quarta-feira, setembro 19, 2007

Os filmes mais agradáveis, um a um (IV)

D) Il buono, il brutto, il cattivo [O bom, o mau e o vilão] (1966), de Sergio Leone:

- Visto dezenas de vezes desde a infância, na TV, em VHS, e até no velhíssimo BETA, este é um daqueles filmes com que cada um de nós cresce e se faz gente cultural. Considerado o filme maior dos spaghetti western, muitos são os sujeitos que o entendem como paródia ao "filme de cowboys" tradicional, e julgam risível quem o considera bom cinema. (Ainda não há muito, ao ouvir-me afirmar os méritos cinematográficos deste filme, a minha mãe respondeu-me com um sorriso ambíguo "estás a brincar, não estás?, ou a falar a sério?") Pois eu estou na barricada oposta: Sergio Leone faz aqui a sua obra prima, e consegue fechar uma trilogia com um filme no qual tudo funciona bem: o argumento está muito bem pensado, a fotografia é excelente, os actores estão bem (Eli Walach no papel da sua vida), a realização de Leone soberba, a música de Morricone faz história, e a montagem é uma enciclopédia ensinando como se constrói um filme. (Ainda hoje muita gente, inclusive estudantes de cinema, não capta como a montagem não envolve apenas copy-paste de fotografia, mas também de música.)
Mencione-se ainda a representação histórica da guerra civil americana (sim, para além de ser um western, é também um filme histórico), com pormenores deliciosos. Aliás, Leone introduz melhor que ninguém no cinema a imagem do cowboy sem cow que é um bandido imundo: imundície que nem sai com os banhos, que algumas das personagens tomam sem mesmo assim ficarem mais limpas. E não será esta imagem de imundície a mais próxima do que deverá ser um western? Assim, este filme não é uma paródia spaghetti aos western, mas o mais valioso dos western...
(N.B. Recentemente, um dos meus orientadores disse-me que não lhe agradavam muito os filmes de Sergio Leone porque para ele um verdadeiro western é o Bonanza. Eu fiz o que qualquer doutorando sonha fazer: acusei-o de heresia, bem ao jeito inquisitorial de que me acusam agora, e pedi-lhe para não dizer mais disparates...)