O conto do perna-de-pau
Apesar dos quatro golos, o Benfica-Belenenses de ontem redundou numa insuportável pasmaceira, mas a transmissão da TVI salvou o jogo. Por volta do minuto 18, o defesa-direito do Benfica, Nélson, chocou com um adversário e teve que ser assistido fora do relvado. Fernando Santos deu ordens de aquecimento a Anderson, o único defesa do banco benfiquista, não fosse o diabo tecê-las. O jornalista da TVI no terreno – uma daquelas invenções modernas que agradeço diariamente a Deus – apercebeu-se de que estavam reunidos os ingredientes para engendrar o drama por que ansiosamente aguardara.
Tendo visto o central Luisão a coxear durante alguns segundos, depois de uma falta do adversário – e porventura inspirado pelas tragédias de faca e alguidar em que os jornais da estação são pródigos – o dito jornalista não hesitou em estabelecer o nexo causal que a todos escapara. Chegando-se ao microfone, narrou a catástrofe iminente: “Luisão vai ter que sair! Anderson já está em aquecimento! Luisão faz sinal ao banco benfiquista, não está em condições de continuar!”. Procurei confirmar o meu desalento através das imagens televisivas. Nada. Dois minutos depois, vejo Luisão a fazer um sprint de 40 metros. Apavorado, exclamei: “Ah, herói, que ainda partes uma perna!”. Mas não partiu. Nem o Nélson, que entretanto reentrara em campo, recuperado. E certamente nem o Anderson, regressado ao banco de suplentes.
Durante os sessenta e oito minutos seguintes da transmissão televisiva, nem uma palavra sobre o sucedido. Nenhuma rectificação, nenhum apontamento. De cada vez que Luisão surgia a disputar um lance, pensava para comigo se o fazia com uma perna-de-pau, ou se, pelo contrário, era na verdade o fantasma de Anderson que ocupava agora o seu lugar. Afinal, a televisão, como o jornalismo, está cheia de truques e de golpes de teatro.
Tendo visto o central Luisão a coxear durante alguns segundos, depois de uma falta do adversário – e porventura inspirado pelas tragédias de faca e alguidar em que os jornais da estação são pródigos – o dito jornalista não hesitou em estabelecer o nexo causal que a todos escapara. Chegando-se ao microfone, narrou a catástrofe iminente: “Luisão vai ter que sair! Anderson já está em aquecimento! Luisão faz sinal ao banco benfiquista, não está em condições de continuar!”. Procurei confirmar o meu desalento através das imagens televisivas. Nada. Dois minutos depois, vejo Luisão a fazer um sprint de 40 metros. Apavorado, exclamei: “Ah, herói, que ainda partes uma perna!”. Mas não partiu. Nem o Nélson, que entretanto reentrara em campo, recuperado. E certamente nem o Anderson, regressado ao banco de suplentes.
Durante os sessenta e oito minutos seguintes da transmissão televisiva, nem uma palavra sobre o sucedido. Nenhuma rectificação, nenhum apontamento. De cada vez que Luisão surgia a disputar um lance, pensava para comigo se o fazia com uma perna-de-pau, ou se, pelo contrário, era na verdade o fantasma de Anderson que ocupava agora o seu lugar. Afinal, a televisão, como o jornalismo, está cheia de truques e de golpes de teatro.
1 Comments:
Eu que fiquei maravilhada com o resultado que o meu Benfica conseguiu e que resolvi que só poderia ter sido uma grande exibição, dou comigo a ler o post em que relato da realidade ultrapassa em muito a ficção que inventei.
O conto do perna de pau é de facto um relato que faz mais que sorrir,ele foi o responsável pela esta grande gargalhada. Muito Obrigada!
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