Duvidanças de uma mente curiosa, 37
A propósito de algumas expressões americanas:
1) Nos EUA é comum chamar-se ao respectivo presidente Commander in Chief (expressão curiosamente usada também pelo impagável Fidel Castro ao assinar as suas mensagens jornalísticas). Creio que o objectivo é sublinhar que a presidência equivale sobretudo ao topo da hierarquia das forças armadas do país. Mas se o presidente não estiver in chief, como em casos militares em que são exigíveis deliberações legislativas e não administrativas, será ele ainda commander?
2) Referindo-se ainda ao presidente do mesmo país, é também comum a expressão leader of the free world. Então em séries de TV como The West Wing [Os Homens do Presidente], que tentam dar um aspecto de sacralidade ao laico (ou um aspecto de laicidade ao sagrado, depende da perspectiva), a expressão é usada de cinco em cinco minutos. Pergunto eu, só com dúvidas: num certo sentido, esta expressão não é paradoxal?
3) Vendo Barack Obama no programa de Oprah Winfrey, percebo uma espécie de exigência que os americanos negros agora demonstram de serem chamados, por si e por outrem, de african-american [afro-americanos]. Mas essa expressão não é ainda racial e culturalmente discriminatória? É que se os americanos negros são "afro-americanos", então isso significa que não são simplesmente "americanos" (o que suscita desde logo em mim um espanto enorme, o de constatar que os americanos sabem o que é e onde fica África). Logo, quem serão os "americanos"? Aqueles que são brancos? É que se a ascendência cultural importa para todo o que é "americano", não deveriam os americanos brancos ser chamados de european-american? Ou o Novo Mundo traumatiza-se ainda com o fantasma do Velho Mundo?
4) Por falar em The West Wing, serei eu o único a só conseguir ver aquela série quando ela é devidamente legendada? É que os diálogos não são nada fáceis, e os actores debitam o texto como se estivessem num concurso de velocidade. Não haveria maneira de fazê-los falar um pouco mais devagar?
1) Nos EUA é comum chamar-se ao respectivo presidente Commander in Chief (expressão curiosamente usada também pelo impagável Fidel Castro ao assinar as suas mensagens jornalísticas). Creio que o objectivo é sublinhar que a presidência equivale sobretudo ao topo da hierarquia das forças armadas do país. Mas se o presidente não estiver in chief, como em casos militares em que são exigíveis deliberações legislativas e não administrativas, será ele ainda commander?
2) Referindo-se ainda ao presidente do mesmo país, é também comum a expressão leader of the free world. Então em séries de TV como The West Wing [Os Homens do Presidente], que tentam dar um aspecto de sacralidade ao laico (ou um aspecto de laicidade ao sagrado, depende da perspectiva), a expressão é usada de cinco em cinco minutos. Pergunto eu, só com dúvidas: num certo sentido, esta expressão não é paradoxal?
3) Vendo Barack Obama no programa de Oprah Winfrey, percebo uma espécie de exigência que os americanos negros agora demonstram de serem chamados, por si e por outrem, de african-american [afro-americanos]. Mas essa expressão não é ainda racial e culturalmente discriminatória? É que se os americanos negros são "afro-americanos", então isso significa que não são simplesmente "americanos" (o que suscita desde logo em mim um espanto enorme, o de constatar que os americanos sabem o que é e onde fica África). Logo, quem serão os "americanos"? Aqueles que são brancos? É que se a ascendência cultural importa para todo o que é "americano", não deveriam os americanos brancos ser chamados de european-american? Ou o Novo Mundo traumatiza-se ainda com o fantasma do Velho Mundo?
4) Por falar em The West Wing, serei eu o único a só conseguir ver aquela série quando ela é devidamente legendada? É que os diálogos não são nada fáceis, e os actores debitam o texto como se estivessem num concurso de velocidade. Não haveria maneira de fazê-los falar um pouco mais devagar?
5 Comments:
A proposito de West Wing, será que, como eu, o amigo André também não se questiona se em Portugal também será assim??
Será que é o staff dos nossos governantes que lhes coloca as palavras na boca? Ou será que tanto disparate tem mesmo origem nos próprios, como aparenta?
Pois, caro anónimo, yours truly já teve oportunidade de conhecer pessoalmente um ou outro assessor do PR E do PM portugueses. E daquilo que percebeu, nenhum deles é um Toby Ziegler ou um Josh Lymann, de certeza absoluta, afianço-lhe.
Mas aproveito para lhe dizer que também não acho que nos próprios EUA seja assim como na série. Depois do episódio "Scooter Libby", especialmente, e da saída estranha do último White House Chief of Staff ainda mais... Ademais, um presidente americano vencedor de um prémio Nobel?!: só mesmo numa série de TV...
Não me quero armar em defensor dos "States", mas olha que o Jimmy Carter já ganhou o Nobel! :)
vocês vêm muita televisão... lol
É verdade, Zé, mas o prémio da Paz não é o da Economia. E se calhar também é mais fácil ser-se considerado um defensor da Paz quando já se deixou de ser líder das maiores forças armadas mundiais, para mais de 30 anos.
E já agora, Sofia, porque não ver TV americana se é ali que "everything is going on"?
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