes, acentuando ferozmente as seis letras que o compõem. A mesma palavra, que os outros persistem em exprimir em trinta e uma demoradas letras.

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terça-feira, fevereiro 06, 2007

Cosmopolita

O "Sol" entrevista o rapper Sam the Kid e questiona-o: "Qual o melhor lugar do mundo para viver?". Sam responde sem hesitar: "Chelas".

Arrenda-se?

A decisão do Governo em reduzir o investimento no IAJ (Incentivo ao Arrendamento por Jovens) é intrigante e, a meu ver, errada. Merecerá os aplausos de vários sectores da população (sobretudo de pessoas que vivem tranquilamente numa casa paga ou habitam em apartamentos de terceiros), que encaram qualquer corte nos subsídios do Estado como uma medida positiva, mas uma observação atenta demonstra que esta opção é, no mínimo, incoerente.

Por um lado, a poupança que ela permite é quase insignificante. Importa clarificar que o IAJ é um subsídio relativamente limitado, sendo concedido por um período máximo de 5 anos e não podendo ultrapassar os 250 euros mensais. Não falemos demagogicamente em “esmola do Estado” – porque ninguém enriquece à custa deste expediente.

Por outro lado, ela diminui consideravelmente as alternativas das pessoas que, saídas das universidades, agora começam as suas carreiras e procuram organizar as suas vidas. Isto porque, embora não pratique os exorbitantes preços pedidos para compra de casa, o mercado de arrendamento exige valores altos, sobretudo nas grandes cidades. Assim sendo, a alternativa a este género de subsídio é o endividamento.

A incoerência desta decisão radica na constatação deste facto simples: se se retirar este incentivo aos jovens entre os 20 e os 30 anos – que efectivamente capacita os seus beneficiários a entrar no mercado de arrendamento (dinamizando-o e usufruindo das suas vantagens imediatas) – convida-se os mesmos ou a regressarem a casa dos seus pais e a aí permanecerem até aos 30 ou 35 anos, ou a dirigirem-se ao banco mais próximo e contraírem empréstimos por 40 anos. Independentemente do prisma de observação, esta medida consigna portanto uma inquestionável deterioração da condição económica e/ou social dos jovens, limitados logo no início da sua vida.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 12

A propósito de futebol:

1) Existe a Liga Bwin (mais conhecida por Iª Liga) e a Liga Vitalis (mais conhecida por Liga de Honra; mas qual a honra de se participar numa liga secundária?). Existe a IIª Divisão (com quatro séries) e a IIIª Divisão. Onde existirá portanto a Iª Divisão?

2) Muito dizem técnicos de banco e jogadores: "dependemos só de nós". Mas a dependência não acarreta uma relação de exterioridade? Poderá haver uma relação de dependência com uma imagem extrínseca de si, imposta intrinsecamente? Se não, "dependemos só de nós" terá de se transformar em "não dependemos de outrem", o que equivale a "independemos". Porquê esta sórdida fixação na dependência? (Adendando: a treze jornadas do fim, alegrar-se com independência sem margem de erro não soa a estultícia? Crerão seriamente os técnicos de banco que vão conseguir fazer as suas equipas medíocres ganhar todos os jogos até final?)

3) Porque é que o campo de treinos do Sporting se chama Academia? Estudar-se-á lá com tanto afinco? É que eu, por mais que olhe para os jogadores e demais empregados do clube, não consigo reconhecê-los como académicos...

4) Porque é que os jogadores de futebol salivam tanto durante as partidas, com necessidade de expelir as suas secreções em cada cinco segundos? E porque é que os realizadores de TV gostam de fazer grandes planos sobre tais expelições? E em que consistirá o prazer parafílico de se rebolar em cuspideiras de relva?

5) Porque é que Fernando, o Santos do SLBenfica, tanto exige que as coisas sejam perspectivadas "na realidade"? Estará convencido de que os benfiquistas pairam todos "na idealidade"?

6) Porque é que o SLBenfica, exceptuando uma ou outra ocasional partida para a infra-ordinária competição chamada Taça de Portugal, há mais de quinze anos que só joga à noite? Terão os seus jogadores laivos de vampirismo?

Rosa brava

Nesta sociedade mediatizada, os factos são indiferentes, o que importa é a narrativa. Assim sendo, informar tornou-se num exercício jornalístico supérfluo e dispensável.

Vem isto a propósito da grotesca “reportagem” (as aspas são um favor) apresentada pela SIC no Jornal da Noite, sobre uma tal de Rosa, adolescente de 16 anos “que não pode ir à escola”, passando os seus dias ajudando o pai a pastorear ovelhas. A peça foi um exemplo antológico de um novo estilo de apresentação jornalística: histórias banais sobre pessoas vulgares em situações comuns – que verdadeiramente não interessam a ninguém. Nada que um bom embrulho não transforme: texto poético, com tiradas lamechas, declamado por uma voz embargada; musiquinha de fundo (um piano ou um violino melancólico), dois ou três planos de pessoas tristes/pobres/desgraçadas. Pronto a vender, com o slogan “jornalismo de causas”.

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domingo, fevereiro 04, 2007

Coisas que valem a pena, 8

Bem quentinho!

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sábado, fevereiro 03, 2007

Duvidança Especial (3)

- Conseguirá o youtube conter a generalidade das minhas cenas cinematográficas preferidas?

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Um fim anunciado?

A julgar pela amostra temática das últimas semanas, suspeito que em 12 de Fevereiro o Glória Fácil e o Arrastão fecham para obras.

a arte da fuga, 5

Piet Mondrian, Tableau n.2, Composition n. V, 1914

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