sábado, outubro 20, 2007

Por que deixei de ler o não-cronista António Lobo Antunes (I)

Excelente crítica de Pedro Mexia na Y do Público a O meu Nome é Legião, com excertos que se subscrevem inteiramente:

«O texto está escrito naquele registo polifónico a que Lobo Antunes nos habituou. [...] A progressão é caótica, um emaranhado de cenas e bocados de cenas. Imagens e temas são conhecidos de outros romances: famílias que trocam crueldades, sexo desolado, velhos entrevados e amargurados, homens que penteiam a melena com o dedo mindinho, a infância nas brumas da memória [...].»

«O conjunto incansavelmente glauco impressiona porque os pormenores são acentuados. Todas as micro-narrativas acontecem entre móveis puídos e cafeteiras sem tampa. As pessoas têm nódoas de xarope no pijama e escondem dinheiro nas pantufas. Há "recuerdos" rachados e muita bugiganga.»

«O texto antunino é hoje uma melopeia cheia de repetições, parêntesis, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam ou que elidem os verbos: "As flores quietas elas que à mínima presença um frenesim de caules". E os famosos estribilhos, frases que pontuam o texto uma e outra vez, geralmente simples ditos banais ou castiços que se tornam nostálgicos ou tétricos com a repetição. [...] neste romance, cujos capítulos acumulam emendas e lacunas e confusões [...]. Lobo Antunes comenta o seu próprio texto [...].»

«É um estilo que se tornou maneirista. Que se tornou sentimental. Que exige uma leitura quase ofegante. [...] António Lobo Antunes, sempre admirável nas duas páginas de uma crónica, tem escrito romances desnecessariamente prolixos e repetitivos. É fácil ficarmos deslumbados com este tipo de escrita quando o descobrimos. Mas ao fim de uma década e de um punhado de romances só os incondicionais não acusam algum cansaço.»

1 Comments:

Blogger César said...

Estive para escrever sobre exactamente este assunto há pouco tempo, culpando tudo isso que diz pelo facto de Lobo Antunes nunca ter ganho o Nobel - é excessivamente repetitivo. E essa sua repetição estilística, que é sem dúvida avassaladora, acaba por limitá-lo naquilo que constrói para cada uma das suas novas personagens - acabam sempre por ganhar traços de personalidade tão ou mais esquizofrénico-polifónicos quanto o discurso que as caracteriza.

22/10/07 18:17  

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