O não-referendo: uma fuga cobarde
Defendo a realização de um referendo porque entendo que prolongar a construção europeia à margem dos cidadãos constitui um erro estratégico grave. É certo que haveria ruído na discussão pública – mas seria preferível existir algum debate ou mesmo um mau debate do que não haver nenhum debate. Dizem os líderes políticos que o “não” poderia ganhar, bloqueando a aprovação geral do Tratado. Este argumento só mostra a falta de confiança que os mesmos têm em si próprios: pois se acreditam no valor do Tratado, resta-lhes empenharem-se a fundo para convencer os cidadãos dos seus méritos. Preferindo o expediente parlamentar, os políticos nacionais optam por uma fuga cobarde às suas responsabilidades.
3 Comments:
concordo com o princípio em si, mas não sei se seremos um país esclarecido. e imagino o folclore que se faria à volta de um referendo. imagino também que o ruído iria acabar por abafar a discussão séria que seria desejável. duvido muito que o nosso povo tenha maturidade para realmente votar o tratado em si e pergunto-me se o referendo não iria servir para tudo menos para uma discussão política civillizada e concentrada no verdadeiro objecto.
Comentário ao comentário de nelio:
E será que os deputados têm maturidade para realmente votar o tratado em si? Tenho muitas dúvidas.
O paternalismo é a primeira de todas as ditaduras. Não sei se conhecem a figura do "ditador bom", tantas vezes usada por nós, um pouco em tom de brincadeira? Quase todos os ditadores das história, senão mesmo todos, acreditavam na bondade das suas acções e decisões.
Isso não invalida o facto de, lá por ser bom ou acreditar que as suas acções são guiadas pelo melhor para o povo que governa, não deixa de ditar/impôr aos outros o que devem fazer, retirando-lhes não só a possibilidade de exercer o seu direito de escolher, ou seja, a sua liberdade, mas também o dever de se responsabilizarem pelas consequências das suas opções. A isto chama-se democracia, nos tempos modernos. Uma forma de organização política cada vez mais esquecida, infelizmente.
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