quarta-feira, março 28, 2007

Jacques Delors

Aos 81 anos de idade – e quando se comemoram os 50 anos do Tratado de Roma – continua sendo um dos mais lúcidos europeístas. Alguns excertos da entrevista ao Expresso (sublinhados meus):

“Agrada-me que Angela Merkel tenha retomado a frase [que ‘devemos procurar uma alma nesta Europa’] que, aliás, é uma frase tão laica quanto crente, uma vez que ‘uma alma’ significa que os europeus estão todos no mesmo barco, mesmo que tenham orgulho em ser portugueses, espanhóis, alemães, italianos, franceses ou ingleses... Embarcaram juntos no mundo do século XXI, para realizarem projectos de civilização, de solidariedade e de generosidade.”

O problema do défice democrático na Europa tem a ver, antes de mais, com as dificuldades que os governo têm em ser coerentes com a Europa, leais para com a Europa e para com eles próprios. Se explicassem, por exemplo, que o alargamento de 15 para 27 é uma alegria para a Europa, uma reconciliação, o fim da Guerra Fria... Se explicássemos isso, de coração aberto, abrindo os braços a esses países, não estaríamos no actual impasse.”

“Existem soluções que passam por tentar estabelecer a igualdade de oportunidades na Educação. É fundamental que se crie mais mobilidade na sociedade, mais igualdade de oportunidades. (...) Considero que em cada ser humano, homem ou mulher, existe um tesouro que é preciso fazer sobressair. Se alguém vive em condições familiares ou escolares difíceis, esse tesouro jamais se revelará. Fica-se condenado a viver à margem da sociedade ou até ameaçado de exclusão. Assim, é preciso considerar que cada ser humano deve ter a sua oportunidade.”

não podemos deixar de fora os países da ex-Jugoslávia, sabendo os dramas que enfrentaram e que ainda os dividem. (...) não podemos fazer esperar esses países, que precisam de ser membros da União para encontrarem estabilidade, paz, reconhecimento mútuo e, sobretudo, confiança no futuro.”

[sobre a entrada da Turquia na UE] “Não teria feito como alguns, que disseram um ‘não’ definitivo. Eu digo ‘sim’ às negociações. Porque neste mundo ameaçado por guerras religiosas, pelo fundamentaliso, pela recusa do outro, se a Europa nega o outro e se fecha, estaremos a encorajar guerras e terrorismo. (...) trata-se de um ‘sim’ em nome de uma Europa aberta que não é uma Europa unicamente cristã, que é uma Europa com valores como a paz, o respeito mútuo e a solidariedade.”

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é, ainda no domingo passado vi uma entrevista com outro octogenário (Mário Soares) que para defender a Europa só falava na esquerda e no que significa "ser de esquerda" e o que eram políticas "de esquerda" e assim por diante.

Por outras palavras, Delors tem um discurso aberto e que entendemos e que não bate sistematicamente em chavões de «esquerda e «direita». Que diferença.

28/3/07 09:57  
Anonymous Anónimo said...

Venham mais Jacques Delors com discursos lúcidos, coerentes e construtivos.
Coerência de pensamento para um projecto futuro é tudo quanto precisamos.

28/3/07 19:01  

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