Espesso
Toda a gente sabe, mas não é demais repeti-lo: o Expresso é um jornal esquizofrénico e intragável. Começamos com o Caderno Principal, de 44 páginas, atafulhado de publicidade e gráficos manhosos. Segue-se a Economia – 32 páginas, com dois terços de anúncios a MBA fantásticos e a soluções bancárias milagrosas. A Actual é razoável, mas a mancha de texto perde-se em promoções garrafais a todo o tipo de eventos culturais, de teatro no São Luiz ao espectáculo “Dominó em Derrocada” no INATEL. A revista Única, com 154 páginas (!), apresenta pela sexta semana consecutiva reportagens sobre os imigrantes em Portugal. Para não destoar dos restantes suplementos, a Única só começa verdadeiramente na página 8; até aí apanhamos com bancos, automóveis, relógios, mais automóveis, e um hotel (com spa).
Mas a empreitada ainda mal começou. Prepare-se para um “Dossiê Especial” sobre seguros para acidentes de trabalho (14 páginas). Uma vez protegido, detenha-se nas compras de Natal: espreite o catálogo da Vodafone, com os melhores telemóveis, tarifários e moradas de todas as lojas em Portugal (ena!); deleite-se com os preços baixos da Staples Office Centre e mergulhe no “Natal Digital” (72 páginas); para os petizes, siga o caderno “Brinquedos do Mundo”, devidamente patrocinado pelo El Corte Inglés – 40 páginas de peluches, bonecos articulados e jogos electrónicos. Recupere o fôlego e dê uma olhadela ao panfleto dos ares condicionados Sharp e ao catálogo de 30 páginas da Panasonic.
Perante tantas prendas, o seu emprego poderá estar em risco, mas não se atormente: o Expresso pensou em tudo. Divirta-se com o caderno Emprego (38 páginas) e o Especial “Emprego e Carreiras 2006”, onde pode aprender, em apenas 42 páginas, a “conquistar o seu lugar”. Acredite no seu potencial de leitor compulsivo e examine atentamente o suplemento Espaços & Casas, esta semana revisto e aumentado, para nosso deleite. Para finalizar, mais um "Dossiê Especial", dedicado aos feitos da Fundação CEBI (Associação de Bem-Estar Infantil); o imprescindível jornal Golfe e o mítico Agrius, suplemento de agricultura, ambiente e alimentação, em 12 páginas fascinantes.
Não há pachorra.
Mas a empreitada ainda mal começou. Prepare-se para um “Dossiê Especial” sobre seguros para acidentes de trabalho (14 páginas). Uma vez protegido, detenha-se nas compras de Natal: espreite o catálogo da Vodafone, com os melhores telemóveis, tarifários e moradas de todas as lojas em Portugal (ena!); deleite-se com os preços baixos da Staples Office Centre e mergulhe no “Natal Digital” (72 páginas); para os petizes, siga o caderno “Brinquedos do Mundo”, devidamente patrocinado pelo El Corte Inglés – 40 páginas de peluches, bonecos articulados e jogos electrónicos. Recupere o fôlego e dê uma olhadela ao panfleto dos ares condicionados Sharp e ao catálogo de 30 páginas da Panasonic.
Perante tantas prendas, o seu emprego poderá estar em risco, mas não se atormente: o Expresso pensou em tudo. Divirta-se com o caderno Emprego (38 páginas) e o Especial “Emprego e Carreiras 2006”, onde pode aprender, em apenas 42 páginas, a “conquistar o seu lugar”. Acredite no seu potencial de leitor compulsivo e examine atentamente o suplemento Espaços & Casas, esta semana revisto e aumentado, para nosso deleite. Para finalizar, mais um "Dossiê Especial", dedicado aos feitos da Fundação CEBI (Associação de Bem-Estar Infantil); o imprescindível jornal Golfe e o mítico Agrius, suplemento de agricultura, ambiente e alimentação, em 12 páginas fascinantes.
Não há pachorra.
4 Comments:
Estou de acordo com a anáise feita ao Expresso e até com o título do post.
Ao sábado de manhã vou comprá-lo e logo começa a minha reclamação - comprei três quilos de jornal, mas como ainda não digeri a morte da festa da música, vou ficar muito caladinha não vá o Expresso deixar de existir por falta de financiamento...
Que venham mais suplementos, mais publicidade... não era bom para mim que o Expresso se finasse!!!
O que mais me irrita no expresso é o excesso de publicidade no caderno principal. Resta muito pouco espaço para o desenvolvimento dos temas. Depois de o ler fico com a sensação que muito mais poderia ter sido escrito. Assim, considero o público um jornal mais interessante no qual podemos encontrar uma grande variedade de artigos de opinião e de notícias com um bom nível de aprofundamento.
:)
O triste (e digo-o na consciência de poder ser tomado como provinciano, em verdadeiro sentido pessoniano) é que, salvo alguns artigos pontuais, não há um único jornal neste país que tenha um nível aceitável. Ao nível dos cronistas, então, a coisa torna-se semanalmente patética. E não, nem sequer o Público, cara Joana.
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