O essencial e o acessório
O grotesco episódio da destruição do milheiral em Silves tem sido alvo de múltiplos comentários na blogoesfera e na imprensa, produzindo reacções variadas. Agora que a poeira parece ter assentado, tentaria destacar os elementos fundamentais desta polémica.
1. É inadmissível que num Estado de direito a polícia pública não consiga impedir umas dezenas de energúmenos de praticar um crime à vista de todos. E de nada vale a insuportável verborreia jurídica do ministro da Administração Interna, justificando o injustificável. Os agentes que se encontravam no terreno tinham que proteger o milheiral e o seu proprietário, e deter os agressores. Sob pena de vivermos em total insegurança e à mercê de qualquer acto de vandalismo.
2. Seria humilhante para o Estado português se os criminosos não fossem levados à justiça. Eis uma questão fulcral que parece estar a ser negligenciada: o sentimento de resignação instalou-se entre nós e a ideia de que “já não há nada a fazer” é veiculada pelos agentes políticos. Isto é inaceitável: um Estado de direito não pode pactuar com a ideia de impunidade criminosa, ou seguir-se-á a subversão da ordem democrática.
3. O rescaldo político é pobre. O PP mostrou que continua a hibernar. O PS optou – como sempre desde que Sócrates chegou ao poder – pelo silêncio e o PCP achou piada, mas preferiu não se comprometer. O PSD criticou bem, mas devia ter sido mais incisivo, centrando o ataque na intervenção da polícia pública e não nos aspectos mais ou menos ocultos do patrocínio estatal da iniciativa. A malta do Bloco aplaudiu em surdina, com excepção do grande revolucionário Miguel Portas, que confessou ter ficado emocionado com o evento. Orgulha-me que este esclarecido bolchevista represente Portugal no Parlamento Europeu.
4. Impressiona a cobardia dos criminosos envolvidos. Sob a fachada de uma organização ambientalista – que está prestes a desaparecer misteriosamente – e de um evento de contornos pouco claros (como sempre convém a actos criminosos), este grupo de vândalos apregoa com desfaçatez a sua superioridade moral ao mesmo tempo que esconde os rostos atrás de máscaras e capuzes. A sua acção merece repúdio e provocou-me nojo, mas a sua cobardia dá-me pena. Este grupelho de anarquistas que pasta nos restaurantes do Bairro Alto e vegeta nas piscinas do Restelo não foi capaz de encarar nos olhos, com o rosto a descoberto, um velho agricultor do Alentejo. Mesmo a pouca dignidade que lhes resta está coberta de vergonha.
1. É inadmissível que num Estado de direito a polícia pública não consiga impedir umas dezenas de energúmenos de praticar um crime à vista de todos. E de nada vale a insuportável verborreia jurídica do ministro da Administração Interna, justificando o injustificável. Os agentes que se encontravam no terreno tinham que proteger o milheiral e o seu proprietário, e deter os agressores. Sob pena de vivermos em total insegurança e à mercê de qualquer acto de vandalismo.
2. Seria humilhante para o Estado português se os criminosos não fossem levados à justiça. Eis uma questão fulcral que parece estar a ser negligenciada: o sentimento de resignação instalou-se entre nós e a ideia de que “já não há nada a fazer” é veiculada pelos agentes políticos. Isto é inaceitável: um Estado de direito não pode pactuar com a ideia de impunidade criminosa, ou seguir-se-á a subversão da ordem democrática.
3. O rescaldo político é pobre. O PP mostrou que continua a hibernar. O PS optou – como sempre desde que Sócrates chegou ao poder – pelo silêncio e o PCP achou piada, mas preferiu não se comprometer. O PSD criticou bem, mas devia ter sido mais incisivo, centrando o ataque na intervenção da polícia pública e não nos aspectos mais ou menos ocultos do patrocínio estatal da iniciativa. A malta do Bloco aplaudiu em surdina, com excepção do grande revolucionário Miguel Portas, que confessou ter ficado emocionado com o evento. Orgulha-me que este esclarecido bolchevista represente Portugal no Parlamento Europeu.
