Está alguém do outro lado?
Talvez sejam um castigo divino. Ou uma provação, daquelas sem as quais não é possível entrar no reino dos Céus. Falo, claro está, dos “serviços de atendimento ao cliente”. Que saudades do tempo em que um operador, mal-disposto e antipático, me dava todas as informações necessárias para solucionar um problema corriqueiro. Hoje, qualquer dificuldade básica corresponde a uma tarefa hercúlea, pois o cliente preocupado está condenado a deparar-se com um labirinto de chamadas reencaminhadas, linhas de espera, teclas premidas (inicialmente com gentileza, mas depois com fúria), insuportável música de fundo e constantes conselhos para “aguardar mais um pouco”.
E, quando este calvário parece chegar ao fim, ou seja, quando finalmente ouvimos o operador do outro lado (por que diabo não falámos com ele logo de início?), o mais provável é que o dito cujo não faça a mais pequena ideia de como resolver o nosso problema. É certo que nos indicará um outro número de telefone – “onde a sua questão será seguramente respondida” – mas o cliente sabe já, por esta altura, que se prepara apenas para repetir todo o processo, movido pela ténue esperança de que no fim da linha alguém o possa ajudar, por uma vez que seja. Mas não sem que martele uma dúzia de vezes na tecla “cardinal” e pondere o suicídio ao som da “Primavera” de Vivaldi, repetida dezenas de vezes na versão “pan-pipe”.
E, quando este calvário parece chegar ao fim, ou seja, quando finalmente ouvimos o operador do outro lado (por que diabo não falámos com ele logo de início?), o mais provável é que o dito cujo não faça a mais pequena ideia de como resolver o nosso problema. É certo que nos indicará um outro número de telefone – “onde a sua questão será seguramente respondida” – mas o cliente sabe já, por esta altura, que se prepara apenas para repetir todo o processo, movido pela ténue esperança de que no fim da linha alguém o possa ajudar, por uma vez que seja. Mas não sem que martele uma dúzia de vezes na tecla “cardinal” e pondere o suicídio ao som da “Primavera” de Vivaldi, repetida dezenas de vezes na versão “pan-pipe”.
1 Comments:
Bravo!
Não à "Primavera" de Vivaldi (gosto mais do "Inverno"), mas ao seu texto que descreve muito bem a ansiedade dos tempos modernos...
As tecnologias parecem atalhar distâncias, mas os estágios que nos fazem passar até ao encontro e efectivação desse encontro, envelhecem-nos dias em minutos. :)
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