Mau jornalismo: um exemplo
A complexificação das sociedades trouxe um desenvolvimento sem paralelo nas formas comunicativas, mas um dos seus efeitos perniciosos reside na aparente diminuição da relevância do “factor humano”. Com um aparelho auxiliar tecnológico de extraordinária dimensão, os indivíduos têm vindo a desenvolver mecanismos de relaxamento e desconcentração, do qual nasceram pequenos hábitos de descuido, rapidamente transformados em práticas desleixadas e nocivas.
Este facto é especialmente visível nos media, onde a parafernália técnica quase que dispensa o jornalismo, pois a imagem (seja na televisão, seja nos periódicos) é suficiente como “narrativa” e “ilustração”. Nos últimos anos, esta tendência tem aumentado exponencialmente, e hoje é raro o espaço noticioso em que não sucedam negligências, descuidos ou até mesmo graves incompetências no exercício jornalístico. O Blasfémias e A Grande Loja apresentam dois casos interessantes (aqui e aqui), mas existem muitos outros exemplos.
Como o do artigo assinado por Isabel Oliveira, no Expresso do passado sábado (pág. 11). O texto é sobre a Governadora Civil de Lisboa (Adelaide Rocha) e as críticas que a sua conduta mereceu, a propósito da marcação das eleições para a Câmara a 1 de Julho (data que favorecia os partidos e prejudicava as candidaturas independentes), destacando a evidente posição “partidária” de Adelaide Rocha, que não se coibiu de apoiar pessoalmente a candidatura de António Costa (que a nomeou justamente quando era ministro da Administração Interna).
De súbito, somos confrontados com as seguintes frases bizarras: “Maria Adelaide Rocha, de 58 anos, não dá grande importância às críticas que lhe são endereçadas de parte a parte. O currículo profissional que granjeou na área da Cultura tornaram-na praticamente imune às tricas partidárias”. Sublinho que se trata de um corpo de texto sem aspas no original. O que é especialmente grave, pois dá a entender que se trata de uma opinião da jornalista, ainda para mais contrária à lógica de denúncia de um comportamento censurável que encontramos no resto do artigo.
Perante este cenário, há duas hipóteses. Ou se trata efectivamente de uma afirmação da jornalista – e é grave porque contém uma evidente e inaceitável opinião subjectiva partidária e partidarizante, que iliba a dita governadora de todas as dúvidas que a própria a notícia levanta; ou estamos perante uma declaração da própria governadora, e nesse caso aquela frase devia obviamente vir entre aspas, esclarecendo tratar-se de uma citação.
Dirão que se pressupõe que aquelas frases, tão decisivas no contexto do artigo, são da própria governadora. É até provável que assim seja, mas importa sublinhar que o jornalismo é um exercício de informação rigorosa, e não um concurso de intenções.
Este facto é especialmente visível nos media, onde a parafernália técnica quase que dispensa o jornalismo, pois a imagem (seja na televisão, seja nos periódicos) é suficiente como “narrativa” e “ilustração”. Nos últimos anos, esta tendência tem aumentado exponencialmente, e hoje é raro o espaço noticioso em que não sucedam negligências, descuidos ou até mesmo graves incompetências no exercício jornalístico. O Blasfémias e A Grande Loja apresentam dois casos interessantes (aqui e aqui), mas existem muitos outros exemplos.
Como o do artigo assinado por Isabel Oliveira, no Expresso do passado sábado (pág. 11). O texto é sobre a Governadora Civil de Lisboa (Adelaide Rocha) e as críticas que a sua conduta mereceu, a propósito da marcação das eleições para a Câmara a 1 de Julho (data que favorecia os partidos e prejudicava as candidaturas independentes), destacando a evidente posição “partidária” de Adelaide Rocha, que não se coibiu de apoiar pessoalmente a candidatura de António Costa (que a nomeou justamente quando era ministro da Administração Interna).
De súbito, somos confrontados com as seguintes frases bizarras: “Maria Adelaide Rocha, de 58 anos, não dá grande importância às críticas que lhe são endereçadas de parte a parte. O currículo profissional que granjeou na área da Cultura tornaram-na praticamente imune às tricas partidárias”. Sublinho que se trata de um corpo de texto sem aspas no original. O que é especialmente grave, pois dá a entender que se trata de uma opinião da jornalista, ainda para mais contrária à lógica de denúncia de um comportamento censurável que encontramos no resto do artigo.
Perante este cenário, há duas hipóteses. Ou se trata efectivamente de uma afirmação da jornalista – e é grave porque contém uma evidente e inaceitável opinião subjectiva partidária e partidarizante, que iliba a dita governadora de todas as dúvidas que a própria a notícia levanta; ou estamos perante uma declaração da própria governadora, e nesse caso aquela frase devia obviamente vir entre aspas, esclarecendo tratar-se de uma citação.
Dirão que se pressupõe que aquelas frases, tão decisivas no contexto do artigo, são da própria governadora. É até provável que assim seja, mas importa sublinhar que o jornalismo é um exercício de informação rigorosa, e não um concurso de intenções.
Etiquetas: jornalismo
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