4. Impressiona a cobardia dos criminosos envolvidos. Sob a fachada de uma organização ambientalista – que está prestes a desaparecer misteriosamente – e de um evento de contornos pouco claros (como sempre convém a actos criminosos), este grupo de vândalos apregoa com desfaçatez a sua superioridade moral ao mesmo tempo que esconde os rostos atrás de máscaras e capuzes. A sua acção merece repúdio e provocou-me nojo, mas a sua cobardia dá-me pena. Este grupelho de anarquistas que pasta nos restaurantes do Bairro Alto e vegeta nas piscinas do Restelo não foi capaz de encarar nos olhos, com o rosto a descoberto, um velho agricultor do Alentejo. Mesmo a pouca dignidade que lhes resta está coberta de vergonha.
6 Comments:
Gostei do comentário, mas... a referência às piscinas do Restelo e aos repastos no Bairro Alto?
Caro anónimo, essa referência incomodou-o porque é falsa ou porque acha que devia ser omitida?
Acrescentará alguma coisa de essencial à análise do assunto essa caracterização do estilo de vida dos malandros?
No meu entender, acrescenta. Como um líder do movimento afirmou, o gesto procurava "chamar a atenção da opinião pública" para um problema que os próprios agricultores, coitados, "desconheciam e sobre o qual estão mal informados". É justamente esta arrogância moral que enoja um comum observador, e ela é tanto mais chocante porque assenta nessa visão do mundo profundamente incoerente e que fundamenta também um estilo de vida incongruente: a crítica ao "capitalismo" e à "vida moderna", da parte de gente que passa os dias a comprar roupa cara em lojas "alternativas", a beber shots em bares radicais do Bairro Alto e a curtir noitadas com o dinheiro ganho pelos pais "capitalistas".
Malta que, contudo, numa tarde de verão, acha radical e socialmente aceitável destruir uma parte de uma plantação de um agricultor "mal informado", certamente vítima do capitalismo e do grande satã, que ganha a vida a cultivar a terra, o malandro.
A referência tinha que ver com esta incongruência, que, no meu entender, mina completamente o argumento "moral" que move - e aparentemente justifica - as actividades deste grupo criminoso.
Mas o que é que há de tão evidente que leve a caracterizá-los taxativamente como meninos da mamã armados em radicais? Continuo sem perceber. Parece-me tratar-se ainda de uma catalogação bem ao estilo dos programas da tvi antes do telejornal: ou se é dread, ou se é beto, ou se é beto armado em dread, ou se é dread mas no fundo beto...
O problema está na atitude que um grupo de cidadãos teve em relação a outro cidadão e à sua propriedade, ponto final. Agora se andam no bairro alto, ou se fumam porros, ou o que seja, interessará para alguma coisa?
Só mais um comentário: assistindo agora ao Opinião Pública da SIC notícias sobre este assunto, achei muito curiosa a grande repulsa nutrida pela maior parte dos senhores telespectadores, que participaram em directo, em relação a essa "cambada de malandros" do grupo donome esquisito, assim como o facto de, após acondenação taxativa do mau comportamento dos mesmos, se mostrarem muito preocupados com a questão dos transgénicos.
No entanto, pergunto-me: ter-se-á alguém apercebido de que, se não tivesse acontecido essa acção maléfica, não haveria neste momento todo o alvoroço em torno desta questão?
O debate está lançado, mas não a partir das confortáveis cadeiras dos senhores deputados nossos representantes. É crucial despertar a atenção da sociedade civil para problemas destes que nos ameaçam a todos e com os quais beneficiam aqueles (poucos) que vivem de uma mundividência cada vez mais enraizada na ideia de funcionalidade e de lucro.
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