Preguiça crítica
A discussão política em Portugal entrou numa prolongada hibernação. A esmagadora maioria dos jornalistas, opinion-makers e comentadores em geral esquiva-se a reflexões demoradas, preferindo avançar com análises sucintas e soundbytes (adoptando a mesma estratégia que criticam nos políticos). Vejamos: o PSD “está mergulhado numa crise” e tem “uma direcção bicéfala” (esta é particularmente irritante). A subida nas sondagens e as primeiras semanas surpreendentemente positivas e contidas de Menezes não são tidas em conta. O CDS está “ainda a recuperar das suas querelas internas”. Longa convalescença, esta! O país “atravessa um momento difícil” (mas alguma vez esteve num “momento fácil”?) e este é “o Orçamento possível” (não há alternativas, é isso? Então para quê o debate?).
Por outro lado, escasseiam as análises sobre as incongruências deste Governo, dito socialista. Poucas ou nenhumas perguntas sobre a falta de preocupações sociais do dito; pouca ou nenhuma insistência na falta de vergonha de um Governo que não honra os seus compromissos (o referendo, a não-subida de impostos, a subida de impostos “temporária”, os 150 mil empregos); pouca ou nenhuma insistência nos constantes erros, desvarios e ziguezagues estratégicos do Executivo.
As consequências estão à vista, mas é mais difícil traçar as causas: esta preguiça é fruto de um alinhamento político ou de uma letargia explicável talvez pelo clima ameno?
Por outro lado, escasseiam as análises sobre as incongruências deste Governo, dito socialista. Poucas ou nenhumas perguntas sobre a falta de preocupações sociais do dito; pouca ou nenhuma insistência na falta de vergonha de um Governo que não honra os seus compromissos (o referendo, a não-subida de impostos, a subida de impostos “temporária”, os 150 mil empregos); pouca ou nenhuma insistência nos constantes erros, desvarios e ziguezagues estratégicos do Executivo.
As consequências estão à vista, mas é mais difícil traçar as causas: esta preguiça é fruto de um alinhamento político ou de uma letargia explicável talvez pelo clima ameno?
2 Comments:
Interessante a sua reflexão, porque ainda hoje pensei sobre a correlação entre o desinteresse que se tem pela filosofia e o desinteresse pela política, no nosso país. Talvez a "letargia" seja antes explicável pela fraca capacidade crítica e democrática que temos, fruto de uma inexistente formação filosófica nos nossos currículos. (Sim, porque a filosofia dada no 10º e 11º anos, por incompetência dos professores e dos manuais, sendo que são feitos pela mesma classe, classe essa que é por sua vez formada pelas universidades e, aqui, chegamos ao cerne apodrecido da questão)...
Obrigado pelo seu comentário. Sobre a importância da filosofia, eu sou pouco isento, porque ela é a patroa que me põe comida no prato, por isso é melhor não acrescentar muito. Limito-me a dizer que subscrevo por inteiro o que defendeu.
Por outro lado, trata-se também de um problema da relação entre a comunicação social e o poder, que funciona na base de uma atracção mútua fortíssima: é um caso clássico em Portugal - os jornalistas bajulam quem governa (porque isso os "aproxima" do poder) e zombam da oposição (pelo motivo oposto).
Cumprimentos!
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