quarta-feira, janeiro 10, 2007

Discutir Arendt

Hannah Arendt (1906-1975) é autora de uma vasta obra, na qual se entrelaçam a filosofia, a política, a sociologia, a história e a psicologia. Apesar desta diversidade, a sua reflexão desenrola-se em torno de um eixo fundamental: a tentativa de traçar as origens e os alicerces ideológicos das grandes tendências políticas do século XX (o comunismo, o totalitarismo, o nazismo). Todavia, este processo retrospectivo não se limita a uma simples inventariação do mal. Numa verdadeira busca arqueológica, Arendt procura os vestígios de formas sociais de liberdade, mecanismos que geram uma dinâmica antagónica àquelas configurações políticas autoritárias. Nesta investigação do passado, Hannah Arendt presta especial atenção às estruturas sociais que projectam o contributo de cada indivíduo num contexto comum, gerando uma dinâmica plural capaz de transformar o tecido político. Deste modo, tanto a polis grega, como os town meetings na América colonial (e posteriormente os wards jeffersonianos), ou as Comunas parisienses, consignam já as disposições essenciais de uma ideia de cidadania, que a modernidade desenvolverá e elevará a expressão máxima da liberdade.

Vem isto a propósito de uma iniciativa levada a cabo pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e pela Sociedade de Ética Ambiental, que em boa hora organizaram um colóquio dedicado ao pensamento desta notável autora (a decorrer na Faculdade de Letras da UL em 11 e 12 de Janeiro; entrada livre). O painel de oradores, composto por professores e investigadores nacionais e estrangeiros, anuncia uma discussão de qualidade. As comunicações incidem sobre vários aspectos da sua obra: a filosofia política (o “caso Eichmann”, a reflexão sobre o totalitarismo, a questão da polis), a ética e o direito (a condição humana, a consciência ambiental), a ontologia e a dimensão dialogante do seu pensamento (Arendt em contraponto com Santo Agostinho, Walter Benjamin, Hermann Broch, Simone Weil, etc.). O programa completo pode ser consultado aqui.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Embora seja um prazer saber que a comunidade científica do meu país se encontra em discussão, confesso ser daqueles a quem passa ao lado actividade do pensamento temático e o nome Arendt tem para mim um significado apenas de satisfação pessoal que seja uma mulher um nome importante da intelectualidade.
Será pedir muito que, entretanto, apareça um post no bempelocontrário noticiando de como decorreram os trabalhos e/ou uma notícia em que nós os que não dominamos o assunto fiquemos um pouco mais esclarecidos?

12/1/07 15:20  
Blogger Edgar V. Novo said...

Se há uma alguma coisa da qual eu me arrependo é, durante os 5 anos em que estudei na Faculdade de Direito de Lisboa, nunca ter aproveitado o facto de poder assistir a aulas, conferências e debates, mesmo na faculdade em frente. Fosse Filosofia, fossem Literaturas, fosse História! Que desperdício não ter aproveitado isso tudo...

12/1/07 16:19  

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