quinta-feira, abril 26, 2007

Memórias de Abril

No 25 de Abril, para não variar, fomos inundados com propaganda comunista e palavras de ordem, a que se opuseram os habituais protestos saudosistas do regime fascista. Onde estão os moderados? Na televisão certamente que não. Os canais generalistas limitaram-se a alimentar o monstro da “nostalgia”, que ameaça transformar o 25 de Abril numa recordação bolorenta e dispensável. A TVI apostou na velha guarda: Júlia Pinheiro entrevistou Paulo de Carvalho, Carlos Mendes e Fernando Tordo, ao longo da tarde. A RTP presenteou-nos com o insípido “Capitães de Abril”, filme penoso e documento histórico duvidoso. A SIC não esteve para isso e apostou em telenovelas e em “Betty Feia”.

Talvez no próximo ano possa surgir alguém num canal televisivo que consiga explicar o que esteve em causa – sem violinos de fundo, sem apelos à lágrima fácil e sem mencionar os termos “revolucionário”, “fascista” ou “cravos”: que o 25 de Abril representou o triunfo das liberdades individuais e a instauração plena de um regime democrático, sem os quais o nosso progresso como país, como sociedade política, e como seres humanos, estaria para sempre ameaçado.

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6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Confesso que estou a perder a esperança de ver valorizado aquilo que de mais importante conquistámos no 25 de Abril.
Mercê do restabelecimento das liberdades individuais e do regime democrático eu posso estar a escrever este textozinho sem receio de ser interpelada e muito incomodada por ter exercido este pequeno gesto, já para não indicar outros bem mais importantes e fundamentais para a minha condição de pessoa livre.
Parabéns pela abordagem

26/4/07 10:51  
Blogger Ângulo Saxofónico said...

Concordo com a necessidade de uma leitura histórica mais objectiva e despojada, mas por que é que não se há de poder mencionar as palavras "revolucionário", "fascista" e "cravos"? Parece-me que esta posição, a mesma que teve a ideia peregrina de subsituir o termo "revolução" pelo de "evolução" (esquecendo-se de que houve tanques nas ruas e que a democracia foi precedida de um instante-zero do poder instituído), se arrisca a ser tão dispensável, extremada e bolorentao quanto aquela que pretende criticar. Abraço.

26/4/07 11:03  
Blogger José Gomes André said...

Era uma simples (e provavelmente falhada) graça irónica, meu caro... É que hoje em dia só se ouvem essas três palavras, parece que o 25 de Abril foi isso e somente isso: "a revolução dos cravos contra o poder fascista", ou o "dia em que os fascistas foram derrubados pelas tropas revolucionárias"... Estou por isso inteiramente de acordo contigo: leitura histórica mais objectiva, mas clara quanto ao essencial: revolução (com "r", sempre), triunfo do povo, conquista de direitos individuais, instauração da democracia. Não me venham é com ladaínhas de 1917 e com o raio dos cravos! Abraço!

26/4/07 12:51  
Anonymous Anónimo said...

Mas a inspiração vem de algum lado

26/4/07 23:32  
Blogger José Gomes André said...

Desculpa, mas não percebi, Zeca. Podes explicar melhor? Sorry! Abraço!

27/4/07 02:59  
Anonymous Anónimo said...

Parece-me "natural" que a cada acontecimento histórico marcante esteja associado um tipo particular de folclore, neste caso os cravos e outras nostalgias que tais... Não vejo onde está o problema, nem que coloque em causa a possibilidade de outras abordagens mais objectivas.
Abraço!

28/4/07 01:09  

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