quinta-feira, novembro 16, 2006

Da surdez e outras enfermidades

José Sócrates encontrou recentemente um novo antídoto para todas as críticas: a “maioria absoluta”. Perante os protestos dos sindicatos, as denúncias da oposição ou as observações dos comentadores políticos – independentemente do seu fundamento – a resposta é a mesma: há um ano e meio, o povo falou e deu a maioria absoluta ao PS.

Este argumento é perigoso e deveria ser utilizado com parcimónia. A maioria absoluta legitima, mas não desresponsabiliza. Este voto maioritário não é um cheque em branco, e como tal não dispensa uma justificação das acções propostas pelo Governo, como Sócrates pretende. Entendamo-nos: o Governo PS pode e deve adoptar as medidas que considera mais adequadas. Todavia, quer o conteúdo, quer o modo da prática governativa não podem estar isentos de críticas. A dinâmica democrática pressupõe um confronto de ideias e um diálogo com a oposição (política ou social) – com os quais Sócrates convive mal.

Esta conduta arrogante conduz inevitavelmente a um autoritarismo que começa já a ser a imagem de marca do primeiro-ministro. Protegido pela “maioria absoluta” e pela necessidade de seguir medidas impopulares, o líder do PS adoptou uma altivez que, a breve trecho, lhe poderá toldar o julgamento. Ao considerar-se acima de todas as apreciações, ridicularizando a oposição e os observadores políticos, Sócrates dispensará mais tarde ou mais cedo a auto-crítica. Então, recolhido nessa surdez imposta a si próprio, o primeiro-ministro dificilmente evitará exibir sintomas de autismo político. E quando isso acontecer, espera-o uma perigosa espiral de equívocos. Para bem do país, seria bom que Sócrates resistisse a estas enfermidades.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Segui com a maior atenção o desenvolvimento do artigo sobre a atitude do primeiro ministro português, porque o desenvolvimento do raciocínio vem ao encontro do meu sentir como cidadã e como profissional da educação.
Nesta área é óbvio que é necessário e imprescindível que se faça mmudanças estruturais:
Precisamos de mais e melhor ensino
Precisamos que os agentes educativos tomem como suas as tais mudanças imprescindíveis
Precisamos que os nossos alunos sejam consciencializados que o seu trabalho é estudar mas...
nunca haverá sucesso na mudança, se quem a propõe não o fizer respeitando os agentes da mudança.
Senhor primeiro Ministro o senhor pode ter a Ministra da Educação mais competente, mais progressista, mais visionária, mais arrojada, mas garanto-lhe que não há mudanças, nem ECD nem povo mais educado com a Ministra a hostilizar os Professores como tem vindo a fazer.
P. favor leia ou mande ler o aviso que lhe é feito no ppost que estou a comentar.
A maioria que lhe foi dada não foi um cheque em branco para sempre. O Senhor ainda está a tempo de reflectir para que umdia destes não fiquemos todos a perder

18/11/06 20:16  

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