"Mamã, como é um israelita?"
O ódio nasce, acima de tudo, da ignorância. É a incompreensão do outro que gera a dificuldade de o olhar como ser humano. E é o desconhecimento desse outro que torna tolerável a violência. Uma das grandes causas do conflito israelo-árabe deve-se a esta ignorância e estranheza mútuas, que impossibilita um debate racional, humanizado, recíproco. Disto nos fala um excelente texto de Mahmoud Al-Moukhtar, publicado no jornal libanês An-Nahar, e integrado na edição portuguesa do Courrier Internacional (p.21). Alguns excertos:
"Quando era pequeno, imaginava Israel como uma criança desumana, inferior aos homens, mas todo-poderosa, algo de que se devia ter medo como de uma sanguessuga que se apodera dos corpos e das mentes. [...] E o mesmo se passava com a maioria das crianças libanesas e árabes. Ninguém tentava fazer-nos mudar de ideia. Era impossível imaginar que os israelitas podiam ter uma vida normal para lá das guerras e da violência. [...] Para a maioria das pessoas, o simples facto de exprimir estas coisas faz de mim um traidor [...]. Estas acusações de traição destinam-se a combater uma ideia, a ideia de que são possíveis outras imagens para imaginar os israelitas. [...]"
"Enquanto conduzia ao longo da fronteira, apercebi-me da presença de um israelita do outro lado do arame farpado. Estava a fazer o seu «jogging», de fato-de-treino, com a toalha enrolada à volta do pescoço, transpirando a bom transpirar... exactamente como os libaneses que correm sobre a escarpa em Beiture. Uma voz interior dizia-me que devia desconfiar dele. E se fosse um soldado à paisana a vigiar a fronteira? Ao mesmo tempo, sabia que ele tinha tanta razão como eu para ficar preocupado. Podia pensar que eu era um daqueles milicianos que tanto assustam os israelitas. Nada lhe permitia saber que eu não queria fazê-lo refém [...]"
"No caminho de regresso à minha aldeia, perscrutava a estrada. Temia estar a ser seguido por um elemento das forças da ordem ou do Hezbollah, que ia interrogar-me sobre aquele que foi o primeiro e provavelmente último contacto com um israelita. Tinha feito tudo para o odiar. Mobilizara todos os meus sentimentos patrióticos e todas as minhas recordações de atrocidades contra [...] todos os árabes unidos. E, no entanto, provavelmente não mentiria se dissesse que era um bom tipo, em suma um homem como eu. Simplesmente, havia arame farpado e minas a separar-nos. E o medo do outro e daqueles que se erguem por trás de nós."
"Quando era pequeno, imaginava Israel como uma criança desumana, inferior aos homens, mas todo-poderosa, algo de que se devia ter medo como de uma sanguessuga que se apodera dos corpos e das mentes. [...] E o mesmo se passava com a maioria das crianças libanesas e árabes. Ninguém tentava fazer-nos mudar de ideia. Era impossível imaginar que os israelitas podiam ter uma vida normal para lá das guerras e da violência. [...] Para a maioria das pessoas, o simples facto de exprimir estas coisas faz de mim um traidor [...]. Estas acusações de traição destinam-se a combater uma ideia, a ideia de que são possíveis outras imagens para imaginar os israelitas. [...]"
"Enquanto conduzia ao longo da fronteira, apercebi-me da presença de um israelita do outro lado do arame farpado. Estava a fazer o seu «jogging», de fato-de-treino, com a toalha enrolada à volta do pescoço, transpirando a bom transpirar... exactamente como os libaneses que correm sobre a escarpa em Beiture. Uma voz interior dizia-me que devia desconfiar dele. E se fosse um soldado à paisana a vigiar a fronteira? Ao mesmo tempo, sabia que ele tinha tanta razão como eu para ficar preocupado. Podia pensar que eu era um daqueles milicianos que tanto assustam os israelitas. Nada lhe permitia saber que eu não queria fazê-lo refém [...]"
"No caminho de regresso à minha aldeia, perscrutava a estrada. Temia estar a ser seguido por um elemento das forças da ordem ou do Hezbollah, que ia interrogar-me sobre aquele que foi o primeiro e provavelmente último contacto com um israelita. Tinha feito tudo para o odiar. Mobilizara todos os meus sentimentos patrióticos e todas as minhas recordações de atrocidades contra [...] todos os árabes unidos. E, no entanto, provavelmente não mentiria se dissesse que era um bom tipo, em suma um homem como eu. Simplesmente, havia arame farpado e minas a separar-nos. E o medo do outro e daqueles que se erguem por trás de nós."
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