quinta-feira, agosto 30, 2007

Alberto Gonzales: o exterminador implacável

Gonzales, Procurador-Geral dos Estados Unidos até ao passado dia 26 de Agosto, era uma eminência parda do regime bushista, encarnando na plenitude as características duvidosas que parecem estar presentes em todas as figuras proeminentes da actual Administração Republicana: uma enorme facilidade em atropelar as disposições constitucionais, uma aversão pelo primado da lei e pelos direitos humanos, um manifesto desagrado pela discussão racional e pelo debate de ideias, uma paixão pelo Estado “bigbrotheriano”, uma visão do mundo assustadoramente maniqueísta, e uma total indiferença pelo “governo limitado” – assente nos freios e contrapesos institucionais [checks and balances] – que define o sistema político americano.

Subiu a pulso nos meandros judiciais no Texas, onde se tornou amigo pessoal de Bush – quando este verdadeiramente reinou no Estado. Com a chegada dos Republicanos ao poder, assumiu o cargo de Procurador-Geral, tornando-se um dos principais ideólogos da Administração: Gonzales foi um dos cérebros do Patriot Act, da limitação de direitos a cidadãos suspeitos, das recomendações da prática de tortura durante os interrogatórios a terroristas, de memorandos que consideravam a Convenção de Genebra “obsoleta”, dos bons hábitos de Guantanamo, da implementação de um sistema nacional de escutas ilegais.

A utilização recorrente de expedientes duvidosos – entre os quais se destacou a exoneração arbitrária de oito procuradores federais, em Janeiro passado – levou o Congresso a investigar as suas actividades, devido a suspeitas de que Gonzales teria violado e abusado das suas prerrogativas. Vários congressistas e senadores, Republicanos e Democratas, exigiram a sua demissão, à semelhança da opinião pública, que sempre o considerou uma das personalidades mais sinistras da Administração.

Caiu no fim de Agosto. Pena que tenha deixado para trás um tão grande rasto de destruição.

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