O Nobel político
Orhan Pamuk, escritor turco de 54 anos, venceu o Prémio Nobel da Literatura. Apesar de a sua obra ser pouco conhecida, sabemos que se trata de um especial observador da cultura islâmica, e de um crítico do genocídio levado a cabo na Arménia entre 1915 e 1917, ainda hoje negado pelas autoridades turcas. “Mais um Nobel político”, ouviu-se dizer.
Não se julgue que se trata apenas de uma tendência comum aos últimos quinze ou vinte anos. Na verdade, o alcance político do Nobel da Literatura é uma característica essencial deste prémio, desde que foi criado.
Entre 1916 e 1920, os vencedores foram sempre escolhidos entre países não-beligerantes na Primeira Guerra Mundial, receando a Academia receber críticas ora por favorecer um dos lados da contenda, ora por ferir susceptibilidades na sua sequência. Em 1939, justamente quando os tanques soviéticos invadiam a Finlândia, o prémio recai sobre um obscuro finlandês, Frans Sillanpää. E como explicar o Nobel outorgado a Churchill em 1953, senão como um reconhecimento da sua importância para o triunfo aliado anos antes?
Há mais exemplos. Em 1966 – justamente quando o conflito israelo-árabe se adensava – o escritor hebreu Shmuel Yosef Agnon ganha o prémio. Acertou: era um acérrimo defensor da causa sionista. Quatro anos depois, o russo Alexander Solzhenitsin recebe o Nobel, sobretudo devido à sua célebre denúncia do sistema prisional russo (em Um Dia na Vida de Ivan Denisovich), isto antes mesmo de publicar a sua obra-prima, O Arquipélago de Gulag. Em 1980 (curiosamente no ano em que o “Solidariedade” é fundado na Polónia e Lech Walesa se torna o seu líder), a Academia laureia o polaco Czeslaw Milosz, então exilado nos Estados Unidos, reconhecido crítico dos regimes autoritários e dos sistemas políticos repressivos.
Nas últimas duas décadas, com a globalização da actualidade política e a sua inscrição no espaço quotidiano, esta tendência generalizou-se. Independentemente dos seus méritos literários, comprovam-no os prémios atribuídos a Akinwande Soyinka (Nigéria, 1986), Naguib Mahfouz (Egipto, 1988), Nadine Gordimer (África do Sul, 1991), Seamus Heaney (Irlanda, 1995), Gao Xingjian (China, 2000) e Harold Pinter (Reino Unido, 2005).
::: Uma lista completa dos vencedores pode ser encontrada aqui ou aqui.
Não se julgue que se trata apenas de uma tendência comum aos últimos quinze ou vinte anos. Na verdade, o alcance político do Nobel da Literatura é uma característica essencial deste prémio, desde que foi criado.
Entre 1916 e 1920, os vencedores foram sempre escolhidos entre países não-beligerantes na Primeira Guerra Mundial, receando a Academia receber críticas ora por favorecer um dos lados da contenda, ora por ferir susceptibilidades na sua sequência. Em 1939, justamente quando os tanques soviéticos invadiam a Finlândia, o prémio recai sobre um obscuro finlandês, Frans Sillanpää. E como explicar o Nobel outorgado a Churchill em 1953, senão como um reconhecimento da sua importância para o triunfo aliado anos antes?
Há mais exemplos. Em 1966 – justamente quando o conflito israelo-árabe se adensava – o escritor hebreu Shmuel Yosef Agnon ganha o prémio. Acertou: era um acérrimo defensor da causa sionista. Quatro anos depois, o russo Alexander Solzhenitsin recebe o Nobel, sobretudo devido à sua célebre denúncia do sistema prisional russo (em Um Dia na Vida de Ivan Denisovich), isto antes mesmo de publicar a sua obra-prima, O Arquipélago de Gulag. Em 1980 (curiosamente no ano em que o “Solidariedade” é fundado na Polónia e Lech Walesa se torna o seu líder), a Academia laureia o polaco Czeslaw Milosz, então exilado nos Estados Unidos, reconhecido crítico dos regimes autoritários e dos sistemas políticos repressivos.
Nas últimas duas décadas, com a globalização da actualidade política e a sua inscrição no espaço quotidiano, esta tendência generalizou-se. Independentemente dos seus méritos literários, comprovam-no os prémios atribuídos a Akinwande Soyinka (Nigéria, 1986), Naguib Mahfouz (Egipto, 1988), Nadine Gordimer (África do Sul, 1991), Seamus Heaney (Irlanda, 1995), Gao Xingjian (China, 2000) e Harold Pinter (Reino Unido, 2005).
::: Uma lista completa dos vencedores pode ser encontrada aqui ou aqui.
4 Comments:
Subscrevo. O Nobel da Literatura é uma treta tamanha que posso fazer uma listagem daqueles que considero os dez melhores autores do século XX, e só um deles é que ganhou o prémio (Thomas Mann).
Mas acrescento o seguinte: o pormenor da tentativa de uma maior subtileza das motivações políticas do prémio nestas últimas três décadas. Desde logo assim se explica que se tenha deixado de considerar o ensaio como literatura premiável. Porquê tantos romancistas de bodega (premiados e premiáveis) e nenhum ensaísta? Não os há?!: Jean Delumeau, Stephen Jay Gould, Jacques le Goff, Umberto Eco, Hans Jonas, Peter Sloterdijk, Noam Chomski...
Acabas de me dar uma ideia para um "post" sobre os incríveis esquecimentos da Academia.
não sei se sou muito ignorante mas não conhecia o sr turco. mas pelo que tenho investigado, parece-me que esta questão política está muito empolada. parece que o sr só referiu umas poucas vezes os tais factos. não é um activista, não escreve sobre o assunto, etc. disse uma vez numa entrevista, aquilo colou-se à sua imagem e pronto.. não sei, isto só de investigações da net..
kolk
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