O dia seguinte (II): causas da viragem eleitoral
A orientação de um voto deve-se a um conjunto de vários motivos, desde o carácter do candidato ao alcance das suas propostas em múltiplos domínios, a que se juntam as circunstâncias políticas propriamente ditas, entre muitos outros factores a considerar.
Espanta-me, por conseguinte, que uma boa parte da imprensa e dos comentadores políticos se limite a debitar, taxativamente, que a derrota dos Republicanos se deve a uma única e evidente razão: a política externa da Administração Bush, e em concreto a intervenção americana no Iraque. Sejamos claros: é óbvio que este tema foi decisivo: chegam diariamente notícias de Bagdade cada vez mais trágicas, a questão manipulou o debate político e os americanos há muito que tomaram consciência de que os Republicanos estão a falhar no Iraque. Todavia, parece-me que, neste caso, a simplicidade das asserções deve-se a uma preguiça especulativa, quando não a uma orientação ideológica.
(Pelo menos) tão importantes como o falhanço no Iraque foram os escândalos que recentemente eclodiram no seio do Partido Republicano: a polémica em torno dos favores prestados ao lobbista Jack Abramoff – que arrastou consigo dezenas de Congressistas e alguns Senadores; a confirmação de que Mark Foley, representante da Flórida, exercera assédio sexual sobre jovens estagiárias no Congresso; a prematura demissão de Tom DeLay, anterior líder dos Republicanos na Câmara dos Representantes, envolvido num escândalo de financiamento ilegal de campanhas eleitorais, corrupção e suborno.
Durante anos, o Partido Republicano auto-caracterizou-se (ainda o faz) como um baluarte dos valores morais. Em oposição aos “liberais” Democratas, os Republicanos intitulam-se os defensores dos “bons costumes” e dos valores tradicionais, apregoando a sua inflexibilidade face ao aborto, aos casamentos homossexuais, à utilização de células estaminais para investigação e ao uso de marijuana com fins terapêuticos. Esta estratégia deu frutos no passado, sobretudo nos Estados mais conservadores, mas nesta ocasião o feitiço virou-se contra o feiticeiro e os eleitores condenaram os abusos dos representantes Republicanos. São os próprios votantes que o dizem: uma sondagem da CNN, feita à boca das urnas, revela dados conclusivos. Instados a responder sobre os temas que mais pesaram para o seu voto, 42% dos eleitores responderam “a corrupção e a (falta de) ética dos governantes” (1º lugar) e 37% apontaram os “valores” – ou o desrespeito por eles – como um factor decisivo.
Espanta-me, por conseguinte, que uma boa parte da imprensa e dos comentadores políticos se limite a debitar, taxativamente, que a derrota dos Republicanos se deve a uma única e evidente razão: a política externa da Administração Bush, e em concreto a intervenção americana no Iraque. Sejamos claros: é óbvio que este tema foi decisivo: chegam diariamente notícias de Bagdade cada vez mais trágicas, a questão manipulou o debate político e os americanos há muito que tomaram consciência de que os Republicanos estão a falhar no Iraque. Todavia, parece-me que, neste caso, a simplicidade das asserções deve-se a uma preguiça especulativa, quando não a uma orientação ideológica.
(Pelo menos) tão importantes como o falhanço no Iraque foram os escândalos que recentemente eclodiram no seio do Partido Republicano: a polémica em torno dos favores prestados ao lobbista Jack Abramoff – que arrastou consigo dezenas de Congressistas e alguns Senadores; a confirmação de que Mark Foley, representante da Flórida, exercera assédio sexual sobre jovens estagiárias no Congresso; a prematura demissão de Tom DeLay, anterior líder dos Republicanos na Câmara dos Representantes, envolvido num escândalo de financiamento ilegal de campanhas eleitorais, corrupção e suborno.
Durante anos, o Partido Republicano auto-caracterizou-se (ainda o faz) como um baluarte dos valores morais. Em oposição aos “liberais” Democratas, os Republicanos intitulam-se os defensores dos “bons costumes” e dos valores tradicionais, apregoando a sua inflexibilidade face ao aborto, aos casamentos homossexuais, à utilização de células estaminais para investigação e ao uso de marijuana com fins terapêuticos. Esta estratégia deu frutos no passado, sobretudo nos Estados mais conservadores, mas nesta ocasião o feitiço virou-se contra o feiticeiro e os eleitores condenaram os abusos dos representantes Republicanos. São os próprios votantes que o dizem: uma sondagem da CNN, feita à boca das urnas, revela dados conclusivos. Instados a responder sobre os temas que mais pesaram para o seu voto, 42% dos eleitores responderam “a corrupção e a (falta de) ética dos governantes” (1º lugar) e 37% apontaram os “valores” – ou o desrespeito por eles – como um factor decisivo.
2 Comments:
Só um pequeno aditamento, que é mais correcção: Mark Foley exerceu assédio sexual (nomeadamente conversas eróticas via internet) com estagiáriOs da Casa Branca. Ou seja, cometeu um triplo crime aos olhos do puritanismo norte-americano: assediou sexualmente, revelou tendências homossexuais, e preferiu gente jovem (até porque já li algures que alguns dos estagiários eram menores).
É isso mesmo. O que acho incrível é que - e deve ser falha minha - já ouvi 17 comentadores a bombardearem a frase "a culpa foi da guerra no Iraque" e ninguém, à excepção da blogosfera, se refere a esse "crime aos olhos do puritanismo norte-americano", como mencionaste. E os escândalos de corrupção, não contam? Ninguém quer saber disso para nada? Em que é que ficamos? A sociedade americana é muito ciosa dos valores tradicionais ou está-se nas tintas?
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