terça-feira, setembro 04, 2007

Coisas que valem a pena, 16

“Amo a humanidade de forma inexorável. Mas, com grande surpresa minha, quanto mais amo a humanidade em geral, menos o faço em relação às pessoas individualmente consideradas. Já desejei com ardor servir essa humanidade em geral, e talvez subisse ao calvário por amor do próximo, quando, afinal, não consigo viver sequer dois dias seguidos com outra pessoa no mesmo quarto. Logo que sinto alguém perto de mim, a personalidade do outro oprime o meu amor-próprio, constrange a minha liberdade. Em vinte e quatro horas sou capaz de me revoltar com as melhores criaturas do mundo: uma porque fica muito tempo à mesa, outra porque se constipou e não pára de espirrar. Torno-me inimigo do género humano assim que entro em contacto com os homens. Mas, em compensação, quanto mais me irrito com os entes em particular, mais ardo de amor pela humanidade inteira”.

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4 Comments:

Blogger André, o campos said...

Uma preferência comum aos dois bempelocontraristas...

4/9/07 12:21  
Anonymous Anónimo said...

E ao espírito revolucionário que, em nome da humanidade, deixa para trás as pessoas, com os resultados que se conhecem. Como partilho convosco esse sentimento - até costumo dizer que sou pessimista relativamente aos homens, mas optimista a respeito da humanidade -, deixo aqui o meu lamento, porque reconheço os males que daí podem advir. Penso até que, na passagem citada, Dostoievsky reconhece, também, a profunda aversão aos homens que funda o amor à Humanidade.
Abraço aos dois.

4/9/07 17:00  
Anonymous Anónimo said...

No mínimo uma contradição nos termos

4/9/07 20:26  
Anonymous Anónimo said...

E viva o progresso exponencial do Deus-Homem...

4/9/07 21:01  

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