terça-feira, fevereiro 13, 2007

Pós-referendo (I)

O referendo ao aborto deu origem a dois lamentáveis sub-produtos: o ressentimento e a auto-ilusão. O primeiro encontra-se, desde logo, entre alguns defensores do “não", que, uma vez conhecidos os resultados, deram imediatamente azo à mais primária insensatez. O caso de Luís Filipe Menezes é exemplar do ponto de vista político, quando afirmou que “o primeiro-ministro saiu ferido na sua credibilidade” e que a votação de domingo “foi um primeiro cartão amarelo a esta governação cinzenta, desesperançada e triste” (aqui). Na blogosfera também assistimos a algumas tiradas infelizes. Talvez a mais estapafúrdia tenha sido expressa no Blogue do Não, onde se podia ler 11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!”.

Mas o ressentimento assumiu outras figuras, nomeadamente entre os vencedores que, não satisfeitos com o facto, logo se apressaram a ressuscitar ódios de estimação, utilizando uma argumentação sectária e disparatada. Daniel Oliveira, Vital Moreira e Carlos Abreu Amorim, por exemplo, não hesitaram em identificar o grande derrotado do referendo: a Igreja Católica. A mesma Igreja Católica que oficialmente não se envolveu na campanha, a mesma que demonstrou uma moderação exemplar – salvo os inevitáveis excessos de 2 ou 3 casos isolados – a mesma que evitou declarações oficiais e se pronunciou exclusivamente a favor da vida (de acordo, aliás, com os seus princípios intrínsecos).

Algumas pérolas dos bloguistas supracitados: “(...) constatou-se a força decisiva que as seitas possuem dentro da máquina eclesiástica. Perderam. Por culpa própria. E muito mais do que um simples referendo. Estranhamente, uma instituição que prima pela actuação tácticamente ponderada, quase sempre sábia, não percebeu a mudança enorme que este país teve nos últimos anos.” (CAA, aqui); “desde a implantação da República que a Igreja Católica não sofria uma derrota política tão profunda. E desta vez directamente às mãos do voto popular. Decididamente, a Igreja deixou de comandar a consciência moral dos portugueses e as opções políticas do Estado.” (Vital Moreira, aqui); e para terminar, o inenarrável Daniel Oliveira: “O poder político da Igreja sai muitíssimo fragilizado deste referendo. Depois deste resultado, dificilmente a chantagem da igreja terá a mesma eficácia” (aqui, sublinhados meus).

Decididamente, o dia 12 serviu para expelir toxinas e revisitar alguns fantasmas.

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1 Comments:

Blogger CAA said...

caro José Gomes André,

Tem de juntar mais alguns nomes aos 3 que citou. Por exemplo, o comunicado de ontem da Conf. Episcopal Portuguesa vai precisamente no mesmo sentido que eu quis imprimir à minha análise.

CAA

17/2/07 19:22  

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