Grandes Portugueses
A vitória de Salazar no concurso explica-se por várias razões: como um voto de desilusão de camadas sociais desapontadas com o estado de coisas; como um voto saudosista de pessoas enclausuradas numa nostalgia quimérica de um Portugal isolado e pobre, mas onde nada acontecia; como um voto de protesto de cidadãos indignados pela estratégia tendenciosa da RTP (que inicialmente esqueceu Salazar na lista dos 200 nomes propostos e que depois tudo fez para que o ditador não triunfasse).
Independentemente destas (e de outras) causas, há uma importante consequência a reter: lentamente, Portugal vai aprendendo a lidar com os seus fantasmas e a abolir tabus consensuais. Nesse sentido, o resultado deste concurso televisivo revela que a sociedade portuguesa caminha para uma plena emancipação democrática.
Independentemente destas (e de outras) causas, há uma importante consequência a reter: lentamente, Portugal vai aprendendo a lidar com os seus fantasmas e a abolir tabus consensuais. Nesse sentido, o resultado deste concurso televisivo revela que a sociedade portuguesa caminha para uma plena emancipação democrática.
Etiquetas: democracia, Grandes Portugueses, Salazar, televisão
8 Comments:
Saudades de Salazar é em meu entender um anacronismo e um disparate.
Na Europa da UE, no mundo da globalização, da Net, dos telemóveis, dos voos low-cost, dos cartões de crédito, dos centros comerciais, das mafias internacionais, (...) saudades de estarmos isoladinhos e sossegadinhos é segurinhos (mas havia colónias e guerra lá) é de quem se recusa a ver como tudo mudou e muda a cada dia que passa.
(«e segurinhos» e não «é segurinhos»)
Este comentário foi removido pelo autor.
Caríssimo,
Desta vez não podia estar mais em desacordo contigo. Em primeiro lugar, porque não creio que uma aparente celebração e enaltecimento de um dos períodos mais sombrios da nossa história em detrimento da memória (por muito longínqua, saudosista e mítica que seja) da única verdadeira marca que podemos alguma vez ter deixado na dita História mundial (a visão quase fantasista de um Infante D. Henrique e o seu seguimento por D. João II, ou o nosso raro panteão na literatura mundial: Camões e Pessoa) possa servir de prova de uma «plena emancipação democrática». Contudo, a minha objecção principal, aparentemente mais pragmática (e tendo a ver com o rol de discussões que se aproximam sobre este tema e com as tuas questões iniciais), poderia também servir de pista de reflexão, partindo da pergunta: afinal, quem votou? Ou melhor: antes de tirar quaisquer ilações sobre este “resultado” (votos de «desilusão», «saudosistas», «de protesto»), não haveria que perguntar qual a relevância real deste concurso? Por exemplo, eu não conheço uma única alminha que tenha contribuído com o seu voto (que eu saiba, pelo menos). Será que entregar a discussão de qualquer tema à vox populi via televisão, chamada telefónica ou ligação Cabo/ADSL contribui, sem mais, para a tal «plena emancipação democrática»? O chamado “espaço público” tem ainda algum papel minimamente relevante? Parece-me que a verdadeira questão reside aqui: a que é que ainda podemos chamar democracia? O que queremos dela ou o que queremos fazer desta ideia/conceito milenar? A mim, este "cantinho de todos" não me diz nada. E a ti? Grande abraço.
Não queria de todo ser aquele persongem da dita série que diz «That's not funny anymore» mas, em nome da «plena emancipação democrática» e do fim dos fantasmas consensuais, também gostava muito de ver os espnhóis a votarem em Franco, os alemães em Hitler, os italianos em Mussolini, os chilenos em Pinochet, os romenos em Ceausescu, os bielorrussos, ucranianos e afins em Estaline, etc.
Caro José Gomes André,
Tenho também de manifestar a minha discordância com o que escreve neste post. Se é verdade que "a sociedade portuguesa caminha para uma plena emancipação democrática", um caminho longo e moroso, sinuoso, e difícil, mas qua aos poucos penso que está a ser percorrido, não é verdade que o resultado do concurso tenha contribuído para esse tal caminho. Aliás, nenhum debate do concurso contribuiu para o esclarecimento desse período da história portuguesa, antes pelo contrário.
E para mim, o resultado explica-se em primeira linha pela mobilização e concentração dos votos dos simpatizantes de Salazar. Cada um votou uma meia dúzia de vezes em diferentes telefones. E único voto das outras pessoas ficou disperso pelos vários nomes presentes.
As razões que adianta no post não são falsas, mas a sua importância para o resultado foi mínimo.
Cumprimentos
tristeza e vergonha.
Obrigado pelos vossos comentários. Escrevi um novo post, onde apresento uma tentativa de resposta às vossas observações. Um abraço a todos!
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