segunda-feira, abril 28, 2008

Primárias americanas: ponto da situação

[Uma análise em três momentos (retomando algumas ideias que expus no programa da RTP N )].

Olhando para trás. A vitória clara de Hillary Clinton na Pensilvânia (por 9,3%) garante-lhe desde já a legitimidade moral para continuar na corrida. Hillary colheu o apoio esmagador dos operários, dos católicos e das classes baixas – uma parte significativa do eleitorado tradicionalmente fiel aos Democratas que continua a olhar com renitência para Obama. Sem surpresas, Hillary tem sublinhado este facto, procurando convencer os superdelegados que ela é apesar de tudo a melhor candidata para derrotar McCain em Novembro.

Obama tinha poucas hipóteses de vencer num Estado com uma população muito envelhecida (sector muito favorável a Hillary). Em todo o caso, uma excelente mobilização do eleitorado afro-americano e da sua base de apoio em Filadélfia permitiu minimizar a derrota, que não teve uma implicação numérica significativa (Hillary conquistou mais dez delegados do que Obama). Obama continua a liderar no número total de delegados (1727-1592) e no voto popular (com uma vantagem de 1,7%).

O que se segue? Restam nove eleições nas primárias Democratas, que se realizarão entre 6 de Maio e 3 de Junho. O número de indecisos é reduzido e o eleitorado parece estar perfeitamente alinhado em termos sociológicos. As vitórias de um ou outro candidato não conseguiram desfazer a “coligação de interesses” do adversário, que se revelou de certo modo indiferente aos resultados nos vários Estados. Assim, a demografia dos Estados tem sido determinante no condicionamento dos resultados.

Seguindo este critério, é fácil prever que as eleições das próximas semanas não deverão alterar o quadro actual da disputa Democrata. Obama deverá vencer na Carolina do Norte (forte presença de afro-americanos e jovens universitários), no Oregon (eleitorado Democrata urbano e francamente liberal), no Montana e no Dakota do Sul (Estados ultra-conservadores que detestam a ideia de votar numa mulher).

Por sua vez, Hillary deverá triunfar no Kentucky e na Virgínia Ocidental (Estados rurais, com uma grande classe baixa), e em Porto Rico (devido ao apoio dos hispânicos). O Indiana será equilibrado, mas é um Estado pequeno (apenas 72 delegados) – pelo que pouco alterará os resultados em geral.

Resolver o impasse. Adivinhando-se uma distribuição mais ou menos igualitária dos 400 delegados atribuídos nas eleições referidas, Obama fica em posição privilegiada para obter a nomeação. Todavia, sem chegar ao número mágico de 2025 delegados (quase impossível nesta altura), Obama necessitará de cortejar o apoio dos superdelegados que ainda se mantêm neutrais (cerca de 300). Hillary partirá em desvantagem, mas a sua popularidade junto das figuras proeminentes do Partido leva-a a acreditar que ainda pode obter inverter o triunfo provável de Obama.

Esta luta pelo apoio dos superdelegados surge assim neste momento como uma espécie de “disputa paralela” que será decisiva para desbloquear o impasse actual. Na verdade, trata-se de uma curiosa ironia: as primárias no Partido Democrata – um dos processos mais democráticos e populares do mundo – poderão ser resolvidas, em última instância, através de manobras de bastidores e de jogos políticos pouco transparentes.

1 Comments:

Blogger André, o campos said...

Clinton deverá apostar junto dos superdelegados no facto de ter ganho TODOS os grandes estados, necessários para a eleição final presidencial. Por outras palavras, se o sistema de eleição no partido democrata fosse "the winner takes all" (como é na eleição nacional), Clinton teria já a eleição assegurada. No entanto, continua atrás.

E não esquecer que ela deverá apostar ainda, e muito, no "Florida factor", um estado enorme (favorável a Clinton), importantíssimo na eleição de Novembro (basta lembrar que foi aí que Bush derrotou Gore), e que se viu arredado da decisão democrata por motivos burocráticos. Eu se fosse superdelegado democrata estaria muito indeciso nesta altura...

29/4/08 00:10  

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