Uma história alternativa
Sabemos como aconteceu, desde o desenvolvimento das primeiras civilizações ao surgimento do Cristianismo, desde as invasões bárbaras ao triunfo da informática. Mas... poderia ter sido de outro modo? É possível fantasiar que a História – uma extraordinária sucessão de eventos que não é mais que um afortunado jogo de acasos – tivesse sido escrita com uma pena diferente?
É este o ponto de partida de What If?, uma pechincha que comprei num alfarrabista em Londres (no caso, o segundo volume). Um conjunto de reputados historiadores reflecte sobre o modo como o mundo teria evoluído se pequenos eventos tivessem alterado os grandes acontecimentos da narrativa humana. Os sugestivos títulos dos capítulos falam por si: “Os chineses descobrem o Novo Mundo no século XV”; “Lutero morre na fogueira em 1521”; “Se Lincoln não tivesse libertado os escravos”; “O Führer à solta (Hitler sobrevive à ofensiva aliada)”.
Nestes ensaios de história contrafactual destacam-se dois textos. O primeiro parte da hipótese de Sócrates ter morrido na Batalha de Délio, onde os atenienses foram esmagados, mas o (ainda jovem) filósofo sobreviveu. As páginas que se seguem consideram o futuro da filosofia sem um dos seus pais fundadores: o que teria sucedido a Platão, sem nunca ter conhecido o seu mentor? Que rumo teria seguido a educação dos jovens atenienses, sem que os sofistas tivessem um rival à altura? E o que seria da tradição ocidental sem os diálogos platónicos, sem o Fédon ou o Górgias, sem A Apologia de Sócrates ou A República?
O terceiro artigo é igualmente extraordinário, a começar pelo título: “Pôncio Pilatos poupa Jesus”. Seria possível um Cristianismo sem a crucificação? “E se Cristo tivesse vivido uma vida muito longa?”, pergunta Carlos Eire. Teria um velho e cansado profeta ainda assim cativado as multidões? Sem essa grande epifania, teriam os cristãos minado os alicerces do Império Romano? Haveria sequer um Cristianismo? E se não, o que seria da nossa história moderna, sem igrejas e sem papas, sem a Páscoa e sem o Natal? O autor responde a estas e outras questões impossíveis com uma difícil mas notável combinação de humor e densidade especulativa, no melhor texto de um grande livro.
É este o ponto de partida de What If?, uma pechincha que comprei num alfarrabista em Londres (no caso, o segundo volume). Um conjunto de reputados historiadores reflecte sobre o modo como o mundo teria evoluído se pequenos eventos tivessem alterado os grandes acontecimentos da narrativa humana. Os sugestivos títulos dos capítulos falam por si: “Os chineses descobrem o Novo Mundo no século XV”; “Lutero morre na fogueira em 1521”; “Se Lincoln não tivesse libertado os escravos”; “O Führer à solta (Hitler sobrevive à ofensiva aliada)”.
Nestes ensaios de história contrafactual destacam-se dois textos. O primeiro parte da hipótese de Sócrates ter morrido na Batalha de Délio, onde os atenienses foram esmagados, mas o (ainda jovem) filósofo sobreviveu. As páginas que se seguem consideram o futuro da filosofia sem um dos seus pais fundadores: o que teria sucedido a Platão, sem nunca ter conhecido o seu mentor? Que rumo teria seguido a educação dos jovens atenienses, sem que os sofistas tivessem um rival à altura? E o que seria da tradição ocidental sem os diálogos platónicos, sem o Fédon ou o Górgias, sem A Apologia de Sócrates ou A República?
O terceiro artigo é igualmente extraordinário, a começar pelo título: “Pôncio Pilatos poupa Jesus”. Seria possível um Cristianismo sem a crucificação? “E se Cristo tivesse vivido uma vida muito longa?”, pergunta Carlos Eire. Teria um velho e cansado profeta ainda assim cativado as multidões? Sem essa grande epifania, teriam os cristãos minado os alicerces do Império Romano? Haveria sequer um Cristianismo? E se não, o que seria da nossa história moderna, sem igrejas e sem papas, sem a Páscoa e sem o Natal? O autor responde a estas e outras questões impossíveis com uma difícil mas notável combinação de humor e densidade especulativa, no melhor texto de um grande livro.
6 Comments:
Uma boa proposta para aplicar aos pequenos acontecimentos da nossa vida pessoal.
Como teria sido se...
faz-me lembrar que o saramago também fez esse exercício com lisboa. e eu gostei. e aquele filme sliding doors também é muito engraçado. também gostei. mas esses exercícios do what if parecem mais sérios. ou mais densos. nas nossas vidas pessoais é mais complicado. podemos cair num abismo... lol
Já folheei a recente edição portuguesa do dito mas já não me recordo do título.
Eu, não sei se por limitação intelectual da minha pessoa, não gosto de "e se's". Nunca gostei: é talvez devido à tendencial infinitude de tal exercício.
Mas é engraçado que a "A história do cerco de Lisboa" foi a única obra que li até o final do Saramago. E até gostei.
Cumprimentos.
fiquei com água na boca. existe edição portuguesa?
Caro anónimo, ora aí está um exercício curioso, mas sem dúvida angustiante. Imaginar vidas paralelas em que nós próprios somos simultaneamente os autores e os actores parece-me um exercício emocionalmente no limite...
Cara Sofia, é em tom sério, mas não é denso no sentido de ser maçudo. São pequenos artigos (12-15 págs), com uma introdução ao tema, uma descrição do que "realmente" aconteceu e o que poderia ter sido diferente. É um livro despretensioso, mas muito bom.
Obrigado pelo comentário, caro Ega. E seja bem-vindo novamente ao meio blogosférico (no "Metafísica..."), porque a ausência foi sentida.
Caro Nélio, o Ega falou de uma edição portuguesa, mas eu não sei da existência de uma. Mas caso leia em inglês, recomendo, porque a linguagem não é excessivamente técnica. E o livro está à venda na Amazon por meia dúzia de euros... Claro que há sempre a hipótese "Fnac" - importado. Nada mais nada menos que 33 euros!
o google aponta para uma edição brasileira, deve ser essa a que o ega se referiu. sendo assim, melhor será a inglesa...
Enviar um comentário
<< Home