terça-feira, setembro 30, 2008

Quem chumbou o plano, afinal?

Infelizmente, a atenção extraordinária que os media dedicam aos Estados Unidos não obedece a desejáveis padrões de rigor - em particular quando estão em causa características peculiares do sistema político americano. Veja-se por exemplo a forma como foi descrito o recente chumbo ao plano financeiro da Administração Bush. Na SIC Notícias, Mário Crespo referiu-se à rejeição do "Congresso", ideia repetida por exemplo pelo Jornal de Negócios. Noutro órgão de comunicação social noticia-se que "o Senado dos EUA rejeita plano de Bush". E o JN informa em primeira página que o referido plano foi "chumbado pelos Republicanos".

Nos EUA existem duas câmaras legislativas federais, a Câmara dos Representantes e o Senado. Ao conjunto destas câmaras designa-se Congresso, que, globalmente falando, corresponde ao órgão legislativo supremo nos Estados Unidos. O plano foi votado inicialmente na Câmara dos Representantes (como sempre acontece nas matérias económicas), tendo sido reprovado. Assim sendo, não chega a haver votação no Senado. É errado dizer que o Congresso rejeitou o plano, porque o Congresso no seu todo não se pronunciou.

Por outro lado, não existe disciplina de voto nos EUA. Afirmar pois que um determinado partido foi responsável pelo chumbo de uma proposta denota ignorância pura. No caso concreto, uma breve visita a um qualquer site oficial americano mostraria que houve muitos Republicanos a votarem contra (133 em 198), mas que uma parcela significativa de Democratas também se opôs (95 em 235). Não custa nada ser rigoroso, pois não?