domingo, março 16, 2008

Notas sobre "No Country For Old Men"


1) Retiro o que disse a semana passada a propósito de os realizadores americanos não saberem filmar sem sobrepôr ruído pretensamente musical. Os Coen sabem-no, e bem. P. T. Anderson devia aprender neste filme como filmar deserto...
2) Javier Bardem mostra o que espectadores atentos dele já sabiam: que é o melhor actor europeu de cinema na actualidade.
3) O interveniente Anton Chigurh leva-me a querer separar, contra Thomas Hobbes, o que seja representação e personificação. Tamanha banalização do mal e "animalificação" do outro é apenas um "tornar-se presente nele" e não um "estar na máscara dele", um "estar em pessoa".
4) Extraordinária a primeira meia-hora do filme. E que dizer da síntese de tensão emocional da cena na bomba de gasolina?
5) O filme, no monólogo inicial e a partir da última meia hora, acompanha a perspectiva de um idoso xerife no sentimento de inadequação e desconforto perante um mundo com tanta violência e mal constante. No fundo, se o romance não tivesse sido escrito por um americano, chamar-se-ia com propriedade "No World For Old Men": mas como o norte-americano vê o mundo condensado nos EUA, assim se compreende o título (estranhamente, parte do filme decorre até em território mexicano).
6) Tive a experiência completa com a "moral" do filme no seu visionamento. Ao meu lado na sala, um casal de idosos via o filme com um misto ar de espanto (soltando onomatopeias como "aaaaahhhh!", "eeehhhh!"), de indignação ("ttchhhhh!"), e de horror ("ai credo!"), para não falar na constância de comentários inúteis ("o que é aquilo?", "ah, é um chip!", "um quê?!", "um chip."). Senti afinal que talvez fosse um filme demasiado sobre este mundo para ser adequado a gente de um mundo outro. No fundo, a minha experiência demonstrou que No No Country For Old Men For Old Men...