terça-feira, maio 01, 2007

Loose Change (parte II)

Na noite de Domingo, a RTP1 transmitiu “O Julgamento de Tony Blair”, telefilme que gerou polémica em Inglaterra, pela forma como ostensivamente acusava Blair de “crimes de guerra”, responsabilizando-o pelo envolvimento britânico na Guerra do Iraque. Esperava uma abordagem parcial, mas razoavelmente fundamentada. Ingénuo, claro. Trata-se de uma obra de propaganda rasteira, que se observa a si própria como um objecto de elevação moral, capaz de corajosamente “denunciar” e “criticar”. O problema é que o realizador e o argumentista acharam que bastaria estender o dedo indicador para alicerçar a narrativa e a “mensagem”, dispensando uma crítica verosímil e minimamente sustentada.

Na ausência de mais ideias, bastou uma sessão de “brainstorming” e a tradicional estratégia do retrato maniqueísta: Blair é um homem sem escrúpulos, egoísta, corrupto, ensimesmado, a quem apenas o poder importa, um criminoso de guerra perseguido por vozes, fantasmas e visões da sua própria morte em televisores que o recordam, a todo o instante, da sua terrível culpa (e tem uma cauda vermelha, barbicha, dois chifres e os amigos tratam-no por Belzebu). A esposa, naturalmente, é um ser angélico, que o responsabiliza por todas as atrocidades que são cometidas no Iraque, e que o chama à razão – sem sucesso.

Numa cena fabulosa, está contido todo um programa: Blair, já destruído pelo “julgamento” e consumido pelos remorsos, recebe um telefonema da Embaixada americana, para uma reunião de trabalho. Quando comunica a mensagem à sua esposa, esta questiona: “E o que vais fazer à Embaixada americana? Discutir crimes de guerra?”. Obviamente! – afinal, que mais pode um primeiro-ministro inglês fazer numa Embaixada americana senão orquestrar planos para assassinar criancinhas com morteiros e granadas?

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