Estaline, o democrata
Via Hoje há Conquilhas, deparei-me com o mais recente número do “Avante”, onde o Camarada Leandro Martins nos presenteia com uma “história da democracia” em apenas três parágrafos (ena!).
O início do texto começa por aniquilar eventuais expectativas de que a cartilha comunista esteja em revisão: “Cresceu a gente a pensar que a democracia não é coisa imutável”. Não há dúvidas: é apenas o regresso ao modelo “Marx em 7 minutos”. Segue-se uma análise da imperfeita democracia ateniense, “não apenas porque as mulheres ficavam arredadas dela – como hoje nos querem fazer crer”. Antevê-se um interessante momento de revisionismo histórico, no qual se falará do extraordinário papel político desempenhado pelas mulheres, mas eis que surge nova desilusão: afinal o problema estava nos hilotas, “os tais que trabalhavam e produziam a riqueza suficiente para haver quem pensasse por todos” e que, no entanto, “ficavam de fora, nem tempo tinham para passear nas ágoras de Atenas”. Ficamos assim a saber que na Grécia os trabalhadores já eram explorados pelo capitalismo selvagem, sem respeito pelas conquistas de Abril.
Terá o futuro trazido mudanças significativas? Parece que sim: “Os finais do século XVIII deram à luz duas grandes democracias”. Uh la la! Irá o Camarada Martins deleitar-se com os progressos registados na América e nas ruas de Paris? Não se entusiasmem em demasia: “a Americana, baseada em grande parte no trabalho escravo; a Francesa que logo expulsou o povo do poder, dando lugar aos exclusivos interesses da burguesia (...)”. Ora vejamos. Revolução americana? Garantias constitucionais como a liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de imprensa, livre associação, direitos jurídicos, ou variados direitos políticos (liberdade de voto masculina, eligibilidade de todos os cidadãos para cargos políticos, multipartidarismo)? Nada disso! Trabalho escravo e mais nada! Uns malandros. E os franceses? Ideais republicanos? Voto popular? Direitos humanos? Tudo em favor da burguesia.
Terá havido então uma revolução verdadeiramente libertadora, democrática, popular? O prezado leitor consegue adivinhar qual será? Depois da revolução americana e da revolução francesa, eis que chega finalmente a revolução russa, “levando ao poder quem trabalha e aniquilando os privilégios das classes que antes exploravam os trabalhadores. Derrotada pela traição interna e pelo cerco imperialista, da democracia soviética, a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade, restam poucos focos no mundo que resistem. Mas outros se levantam”.
O Camarada Martins não revela que países seguem o exemplo da mais “perfeita democracia até hoje alcançada pela humanidade”, mas nós conseguimos adivinhar. Afinal, não são muitos os países que perfilham o monopartidarismo, que suprimiram as eleições, que perseguem e chacinam os adversários políticos, que restringiram a liberdade de expressão e de imprensa, que baniram os jornalistas de países estrangeiros, e que entronizaram os seus bacocos líderes no poder.
O início do texto começa por aniquilar eventuais expectativas de que a cartilha comunista esteja em revisão: “Cresceu a gente a pensar que a democracia não é coisa imutável”. Não há dúvidas: é apenas o regresso ao modelo “Marx em 7 minutos”. Segue-se uma análise da imperfeita democracia ateniense, “não apenas porque as mulheres ficavam arredadas dela – como hoje nos querem fazer crer”. Antevê-se um interessante momento de revisionismo histórico, no qual se falará do extraordinário papel político desempenhado pelas mulheres, mas eis que surge nova desilusão: afinal o problema estava nos hilotas, “os tais que trabalhavam e produziam a riqueza suficiente para haver quem pensasse por todos” e que, no entanto, “ficavam de fora, nem tempo tinham para passear nas ágoras de Atenas”. Ficamos assim a saber que na Grécia os trabalhadores já eram explorados pelo capitalismo selvagem, sem respeito pelas conquistas de Abril.
Terá o futuro trazido mudanças significativas? Parece que sim: “Os finais do século XVIII deram à luz duas grandes democracias”. Uh la la! Irá o Camarada Martins deleitar-se com os progressos registados na América e nas ruas de Paris? Não se entusiasmem em demasia: “a Americana, baseada em grande parte no trabalho escravo; a Francesa que logo expulsou o povo do poder, dando lugar aos exclusivos interesses da burguesia (...)”. Ora vejamos. Revolução americana? Garantias constitucionais como a liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de imprensa, livre associação, direitos jurídicos, ou variados direitos políticos (liberdade de voto masculina, eligibilidade de todos os cidadãos para cargos políticos, multipartidarismo)? Nada disso! Trabalho escravo e mais nada! Uns malandros. E os franceses? Ideais republicanos? Voto popular? Direitos humanos? Tudo em favor da burguesia.
Terá havido então uma revolução verdadeiramente libertadora, democrática, popular? O prezado leitor consegue adivinhar qual será? Depois da revolução americana e da revolução francesa, eis que chega finalmente a revolução russa, “levando ao poder quem trabalha e aniquilando os privilégios das classes que antes exploravam os trabalhadores. Derrotada pela traição interna e pelo cerco imperialista, da democracia soviética, a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade, restam poucos focos no mundo que resistem. Mas outros se levantam”.
O Camarada Martins não revela que países seguem o exemplo da mais “perfeita democracia até hoje alcançada pela humanidade”, mas nós conseguimos adivinhar. Afinal, não são muitos os países que perfilham o monopartidarismo, que suprimiram as eleições, que perseguem e chacinam os adversários políticos, que restringiram a liberdade de expressão e de imprensa, que baniram os jornalistas de países estrangeiros, e que entronizaram os seus bacocos líderes no poder.
Etiquetas: "Avante", cartilha marxista, democracia, PCP
2 Comments:
Esse camarada Leandro Martins devia ter em exposição uns objectos pessoais no futuro museu de Santa Comba Dão.
Afinal, ele pensa que ainda estamos no tempo do «Botas».
Só uma correcção(ao senhor Leandro, é claro!);
os atenienses tinham escravos. Quem tinha hilotas, eram os espartanos. Os hilotas pertenciam ao grupo dos perioikoi (periféricos) do peloponeso!
J.
http://es.wikipedia.org/wiki/Hilota
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