domingo, setembro 16, 2007

Duvidanças de uma mente curiosa, 65

A propósito de minudências:

1) Porque é que quando se quer criticar fortemente alguém, ou demonstrar que se despreza a personagem de quem se fala, usa-se o dr. e o sr. antes dos nomes de maneira carregada? O Sr. Scolari, o Dr. Soares... É que normalmente colocar sr. ou dr. antes do nome tende a ser um acto de cortesia: desde quando é que se tornou um acto de desprezo?

2) Segundo Luís Filipe Menezes, «hoje já cheira a PPD/PSD». Permanece no ar algum aroma a laranjas podres do qual me não tenha apercebido?

3) Segundo Rodrigo Guedes de Carvalho, em entrevista ao DN, «a literatura, no limite, é uma inutilidade. Não serve para nada.» Mas que se entende por "literatura", aqui? Se inclui aquela escrita por Rodrigo Guedes de Carvalho, certamente tem ele muita razão...

4) Aqueles três golos marcados pelo SLBenfica ontem ocorreram mesmo ou foram sonhados? Os jornais dizem que ocorreram mesmo. Mas de certeza que aquela equipa era o SLBenfica?

5) Consta que o arquitecto Manuel Salgado, que hoje é vereador do Urbanismo da câmara municipal de Lisboa, prepara-se para se emparceirar com Maria José Nogueira Pinto para a revitalização da Baixa. Conseguirá Manuel Salgado revitalizar a Baixa de Lisboa como conseguiu revitalizar a Baixa de Setúbal?: é que para dinheiro gasto em construções horríveis, sem utilidade alguma, inadequadas para o contexto urbano em que se inserem, deixadas ao abandono pelos habitantes apesar de recentes, e ainda por cima mal construídas, há sempre novas oportunidades em Portugal...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A literatura, tal como a filosofia, é uma "inutilidade". E, num mundo conduzido por um utilitarismo desregrado em todas as áreas da nossa intervenção e profundamente determinado por ideais de cariz técnico-científico, penso que devemos ficar satisfeitos com essa profunda "inutilidade", que é uma das grandes manifestações da liberdade humana. Caso contrário, teríamos que pensar que função útil podem ter as obras dos grandes escritores e, muito honestamente, não me ocorre nenhuma.

17/9/07 12:47  
Blogger André, o campos said...

Caro nc,

creio perceber o que pretende dizer, e, num certo sentido, concordo.
Mas o que diz da utilidade parece fazê-la só concebível num sentido de "funcionalidade", instrumentalizado, que não é senão o próprio dos utilitaristas setecentistas, que ainda se conectam com uma concepção teleológica das coisas. A utilidade porém pode ser tomada num sentido quasi-estóico (e, porque não?, spinozano), completamente despido de teleologia e sem instrumentalizações: neste caso, "útil" será tudo o que produz ou causa um incremento do real ou de potência. Assim, se a "inutilidade" da literatura ou da filosofia permite manifestar a liberdade humana, e aí revelar-se a maior implementação do homem no real, a sua beatitude ou felicidade, então ela é uma inutilidade útil.
E sem a filosofia, enquanto género de literatura (apesar de tudo, a filosofia justifica-se na escrita), em rigor não haveria ciência. (N.B. Nem falo da parte política, com conceitos como "direitos humanos", "democracia", etc, que melhoram a vida das pessoas e nascem em escrita pensada.)

17/9/07 14:23  

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