Os deveres (especiais) dos militares
O Ministério da Defesa inglês autorizou os marinheiros que estiveram presos no Irão a concederem entrevistas pagas. Os tablóides rejubilaram com a hipótese de revelarem as amarguras dos militares, e os ex-reféns aproveitaram para aumentar as suas contas bancárias. Uma das prisioneiras já arrecadou 100 mil libras por uma mera entrevista ao The Sun. O episódio provocou polémica na Grã-Bretanha, tendo a opinião pública condenado estes “negócios indignos”.
Pode discutir-se se esta forma de lucro é legítima, ou se era preferível que o Governo tivesse impedido esse aproveitamento. Trata-se, todavia, de uma questão secundária – que se debruça sobre o veículo da mensagem e sobre uma eventual forma de o condicionar – e não sobre os deveres propriamente ditos do mensageiro. Este é o problema fundamental: os militares são um grupo especial no seio da organização nacional, com responsabilidades acrescidas. A segurança de um país depende, em última instância, da sua eficácia e competência, e para que estas não sejam comprometidas, os militares estão ao corrente de informação confidencial e têm acesso a documentos e instrumentos vedados aos cidadãos comuns.
Pode argumentar-se que os militares também são pessoas “normais”, com aspirações sociais idênticas aos restantes cidadãos. No entanto – justamente pelo papel decisivo que desempenham – os militares têm igualmente deveres adicionais. Não espanta que os marinheiros ingleses reclamem o direito de lucrar com a triste situação que viveram: na sociedade actual, mesmo os grupos privilegiados entendem que a liberdade equivale a um pleno usufruto de direitos. Esquecem que só há direitos onde existem deveres; e que, quanto mais relevante o papel social de um indivíduo/grupo, mais pesadas e relevantes são as suas responsabilidades.
Não por acaso os militares são um grupo de elite, sujeitos a um duro regime de preparação e a uma organização hierárquica que deve ser solenemente respeitada. Espera-se deles um comportamento exemplar e um cumprimento estrito dos seus deveres, que honre os mais elevados valores e princípios morais e dignifique a pátria que servem.
O problema não reside, pois, em saber se o Ministério da Defesa deveria ou não ter proibido as entrevistas pagas. O essencial do caso é questionar se o direito dos militares em lucrar com a situação militar em que se viram envolvidos – dando entrevistas pagas a jornais – não entra em conflito com o seu dever em honrar esses valores e princípios, e em proteger a integridade das Forças Armadas. E uma análise fria do caso não pode deixar de concluir que esse comportamento não apenas envergonha individualmente os militares, como fragiliza e desonra a nação que juraram defender e preservar a todo o custo.
Pode discutir-se se esta forma de lucro é legítima, ou se era preferível que o Governo tivesse impedido esse aproveitamento. Trata-se, todavia, de uma questão secundária – que se debruça sobre o veículo da mensagem e sobre uma eventual forma de o condicionar – e não sobre os deveres propriamente ditos do mensageiro. Este é o problema fundamental: os militares são um grupo especial no seio da organização nacional, com responsabilidades acrescidas. A segurança de um país depende, em última instância, da sua eficácia e competência, e para que estas não sejam comprometidas, os militares estão ao corrente de informação confidencial e têm acesso a documentos e instrumentos vedados aos cidadãos comuns.
Pode argumentar-se que os militares também são pessoas “normais”, com aspirações sociais idênticas aos restantes cidadãos. No entanto – justamente pelo papel decisivo que desempenham – os militares têm igualmente deveres adicionais. Não espanta que os marinheiros ingleses reclamem o direito de lucrar com a triste situação que viveram: na sociedade actual, mesmo os grupos privilegiados entendem que a liberdade equivale a um pleno usufruto de direitos. Esquecem que só há direitos onde existem deveres; e que, quanto mais relevante o papel social de um indivíduo/grupo, mais pesadas e relevantes são as suas responsabilidades.
Não por acaso os militares são um grupo de elite, sujeitos a um duro regime de preparação e a uma organização hierárquica que deve ser solenemente respeitada. Espera-se deles um comportamento exemplar e um cumprimento estrito dos seus deveres, que honre os mais elevados valores e princípios morais e dignifique a pátria que servem.
O problema não reside, pois, em saber se o Ministério da Defesa deveria ou não ter proibido as entrevistas pagas. O essencial do caso é questionar se o direito dos militares em lucrar com a situação militar em que se viram envolvidos – dando entrevistas pagas a jornais – não entra em conflito com o seu dever em honrar esses valores e princípios, e em proteger a integridade das Forças Armadas. E uma análise fria do caso não pode deixar de concluir que esse comportamento não apenas envergonha individualmente os militares, como fragiliza e desonra a nação que juraram defender e preservar a todo o custo.
Etiquetas: liberdades, militares, Reino Unido
2 Comments:
Um caso destes é bem demonstrativo do salve-se quem puder passando por cima de tudo dos dias que correm.
Quem pensar o contrário (o que também é o meu caso) está condenado a desilusões em série.
Uma duvidança:
- A aplicação da argumentação neste post (que me parece bem razoável), se aplicada ao mediático "caso Esmeralda", não contraria o senso comum da populaça que defende sem reservas o militar adoptante?
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