segunda-feira, novembro 06, 2006

América a votos

Na próxima terça-feira, realizam-se nos EUA as eleições intercalares. Estão em disputa os 430 lugares da Câmara dos Representantes e mais de 30 assentos no Senado. As sondagens são unânimes: o Partido Democrata é favorito e a maioria Republicana, que tem apoiado as medidas da Administração Bush, deverá sofrer uma pesada derrota. A imprensa lança títulos bombásticos, num perigoso exercício de antecipação: “Crónica de uma queda anunciada” (The Weekly Standard); “Cenários para um fim de reinado” (The Washington Post). Entre nós, o mesmo registo: “O princípio do fim de Bush”, lemos no Sol.

Coloco algumas reservas a este cenário. Julgo que não vai ocorrer um vendaval Democrata, como tem sido vaticinado. É possível que os Republicanos percam o controlo da Câmara dos Representantes (ainda que por uma margem muito curta), mas a alteração de forças no Senado parece-me improvável. As minhas dúvidas devem-se a três razões principais.

Por um lado, o Partido Democrata tem uma deficiente organização. Fruto de uma complexa agregação de várias orientações políticas, a Esquerda americana não fala a uma só voz. O registo de votos no Congresso mostra uma surpreendente falta de sintonia entre os representantes Democratas. As suas principais figuras não reúnem consenso: Nancy Pelosi (líder dos Democratas na Câmara dos Representantes) é uma liberal ortodoxa; Hillary Clinton (Senadora de Nova Iorque) é detestada pela América conservadora; John Kerry seduz apenas na Nova Inglaterra. Em suma, falta consistência aos Democratas e capital político nacional aos seus líderes.

Em segundo lugar, a posição do Partido Democrata em relação à política externa pautou-se inicialmente por uma grande ambiguidade, que ainda hoje leva os americanos a olharem com desconfiança para a sua agenda política nesse campo. A desorientação dos Democratas – que ora votavam no Congresso a favor da intervenção no Iraque, ora protestavam em comícios contra a ilegitimidade do ataque – contrastava com a tenacidade dos Republicanos, que lhes valeu um apoio público maioritário. Hoje, a mensagem Democrata é transmitida em uníssono (contra a guerra do Iraque e a favor de uma retirada progressiva das tropas americanas), mas a incoerência inicial deixou marcas na opinião pública.

Por fim, e pese embora a relevância da “questão do Iraque”, há que ter em conta que a decisão popular é motivada por um conjunto de outros temas. Os eleitores estão particularmente atentos ao impacto económico e social das propostas em discussão e, nesse domínio, os Republicanos parecem estar em vantagem. Num período de recessão mundial, os EUA continuam a mostrar um crescimento económico assinalável e a manter baixos índices de desemprego. Este factor pode ser relevante na definição do sentido de voto dos indecisos. Tal como uma boa parte dos eleitores, este grupo poderá preferir a segurança de uma política familiar, à imprevisibilidade de uma nova agenda.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Li atentamente e com muito interesse o que ficou exposto.Entretanto os jornais e as tvs iam infomando que os democratas iam à frente,que era o início da queda de Bush, que ia ser difícil governar...
Hoje, notíciário das oito: As sondagens para as eleições na América estão cada vez a encurtar as distâncias. Ambos os partidos estão a recrutar voluntários para irem fazer campanha porta a porta para convencer as pessoas a irem votar...

7/11/06 09:46  

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