segunda-feira, novembro 27, 2006

O regresso do Provedor

A notícia não deixa margens para dúvidas – é mesmo mais um momento Hugo Chávez do Governo PS: Governo quer controlar conteúdos televisivos dando mais poderes à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC). O objectivo é criar “limites à liberdade de programação” e “garantir uma norma mínima de estabilização da programação”. Entre outros instrumentos, a ERC passará a poder suspender a transmissão de programas em directo.

Esta medida configura mais uma intromissão inaceitável do poder político na regulação dos agentes de comunicação. Paulatinamente, vai sendo construída uma teia em redor da imprensa, moldada a gosto de sociólogos da imagem. Claro que o Governo fala de uma “entidade independente”, mas todos sabemos como são constituídos estes comités de moralidade.

O mais estranho é o silêncio que esta decisão suscitou. Quando Santana Lopes anunciou a hipótese de criar uma “central de comunicação”, aqui d’el Rei que a Pátria estava em perigo, salve-se quem puder que a censura está de volta! Ao invés, hoje impera na sociedade – e na imprensa, ironicamente – uma resignação perante a “inevitabilidade das medidas”. É o efeito Sócrates. Perigoso soporífero este, que o Governo habilmente nos ministra todos os dias.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não percebo por que é que esta intromissão faz tanta confusão, quando sabemos que o verdadeiro soporífero é administrado pelos media.

Dança comigo, canta comigo, fiel ou infiel, reality shows onde um milionário vai descartando mulheres como se fossem peças de roupa... Peço desculpa aos liberalistas mais susceptíveis, mas se essa suposta "norma mínima de estabilização da programação” (que se traduz imediatamente por "censura")contribuir para controlar a proliferação desses "conteúdos televisivos de excelência", como diria o Mário Crespo, bem-vinda seja ela.

27/11/06 15:07  
Blogger José Gomes André said...

Não podia estar mais em desacordo. Primeiro, porque o acesso à televisão depende unica e exclusivamente da vontade do próprio. Só vê o fiel ou infiel quem quer.

Segundo, porque a TV não é (ainda) um instrumento político de governação. Os conteúdos apresentados dirigem-se a potenciais consumidores que os aprovam ou não. A única sanção aceitável é a do consumidor. O Estado deve somente regular as condições gerais em que a oferta é produzida, não se imiscuindo sobre o conteúdo da mesma.

Terceiro - e discordando dos profetas esquerdistas - porque não acredito na televisão como veículo educativo. A TV oferece por natureza produtos de entretenimento e seria inaceitável que o Estado - e logo o Estado - estabelecesse que tipo de entretenimento é que é positivo.

Quarto, porque abomino a existência de comités morais, que definem "critérios de excelência" a partir dos seus próprios preconceitos, subjugando a vontade de outrém aos seus princípios hegemónicos.

Quinto, porque me oponho à existência de controlos artificiais das minhas opções de vida, quando elas não põem em risco as escolhas dos outros - que é exactamente o que está em causa: a criação de um instrumento de mediação que cerceia o campo de decisão dos indivíduos.

P.s. Eu não sou um "liberalista susceptível", sou um liberal susceptível.

P.s. 2: o que diabo tem que ver o "Dança comigo" com "a norma mínima de estabilização da programação"? Quer-me parecer que o meu caro bania os programas todos e deixava-nos com documentários do canal História sobre a revolução cubana...

27/11/06 19:52  
Anonymous Anónimo said...

Grande abraço!

28/11/06 00:14  
Anonymous Anónimo said...

O que a ERC se propõe é gravíssimo! "Perigoso soporífero este, que o Governo habilmente nos ministra todos os dias". O Eduardo Cintra Torres disse isso por outras palavras e iam-no esfolando. A "carneirada" está a ficar adormecida e dócil.
Abraço
JM Calazans

28/11/06 06:56  
Blogger Ângulo Saxofónico said...

Caro Zé,

Achei o teu post muito pertinente e discordo frontalmente com o simplismo adoptado pelo sr. o académico-. Concordo em absoluto contigo no que respeita ao ponto TRÊS da tua "adenda". Nos outros pontos já se me levantam sérias dúvidas, principalmente no que toca aos pontos (1) e (2) - creio que a tua noção geral do "político" é demasiado ingénua e (muito naturalmente) estritamente jurídico-legalista. O que não quer dizer, claro está, que não possa subscrever alegremente os teus pontos (4) e (5). O cruzamento dos subtis mecanismos de controlo e subjugação poderiam dar azo a uma agradável discussão. Talvez numa ocasião próxima? Grande abraço aos dois.

29/11/06 00:40  

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