segunda-feira, abril 09, 2007

Um americano em Paris

A tradição iniciada por Chateaubriand e Tocqueville ensinou-nos que os europeus são excelentes observadores da América. Mas também existem bons exemplos do contrário, i.e., de americanos que entenderam muito bem fenómenos ocorridos no Velho Continente. Sirva de exemplo uma notável carta datada de 29 de Outubro de 1795, na qual James Monroe – então embaixador americano em Paris e futuro 5º Presidente dos EUA – procura descrever ao seu amigo James Madison o regime de Robespierre, que terminara abruptamente alguns anos antes.

A uma longa exposição, Monroe prefere uma sucinta ilustração, concisa, mas acutilante e fecunda: “No regime de Robespierre, a que bem se chamou terrorismo [terrorism], (...) a questão universalmente proposta era saber quem era terrorista, quem era jacobino, quem era insurgente e quem era anarquista, pois todos estes termos pareciam sinónimos”. Na tentativa de criar um regime impoluto, um sistema político puro e perfeito – inclusive através de um Comité de Saúde Pública – Robespierre originou um monstro moral, onde a diversidade e o pluralismo foram substituídos por uma única dinâmica pública, um único modelo teórico, de obrigatória implementação. Emergiu assim, não a figura de uma “vontade geral” virtuosa e imaculada, mas uma turbamulta violenta e febril.

Monroe soube descrever como poucos o problema de fundo do sonho revolucionário francês: porque a política é feita de homens e para os homens, a idealização de um mundo perfeito não passa de uma perigosa quimera. Talvez não fosse pior que os actuais líderes americanos reapreciassem esta mensagem de um dos seus Pais Fundadores.

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2 Comments:

Blogger moura said...

"Possa eu ter a serenidade de aceitar o que não posso mudar, a coragem de mudar o que puder e o discernimento de os distinguir" (Marco Aurélio)

9/4/07 23:16  
Anonymous Anónimo said...

E a mim quem me dera ter o discernimento para ter presente que o tal mundo perfeito é uma "perigosa quimera".

10/4/07 10:40  

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