O dia seguinte (III): consequências imediatas
A derrota Republicana implicará, desde logo, o surgimento de uma nova agenda política, conduzida a partir da Câmara dos Representantes. Este órgão detém competências muito alargadas, em especial nos domínios da finança pública e da política económica, e em alguns aspectos da dinâmica educativa e social. Todavia, os seus poderes são extremamente limitados no âmbito da política externa, além de que qualquer iniciativa legislativa poderá ser bloqueada pelo veto presidencial. Veto este que os Democratas não poderão ultrapassar, por não possuírem uma maioria qualificada na Câmara dos Representantes (2/3 dos membros), como requer a Constituição. Uma alteração significativa na política para o Iraque, dirigida apenas pelos Democratas e contrária às convicções dos Republicanos parece, por isso, inexequível.
Por outro lado, a Administração Bush enfrentará, pela primeira vez, uma oposição maioritária no Congresso, que bloqueará a sua agenda conservadora e exigirá certamente uma mudança de rumo em vários domínios (política externa, política fiscal, ambiente, etc.). Além disso, os Republicanos receberam um importante alerta: a eleição presidencial de 2008 está em risco. Neste sentido, a Administração Bush poderá adoptar uma dinâmica governativa minimalista, que não comprometa em demasia os Republicanos.
Este cenário prefigura um impasse político? Creio que não. Será certamente necessário estabelecer plataformas de entendimento entre a maioria Democrata no Congresso e a Administração Republicana, mas essa necessidade de compromissos está na base da criação dos EUA e é um dado comum na vivência política de Washington. Na verdade, estas eleições – que foram em si um exemplo de democracia em acção (mais de 1100 candidatos, entre congressistas e senadores, cerca de 25 governadores eleitos, duas centenas de referendos, perto de cem milhões de votantes) – permitiram, de algum modo, restabelecer uma faceta essencial da democracia americana: o equilíbrio de poderes. A doutrina checks and balances – eixo vital do federalismo – readquiriu efectividade, garantindo que a dinâmica política decorra num ambiente de salutar vigilância e cooperação entre os vários órgãos de poder, necessárias a uma acção governativa transparente e mais eficaz.
Por outro lado, a Administração Bush enfrentará, pela primeira vez, uma oposição maioritária no Congresso, que bloqueará a sua agenda conservadora e exigirá certamente uma mudança de rumo em vários domínios (política externa, política fiscal, ambiente, etc.). Além disso, os Republicanos receberam um importante alerta: a eleição presidencial de 2008 está em risco. Neste sentido, a Administração Bush poderá adoptar uma dinâmica governativa minimalista, que não comprometa em demasia os Republicanos.
Este cenário prefigura um impasse político? Creio que não. Será certamente necessário estabelecer plataformas de entendimento entre a maioria Democrata no Congresso e a Administração Republicana, mas essa necessidade de compromissos está na base da criação dos EUA e é um dado comum na vivência política de Washington. Na verdade, estas eleições – que foram em si um exemplo de democracia em acção (mais de 1100 candidatos, entre congressistas e senadores, cerca de 25 governadores eleitos, duas centenas de referendos, perto de cem milhões de votantes) – permitiram, de algum modo, restabelecer uma faceta essencial da democracia americana: o equilíbrio de poderes. A doutrina checks and balances – eixo vital do federalismo – readquiriu efectividade, garantindo que a dinâmica política decorra num ambiente de salutar vigilância e cooperação entre os vários órgãos de poder, necessárias a uma acção governativa transparente e mais eficaz.
2 Comments:
Uma análise de qualidade indiscutível. Mas lamento que aqui aqui como em todos os suportes de opinião se "escave" muito pouco para cima usando a expressão de um articulista a propósito dos Bildebergs. De facto enquanto não se os arautos da nova ordem mundial não debitarem a sua propaganda, qualquer reflexão estará empobrecida.
Na realidade a falta de informação sobre o que os senhores do mundo fizeram para que os resultados eleitorais nos EUA fossem estes, e o que farão para dar continuidade às suas políticas tenebrosas, é uma constante adquirida, e portanto os elementos de análise são escassos e duvidosos. O insuspeito Carrol Quigley em "Tagedy and Hope" explica-se bem: ".. .I have objected, both in the past and recently, to a few of its policies … but in general my chief difference of opinion is that it wishes to remain unknown, and I believe its role in history is significant enough to be known."
Obrigado pelo seu comentário, concordo no essencial. Qualquer reflexão sobre um fenómeno político tão complexo como uma eleição eleitoral na maior potência mundial - país caracterizado ainda para mais por um tecido sociológico, étnico, religioso e cultural muito diverso - está sujeita a conclusões mais ou menos imperfeitas. Há muitas árvores no caminho, e algumas são identificáveis, mas para ver a floresta será preciso mais tempo e mais informação.
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