Quando chega a nossa hora
No passado sábado, João Pereira Coutinho escreveu um excelente texto no “Expresso” sobre um dos maiores problemas da sociedade contemporânea: a forma como procuramos prolongar a vida humana, de modo quase obsessivo, e de como, simultaneamente, criámos um modelo social e cultural que menospreza a velhice. É um dos grandes paradoxos da modernidade: o homem orgulha-se da sua longevidade, mas envergonha-se da sua velhice. Escreve JPC: “o mundo de hoje cultiva a longevidade como valor supremo; mas a longevidade é vista com repulsa pelo mundo de hoje. Todos queremos viver mais; mas, se vivemos mais, começamos a viver demais”.
É nesta percepção última que reside a solução – e não na mudança de um paradigma que procura valorizar a longevidade a todo o custo. É necessário que reconheçamos os nossos limites: é a única posição reconciliável com a nossa natureza finita, a única atitude que, partindo do reconhecimento humilde do que não somos, afirma plenamente a singularidade do que somos, do que fomos e do que não podemos nem devemos ser.
Disto falava um envelhecido James Madison em 1831, orgulhoso da sua longevidade, mas perfeitamente ciente de que o seu tempo chegara ao fim. Revendo os seus oitenta anos de idade, Madison – o último sobrevivente entre os criadores da Constituição, o último dos pais fundadores, a derradeira testemunha da Revolução Americana – escrevia ao amigo Jared Sparks: “Depois da morte do coronel Few sou agora o único signatário da Constituição ainda vivo. Sou também o último sobrevivente do Congresso Revolucionário que prestou funções durante a Guerra da Independência; e sou ainda o único sobrevivente dos membros que em 1776 criaram a Constituição da Virgínia. Tendo vivido mais tempo do que tantos dos meus contemporâneos, não devo esquecer que provavelmente vivi também mais tempo do que aquele que me estava destinado.”
É nesta percepção última que reside a solução – e não na mudança de um paradigma que procura valorizar a longevidade a todo o custo. É necessário que reconheçamos os nossos limites: é a única posição reconciliável com a nossa natureza finita, a única atitude que, partindo do reconhecimento humilde do que não somos, afirma plenamente a singularidade do que somos, do que fomos e do que não podemos nem devemos ser.
Disto falava um envelhecido James Madison em 1831, orgulhoso da sua longevidade, mas perfeitamente ciente de que o seu tempo chegara ao fim. Revendo os seus oitenta anos de idade, Madison – o último sobrevivente entre os criadores da Constituição, o último dos pais fundadores, a derradeira testemunha da Revolução Americana – escrevia ao amigo Jared Sparks: “Depois da morte do coronel Few sou agora o único signatário da Constituição ainda vivo. Sou também o último sobrevivente do Congresso Revolucionário que prestou funções durante a Guerra da Independência; e sou ainda o único sobrevivente dos membros que em 1776 criaram a Constituição da Virgínia. Tendo vivido mais tempo do que tantos dos meus contemporâneos, não devo esquecer que provavelmente vivi também mais tempo do que aquele que me estava destinado.”
1 Comments:
A família «antiga», com todos os seus defeitos, «funcionava».
Além do mais, os novos modelos de família fazem com que os velhos não convivam com os filhos ou os netos e fiquem numa solidão que se adivinha (e de que eu próprio tenho o maior medo, sobretudo se demorar a chegar a minha hora).
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