quinta-feira, janeiro 10, 2008

Aeroporto em Alcochete

Mário Lino deve estar com uma desagradável indigestão, tal foi o tamanho do sapo que engoliu. Sócrates reincidiu num número de circo, em nova demonstração de relativismo moral. Com franqueza, já nem são as decisões políticas que mais me preocupam neste Governo, mas sim a absoluta desfaçatez e a falta de carácter do primeiro-ministro.

Entendam-me: não é a escolha de Alcochete que está em causa (não tenho competências técnicas para ajuizar a opção). Mas é difícil não ficarmos inquietos perante os permanentes recuos e mudanças de estratégia, sinais de um Governo à deriva. O mesmo Governo que, há seis meses, zombava daqueles que colocavam dúvidas sobre a Ota, gozando literalmente com a crítica. Eram os “Velhos do Restelo”, exclamavam. “Os que falam, mas não fazem” – por oposição às mentes iluminadas do Governo, “homens de acção”, “irredutíveis nas suas convicções”.

Sócrates aparecer agora perante os cidadãos com uma postura angélica, reclamando que a sua decisão se deveu a um acto de ponderação, é uma mistificação pura e simples. Mais um pouco de areia para os olhos. Mais um gesto de propaganda (quão conveniente é este anúncio um dia depois da polémica do “não-referendo”?). Mais um exemplo de contorcionismo político – no qual, diga-se de passagem, Sócrates se tem revelado mestre.

4 Comments:

Blogger Freire de Andrade said...

O que mais me chocou neste longo e tortuoso assunto doa escolha do local para o novo aeroporto de Lisboa foi a posição assumida pelo ministro e não desautorizada na altura pelo PM de que a opção pela OTA teria de ser mantida porque não eram conhecidos estudos que defendessem qualquer alternativa, mas se alguém apresentasse um estudo com outra localização, então o governo poderia considerá-la. Então para que temos governo? Para ficar passivamente à espera que alguém faça o seu trabalho? Não será função do governo procurar a melhor solução para os problemas do País sem se limitar às opções que lhe são oferecidas? Para mais já muitas e abalizadas opiniões tinham posto em causa a localização na OTA por razões graves. Este aspecto não tem sido devidamente salientado.

10/1/08 23:52  
Anonymous Anónimo said...

O que me preocupa mais é a unanimidade gerada em torno de uma localização que trará, a médio prazo, graves prejuízos ao País. É triste de ver, a politiquice partidária que, em nome de uma pseudo-vitória moral (leia-se, meia dúzia de votos ou nem sequer isso), passa por cima dos valores naturais do País, põe em risco o fornecimento futuro de água na zona em questão e apoia uma opção sem conhecer verdadeiramente os seus contornos. O verdadeiro problema em Alcochete não é, apesar dos pesares, o aeroporto, mas a cidade aeroportuária que se lhe seguirá e cujos impactos não estão contidos - ou estão parcamente contidos - no estudo do LNEC (para não falar da plataforma logística no Poceirão, da nova ponte rodo-ferroviária, que há alguns anos não servia e que foi preterida em favor da ponte Vasco da Gama, com os impactos que se conhecem, dos ramais ferroviários que terão que ser construidos e que farão disparar os custos associados ao aeroporto em mais alguns milhões de euros, etc). Mas o problema não é só governativo, nem mesmo partidário, é social, num país onde o Governo e a Oposição se comportam indignamente e a população assiste, na sua placidez, sem perguntar quais os motivos efectivos para a mudança de rumo.
Sempre quero ver se também vão acusar as questões ambientais, quando a Comissão Europeia apresentar obstáculos à construção do aeroporto naquela zona. Não podemos esquecer que as leis em que esses obstáculos se vão basear foram reconhecidas pelas entidades nacionais, este Governo incluido. Mas, nessa altura, só falarão do aumento de custos com os atrasos por causa dos passarinhos e serão completamente esquecidos - como convém - os compromissos assumidos anteriormente. E a malta assiste, placidamente, e até concorda. Que raio! Porque motivo hão-de os políticos respeitar compromissos internacionais, se não respeitam os que assumem com o seu próprio povo!
Mas a malta gosta. E a conservação da natureza? Para quê? Dá emprego? Dá dinheiro? Tem valor? A União Europeia pensa que sim, pois tem um estudo a decorrer para permitir valorizar a biodiversidade em termos económicos. Embora me pareça curto, já é alguma coisa. Mas, em Portugal, decidem-se coisas para os próximos 50 anos, negligenciando tendências que podem vir a orientar a acção política num futuro próximo.
Fala-se de Consulta Pública, mas a decisão é anunciada antes desta acontecer, retirando-lhe, se não a legitimidade, pelo menos o sentido. E quais são as alternativas avançadas? Mas que se lixe: a malta gosta e até é bom ter alguém que decida por nós. Dá menos trabalho.
É a merda que temos!
Desculpem a franqueza, mas isto já irrita! E não há sinais de mudança!
Cumprimentos

11/1/08 12:48  
Anonymous Anónimo said...

E o ministro Mário Lino?
Tenho a desconfiança que o senhor ainda terá discernimento para ver que foi transformado no cavaleiro da triste figura.
estou tão triste por ele!

11/1/08 12:57  
Anonymous Anónimo said...

O pior é que Sócrates tem um grande rival em termos de contorcionismo político. Chama-se Luis Filipe. Menezes.

11/1/08 17:27  

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