domingo, setembro 02, 2007

Propaganda pura

Lê-se e não se acredita. Eis alguns excertos laudatórios ao “querido líder” Sócrates, a propósito do seu 50º aniversário:

Nos anos finais do liceu, Sócrates ficou deslumbrado no contacto com os textos filosóficos. Ainda hoje reconhece o impacto que teve na sua visão do mundo as leituras dos clássicos gregos e os textos do humanismo existencialista.” [Sócrates, o filósofo]

“O gosto pelo pensamento abstracto conduziu-o rapidamente à poesia. [...] lia e relia poemas que seleccionava cuidadosamente, e que adorava citar a quem queria impressionar.”
[Sócrates, o lírico]

“O regime de serviços comunitários não entusiasmou o jovem Sócrates, mas também não o parece ter incomodado muito. Ficou-lhe tempo livre para se iniciar na arte de seduzir o sexo oposto.”
[Sócrates, o galã]

“Os livros não tinham o monopólio da atenção intelectual de Sócrates. O cinema invadiu-lhe o espírito e o italiano Fellini era o alvo principal das discussões apaixonadas que gostava de alimentar [...]”
[Sócrates, o cinéfilo]

“Sócrates ainda hoje se gaba de ter sido o primeiro deputado a falar de sida e a defender que se devia perseguir a doença e não o doente”
[Sócrates, o inovador compassivo]

“Karl Popper acentuou a simpatia de Sócrates pela social-democracia e pelos valores da tolerância democrática numa sociedade aberta. O deputado devorou a obra do pensador austríaco [...]”
[Sócrates, o intelectual democrata]

“[...] chegou a ministro-adjunto do primeiro-ministro e rapidamente encontrou uma agenda própria. O combate à droga tornou-se ponto prioritário: expandiu o uso de metadona para toxicodependentes e impulsionou um programa de troca de seringas. O político moldava o seu estilo.”
[Sócrates, o reformador]

“Sócrates acreditava em que conseguiria tudo a que se propunha. Os sucessos políticos aumentavam-lhe a autoconfiança [...]”
[Sócrates, o lutador]

“Sócrates fez sempre questão de acompanhar os trabalhos de casa de José Miguel e de Eduardo [os filhos]. Mesmo com a agenda mais ocupada, gosta de dizer que nunca perde um compromisso relevante com os filhos.”
[Sócrates, o pai exemplar]

“A campanha para as eleições legislativas de 2005 decorreu num clima de grande tensão. Declarações do líder do PSD e cartazes da JSD [...] lançaram suspeitas sobre aspectos da vida pessoal do secretário-geral do PS.”
[Sócrates, a vítima]

“Acabado de chegar ao poder, Sócrates parecia decidido em rapidamente pôr em prática as promessas eleitorais mais delicadas. A permissão de venda de medicamentos que não necessitassem de receita médica fora das farmácias levantou um coro de protestos dos farmacêuticos. Ele foi inflexível.”
[Sócrates, o político inabalável]

Estaremos perante trechos da sua biografia oficial? Excertos do site do Partido Socialista? Passagens de uma peça teatral encomendada por Jorge Coelho? Nada disso. Trata-se de uma reportagem feita pelo Expresso, o semanário com maior tiragem em Portugal. Um exemplo notável de independência e isenção jornalística.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Jornalismo? Aquilo sugere publicidade redigida - e pode-se imaginar quem a encomendou.

3/9/07 23:44  

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