terça-feira, setembro 11, 2007

Os filmes mais agradáveis, um a um (III)

C) Blow Up (1966), de Michelangelo Antonioni:

- Visto primeiramente numa reposição televisiva, Blow Up surgiu-me como um filme-marca de uma geração. A interessantíssima história do fotógrafo que por acidente fotografa um homicídio é completada com um panorama do mundo tendencialmente selvático da moda dos anos 60. O filme de Antonioni consegue então salientar uma dicotomia entre a brutalidade da violência (no homicídio e no tratamento do fotógrafo às suas modelos) e a beleza encenada das fotografias. E tudo isto tendo por motor um contexto de emancipação sexual: o fotógrafo usa e abusa das suas modelos porque se sobrepõe a elas em poder, e justifica-o social e sexualmente. Mas eis que surge a personagem de Vanessa Redgrave para equilibrar a balança do poder sexual - a mulher-submissa (as modelos) dá lugar à mulher-dominadora (Redgrave). Assim, se blow up remete para o zoom que o fotógrafo faz para encontrar o cadáver, também há um zoom feito a um contexto específico, que em si integra um misto de temperamentos, desejos sexuais, socialidades instáveis, prestes a blow up. Não o meu filme preferido, mas decerto um dos mais inteligentes que vi.