quarta-feira, novembro 14, 2007

Devagar, devagarinho... parados

O movimento Cidadãos por Lisboa propôs que fossem criadas certas zonas onde os automóveis não pudessem circular a mais de 30 km/h. Trata-se de uma proposta despropositada e demagógica, que aproveita as recentes tragédias nas estradas portuguesas (e na Grande Lisboa em particular) para contar com o apoio da opinião pública.

A proposta é errada quer nos seus pressupostos quer nas suas eventuais consequências. Em primeiro lugar, porque, ao associar-se aos recentes acontecimentos, sugere implicitamente que o limite legal em vigor (50 km/h) é excessivo e que é causa directa de acidentes rodoviários envolvendo peões. Isto é falso. Como é evidente, estes acidentes não aconteceram porque os automóveis circulavam a 50 km/h, nem a 60, nem a 70. A esmagadora maioria dos atropelamentos nas cidades sucedem quando os automobilistas seguem a altas velocidades, não tendo tempo para parar quando as pessoas atravessam a estrada (em passadeiras ou fora delas). E não é porque o limite legal esteja fixado em 50 km/h ou em 30km/h que estes condutores irresponsáveis vão abrandar, porque viajam já em condições de absoluta ilegalidade.

Por outro lado, se a proposta não diminuiria em nada os actos prevaricadores destes inveterados aceleras, levaria certamente ao caos absoluto nas estradas das nossas cidades. Qualquer pessoa que já pegou num volante sabe que uma velocidade inferior a 30 km/h é um desafio à perícia do condutor – para já não dizer à sua paciência. Manter um carro em movimento a essa velocidade é a negação do próprio conceito de veículo motorizado: a possibilidade de nos deslocarmos mais depressa do que se o fizéssemos a pé. As estradas continuariam repletas – porque a vida moderna é impensável sem automóveis – mas a cidade ficaria transformada numa espécie de filme em câmara lenta. E aposto como os acidentes seriam provavelmente menos violentos, mas certamente muito mais abundantes.

5 Comments:

Blogger sofia said...

sim devagar. lá por se ter carro isso não pode significar que podemos andar mais depressa do que todos.
se tiveres tempo vê este filme muito interessante.
e isto é tema de um almoço.. já te estou a dever um martini.. esta discussão precisa de ser também bem regada (desde que não conduzamos a seguir...)
http://paginas.terra.com.br/arte/sociedadedoautomovel/down.html

14/11/07 10:31  
Anonymous Anónimo said...

Não poderia estar mais de acordo.

Os fundamentalismo do pessoal desse movimento chega a ser anedótico e é pelo menos idiota.

14/11/07 12:25  
Anonymous Anónimo said...

(O fundamentalismo)

14/11/07 12:25  
Blogger Freire de Andrade said...

Já agora, na mesma linha, proponho que se adopte uma lei que por volta do princípio do século (refiro-me ao XX) foi posta em prática num estado americano (não me lembro qual) e que obrigava que à frente de cada automóvel fosse um homem a pé com uma bandeira encarnada para avisar os incautos peões. De certeza que acabariam os atropelamentos.

14/11/07 23:41  
Blogger André, o campos said...

Caro freire de andrade:

duvido que de tal maneira se acabassem os atropelamentos. Pelo contrário, gente a correr à frente de automóveis conduzidos por portugueses, com bandeirinha ou sem bandeirinha, tenderia a ser MUITO perigoso.

15/11/07 00:46  

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