O impostor
O comportamento errático do Irão encerra, pelo menos, uma consistência: representa o mais claro triunfo da dissimulação. Em conferências de imprensa, entrevistas e outros meios propagandísticos (de que demos um exemplo anteriormente), o Governo iraniano apregoa a sua boa vontade, o seu espírito ecuménico, a transparência da sua conduta e o os seus ideais pacíficos. Em simultâneo, escapam desse discurso – voluntaria ou involuntariamente (eu vou pela primeira) – afirmações de intolerância, megalomania, fanatismo, por vezes de insanidade.
Na mesma semana em que anuncia a colocação em funcionamento de três mil centrifugadoras de enriquecimento de urânio, prosseguindo a expansão do seu programa nuclear (o tal que visa exclusivamente “a produção de electricidade”), o Irão patrocina uma conferência internacional dedicada à negação do Holocausto. Em Teerão são esperados dezenas de historiadores – a notícia do Expresso (sem link; p. 35 do Primeiro Caderno) fala de uma “autêntica peregrinação de revisionistas e negacionistas do mundo inteiro” – entre os quais Bradley Smith, Serge Thion ou o australiano Fredrik Toben (este último cumpriu inclusivamente pena de prisão na Alemanha), unidos por uma mesma ideia: o Holocausto é uma ficção.
Até aqui tudo bem. Não se trata propriamente de um evento original – embora não me recorde de nenhum encontro de revisionistas do Holocausto com honras de Estado. Mas o que verdadeiramente importa não é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão apadrinhe esta conferência, mas sim a declaração oficial que está subjacente a este patrocínio. A iniciativa, dizem-nos, “pretende desafiar o que o Irão considera ser a hipocrisia da ‘liberdade de expressão’ ocidental, que permite criticar Maomé, mas não tolera que se questione o Holocausto”. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros confessa, aliás – com uma desfaçatez que impressiona: “Se a conferência concluir que o Holocausto existiu, o Irão aceitá-lo-á”. Um conselho modesto, caro senhor: a contar com o local do encontro e com o painel de oradores, eu não apostava muito nisso.
Como todas as boas histórias, esta também tem um condimento adicional: parece que a conferência vai contar com um nosso compatriota. Quem é o abnegado? Flávio Gonçalves, estudante de história, que se define politicamente como “sindicalista-revolucionário” (ena, mais uma múmia importada de 1917!) e ainda – peço a vossa atenção – como “eco-anarquista”. Se ainda estou recordado do significado da palavra “eco”, suspeito que a casa deste rapazinho deve estar muito desarrumada.
Na mesma semana em que anuncia a colocação em funcionamento de três mil centrifugadoras de enriquecimento de urânio, prosseguindo a expansão do seu programa nuclear (o tal que visa exclusivamente “a produção de electricidade”), o Irão patrocina uma conferência internacional dedicada à negação do Holocausto. Em Teerão são esperados dezenas de historiadores – a notícia do Expresso (sem link; p. 35 do Primeiro Caderno) fala de uma “autêntica peregrinação de revisionistas e negacionistas do mundo inteiro” – entre os quais Bradley Smith, Serge Thion ou o australiano Fredrik Toben (este último cumpriu inclusivamente pena de prisão na Alemanha), unidos por uma mesma ideia: o Holocausto é uma ficção.
Até aqui tudo bem. Não se trata propriamente de um evento original – embora não me recorde de nenhum encontro de revisionistas do Holocausto com honras de Estado. Mas o que verdadeiramente importa não é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão apadrinhe esta conferência, mas sim a declaração oficial que está subjacente a este patrocínio. A iniciativa, dizem-nos, “pretende desafiar o que o Irão considera ser a hipocrisia da ‘liberdade de expressão’ ocidental, que permite criticar Maomé, mas não tolera que se questione o Holocausto”. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros confessa, aliás – com uma desfaçatez que impressiona: “Se a conferência concluir que o Holocausto existiu, o Irão aceitá-lo-á”. Um conselho modesto, caro senhor: a contar com o local do encontro e com o painel de oradores, eu não apostava muito nisso.
Como todas as boas histórias, esta também tem um condimento adicional: parece que a conferência vai contar com um nosso compatriota. Quem é o abnegado? Flávio Gonçalves, estudante de história, que se define politicamente como “sindicalista-revolucionário” (ena, mais uma múmia importada de 1917!) e ainda – peço a vossa atenção – como “eco-anarquista”. Se ainda estou recordado do significado da palavra “eco”, suspeito que a casa deste rapazinho deve estar muito desarrumada.
2 Comments:
Tudo muito admirável, realmente. Em jeito de curiosidade, aqui fica a morada do rapaz que refere: http://admiravelmundonovo-1984.blogspot.com/
E Nuno Rogeiro.
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