O voto francês
A primeira volta das eleições francesas não produziu grandes surpresas, com a excepção dos níveis de participação – verdadeiramente assombrosos (84%), num país onde os cidadãos parecem geralmente cansados da política. Sarkozy foi o mais votado (31%), superando largamente o resultado de Chirac em 2002 (mais 12%, correspondente a quase 6 milhões de votos). Seguiram-se Ségolène Royal (25,9%) e François Bayrou (18,5%). A primeira, campeã das frases vazias, defensora dos bons costumes e encarnação política da estética da SIC Mulher, segue para a segunda volta. Pelos vistos, mais de 9 milhões de franceses anseiam por uma governante especializada em tiradas monossilábicas e discursos vagos.
Bayrou, o “candidato centrista”, optou por não se comprometer com uma concepção política, adoptando uma retórica próxima da teologia negativa: “eu não sou de esquerda nem de direita”; “eu não sou nem a favor nem contra a Constituição europeia”; “eu não defendo nem ataco a imigração”; “eu não gosto de fiambre nem de ovos mexidos”. A ambiguidade valeu-lhe quase 7 milhões de votos.
A paixão francesa pelos discursos obscuros puniu naturalmente os ideólogos mais comprometidos. Os extremistas sofreram pesadas derrotas: Le Pen não chegou aos 11 % e perdeu um milhão de votos em relação a 2002. Os múltiplos candidatos da extrema-esquerda, incluindo anarquistas, trotsquistas e comunistas – que habitualmente têm uma boa base de apoio em França – tiveram resultados insignificantes.
A segunda volta decidir-se-á, como é costume, ao centro. Os apoiantes de Le Pen tenderão a votar Sarkozy, mas muitos não irão às urnas. A esquerda mais radical odeia Sarkozy, mas detesta igualmente Ségolène, a quem acusam de trocar o socialismo por um ideal conservador. De um modo geral, ficarão em casa no dia 6 de Maio. Em causa estão, por conseguinte, os 6 milhões e 800 mil votos de Bayrou, que Sarkozy e Ségolène cobiçarão nos próximos dias. Os media aguardam uma tomada de posição do candidato centrista, cujo apoio poderia ser decisivo na 2ª volta. No entanto, tendo em conta a tendência de Bayrou para não se comprometer politicamente, é bem provável que nunca se ouça uma declaração definitiva. Um palpite pessoal: ou Ségolène se decide, de uma vez por todas, a defender uma ideia que seja, ou Sarkozy, mais resoluto, mais claro, mais audaz – embora menos popular – conseguirá o lugar no Eliseu.
:: Resultados aqui. Para uma análise e acompanhamento mais pormenorizado dos resultados e sondagens, recomendo o Margens de Erro.
Bayrou, o “candidato centrista”, optou por não se comprometer com uma concepção política, adoptando uma retórica próxima da teologia negativa: “eu não sou de esquerda nem de direita”; “eu não sou nem a favor nem contra a Constituição europeia”; “eu não defendo nem ataco a imigração”; “eu não gosto de fiambre nem de ovos mexidos”. A ambiguidade valeu-lhe quase 7 milhões de votos.
A paixão francesa pelos discursos obscuros puniu naturalmente os ideólogos mais comprometidos. Os extremistas sofreram pesadas derrotas: Le Pen não chegou aos 11 % e perdeu um milhão de votos em relação a 2002. Os múltiplos candidatos da extrema-esquerda, incluindo anarquistas, trotsquistas e comunistas – que habitualmente têm uma boa base de apoio em França – tiveram resultados insignificantes.
A segunda volta decidir-se-á, como é costume, ao centro. Os apoiantes de Le Pen tenderão a votar Sarkozy, mas muitos não irão às urnas. A esquerda mais radical odeia Sarkozy, mas detesta igualmente Ségolène, a quem acusam de trocar o socialismo por um ideal conservador. De um modo geral, ficarão em casa no dia 6 de Maio. Em causa estão, por conseguinte, os 6 milhões e 800 mil votos de Bayrou, que Sarkozy e Ségolène cobiçarão nos próximos dias. Os media aguardam uma tomada de posição do candidato centrista, cujo apoio poderia ser decisivo na 2ª volta. No entanto, tendo em conta a tendência de Bayrou para não se comprometer politicamente, é bem provável que nunca se ouça uma declaração definitiva. Um palpite pessoal: ou Ségolène se decide, de uma vez por todas, a defender uma ideia que seja, ou Sarkozy, mais resoluto, mais claro, mais audaz – embora menos popular – conseguirá o lugar no Eliseu.
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Etiquetas: França, Sarkozy, Ségolène Royal
4 Comments:
Um óptimo post para ajudar a reflectir no que é essencial e deixando o acessório para os que se querem entregar ou ao discurso vazio ou às manobras de diversão se este ou aquele candidato é mais bonito, mais popular ou qualquer outra coisa que não conta nada para a boa ou má governação dum país.
O cidadão votante dá-nos lições de participação e consciência política e desta vez, mais uma vz os votantes surpreenderam: Não ficaram em casa como se uma votação para o mais alto cargo do seu país não tivesse nada a ver com eles. Parabéns aos franceses!
"A primeira, campeã das frases vazias, defensora dos bons costumes e encarnação política da estética da SIC Mulher, segue para a segunda volta."
Esta é antológica!
:)
J.
Caríssimo,
Quero dar-lhe os parabens pela qualidade que consegue manter no seu blog ( justicava um registo de visitas muito maior).
Obrigado aos três!
Quanto ao registo de visitas, caro Manuel Henriques, o problema deve estar no facto de eu ter cursado Filosofia, em vez de Marketing... :)
Um abraço!
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