Opressão burocrática
Portugal é o país dos relatórios, dos inquéritos, das investigações e dos questionários. Segundo as nossas cúpulas dirigentes, não há nenhum problema que não possa ser resolvido depois de coligida uma pilha inútil de papelada. É como se o simples acto de recolha de informação constituísse em si mesmo o momento em que a solução se efectiva. Claro que tudo isto poderia resultar – ainda que parcialmente – desde que os ditos relatórios, inquéritos e afins se regessem por uma qualquer regra lógica ou princípio racional – o que evidentemente não sucede.
Sirva de exemplo a recente iniciativa do Instituto da Droga e da Toxicodependência, que fez um inquérito a cerca de cem mil adolescentes sobre violência doméstica. Inspirado de um jacobinismo bafiento, o questionário presta-se a saber contornos específicos da relação entre os pais das crianças, através de uma série de perguntas estapafúrdias que aliam a vacuidade da linguagem tecnocrática à mais surpreendente falta de bom senso.
Há questões para todos os gostos. Pergunta-se, por exemplo, se o pai do adolescente (ou o seu “substituto” – atenção à nuance, moderna, progressista) a “obriga a fazer vida sexual com ele contra a sua vontade”. Tenho a certeza de que um miúdo de 12 anos, não só compreende plenamente o que significa sexo sem consentimento, como tem fácil acesso à vida sexual dos pais – nomeadamente aos momentos em que o seu querido progenitor viola a sua mãe. Segue-se uma questão contemporânea, essencial para perceber os contornos da violência doméstica: “o teu pai impede a tua mãe de ter acesso ao dinheiro”? Proponho que sejamos mais específicos e acrescentemos umas alíneas: “se sim, de que maneira?”. Quebra-lhe o mealheiro? Rouba-lhe as poupanças escondidas debaixo do colchão? Ou esconde-lhe os cartões de crédito? Portugal exige saber os contornos desta opressão familiar.
Outras questões raiam o limite do absurdo: “O teu pai bate (dá pontapés, murros, puxa cabelos, etc.) à tua mãe?”. Ora aí está uma questão relevante: saber se o pai esmurra a mãe, distribui canelada com fartura ou prefere adoptar uma estratégia mais feminina, arrancando o couro cabeludo com gritinhos desenfreados. Para terminar, mais um momento de génio: “O teu pai insulta (a sós ou na presença de outra pessoa) a tua mãe?”. Uma pequena dúvida: se o pai insulta a mãe a sós, como é que diabo o adolescente sabe disso? Tem câmaras pela casa? Está em missão de espionagem nos tempos livres? Ninguém sabe.
Eu também tenho uma pergunta: quem são os idiotas que concebem e executam estas ideias ridículas?
Sirva de exemplo a recente iniciativa do Instituto da Droga e da Toxicodependência, que fez um inquérito a cerca de cem mil adolescentes sobre violência doméstica. Inspirado de um jacobinismo bafiento, o questionário presta-se a saber contornos específicos da relação entre os pais das crianças, através de uma série de perguntas estapafúrdias que aliam a vacuidade da linguagem tecnocrática à mais surpreendente falta de bom senso.
Há questões para todos os gostos. Pergunta-se, por exemplo, se o pai do adolescente (ou o seu “substituto” – atenção à nuance, moderna, progressista) a “obriga a fazer vida sexual com ele contra a sua vontade”. Tenho a certeza de que um miúdo de 12 anos, não só compreende plenamente o que significa sexo sem consentimento, como tem fácil acesso à vida sexual dos pais – nomeadamente aos momentos em que o seu querido progenitor viola a sua mãe. Segue-se uma questão contemporânea, essencial para perceber os contornos da violência doméstica: “o teu pai impede a tua mãe de ter acesso ao dinheiro”? Proponho que sejamos mais específicos e acrescentemos umas alíneas: “se sim, de que maneira?”. Quebra-lhe o mealheiro? Rouba-lhe as poupanças escondidas debaixo do colchão? Ou esconde-lhe os cartões de crédito? Portugal exige saber os contornos desta opressão familiar.
Outras questões raiam o limite do absurdo: “O teu pai bate (dá pontapés, murros, puxa cabelos, etc.) à tua mãe?”. Ora aí está uma questão relevante: saber se o pai esmurra a mãe, distribui canelada com fartura ou prefere adoptar uma estratégia mais feminina, arrancando o couro cabeludo com gritinhos desenfreados. Para terminar, mais um momento de génio: “O teu pai insulta (a sós ou na presença de outra pessoa) a tua mãe?”. Uma pequena dúvida: se o pai insulta a mãe a sós, como é que diabo o adolescente sabe disso? Tem câmaras pela casa? Está em missão de espionagem nos tempos livres? Ninguém sabe.
Eu também tenho uma pergunta: quem são os idiotas que concebem e executam estas ideias ridículas?
2 Comments:
Para além de ser o "país dos relatórios, dos inquéritos, das investigações e dos questionários" é o país das comissões. E são os membros destas entidades de elevado prestígio e reconhecimento os autores de tais alarvidades.
Eu até tenho medo só de ouvir a palavra Comissão. E agora até há comissões a comissões.Ou seja comissões de inquérito a uma comissão qualquer. Qualquer dia temos uma comissão de fiscalização à comissão de inquérito à comissão da pesca da truta!
Cumprimentos
intiresno muito, obrigado
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