quarta-feira, novembro 28, 2007

Momentos mágicos




No dia 26 de Novembro de 1676, um jovem alemão desembarca na Haia durante o seu percurso de Paris para Hannover. A sua escala tem um intento específico: buscar e conhecer em pessoa um homem que há anos vem atormentando a sua maneira de pensar, nos métodos, nas ideias, no estilo de vida.


Instala-se numa qualquer albergaria, e só dois dias depois, dia 28, ganha coragem de se apresentar na casa do seu admirado. Bate à porta, nervoso. Quem lá habita abre a porta: já esperava a visita há alguns dias. Por troca de correspondência, anuíra em tornar-se anfitrião de um tal jovem de mente curiosa.


Nessa noite, jantam juntos. Nada de muito requintado na ementa, umas farinhas, umas frutas, algum vinho. Após a refeição, o anfitrião provavelmente acende o seu cachimbo, hábito que muito lhe apraz. O visitante acompanha-o.


Sabe-se que falam sobre a situação da política holandesa e o estado da política internacional. O anfitrião conta algumas das suas experiências pessoais junto da política, alguns anos antes. O visitado, impaciente, começa de bater o pé no chão, nervoso: nunca mais se discute o que ele pretende, Deus, ciência, a imortalidade da alma, a necessidade e a contingência...


Solícito, o anfitrião repara: deixa o visitado falar sobre o que quiser. Anui aqui ou ali, discorda ali ou aqui. Já teve muitos jovens batendo-lhe à porta, cheios de duvidanças. Mas repara que este parece mais inteligente que todos os outros. No final, o visitado retira-se, o anfitrião agradece a visita, predispõe-se a recebê-lo de novo no futuro, promete enviar-lhe um exemplar de um dos seus livros. Cumprimentam-se cordialmente.


Foi há 331 anos. O mais novo tinha por nome Gottfried Leibniz, 30 anos na altura, o mais velho Baruch Spinoza, 45 anos na altura.

Parece apenas que quando os dois génios mais luminosos de um mesmo século partilham um serão num mesmo aposento, todo o mundo (e o paraíso dele criado) parece bem mais pequeno.