De Santa Justa ao Recife
Um fim de tarde solarengo e um passeio pela Baixa. Num impulso improvável, o desejo de utilizar o elevador de Santa Justa e usufruir de uma panorâmica inimitável. O serviço desenrola-se com rapidez e eficiência. O elevador, velhinho, mas pitoresco, cumpre a sua função. Nos andares intermédios, admira-se a minuciosa construção de ferro. Para chegar ao topo é preciso subir uma apertada escada em caracol. Apesar dos muitos turistas, a ascensão processa-se com civismo e tranquilidade. Lá no alto espera-me uma vista desafogada, a indescritível luz de Lisboa, o Tejo de um azul transbordante, as casas que serpenteiam entre as colinas da cidade, as ruínas do Carmo, o Castelo, sobranceiro, e a Baixa pombalina, indiferente aos que a olham, lá do alto.
O que pode estragar este cenário idílico? A brilhante ideia de instalar num miradouro exíguo um café e uma esplanada, com várias mesas e cadeiras, empilhando os turistas e empurrando os que chegam para uma sucessão de atropelões, “com-licenças”, “excuse me”, “perdón!”. Não basta? Junte-se então uma banda brasileira, cantando clássicos do Nordeste ao som do violão. Tudo devidamente projectado em colunas potentes. A vista desafogada dá lugar a uma luta pela sobrevivência, pois só penso em agarrar-me com firmeza ao corrimão. Os empregados, que circulam como se nada fosse, abalroam um casal de idosos alemães. Mas o espectáculo prossegue, indiferente. Na confusão, alguém me fala. Pedem-me qualquer coisa. Ajuda, será? Pena eu estar surdo e em pânico.
Definitivamente, Portugal tem uma visão muito peculiar sobre a preservação do seu património.
O que pode estragar este cenário idílico? A brilhante ideia de instalar num miradouro exíguo um café e uma esplanada, com várias mesas e cadeiras, empilhando os turistas e empurrando os que chegam para uma sucessão de atropelões, “com-licenças”, “excuse me”, “perdón!”. Não basta? Junte-se então uma banda brasileira, cantando clássicos do Nordeste ao som do violão. Tudo devidamente projectado em colunas potentes. A vista desafogada dá lugar a uma luta pela sobrevivência, pois só penso em agarrar-me com firmeza ao corrimão. Os empregados, que circulam como se nada fosse, abalroam um casal de idosos alemães. Mas o espectáculo prossegue, indiferente. Na confusão, alguém me fala. Pedem-me qualquer coisa. Ajuda, será? Pena eu estar surdo e em pânico.
Definitivamente, Portugal tem uma visão muito peculiar sobre a preservação do seu património.
Etiquetas: identidade portuguesa, Lisboa
2 Comments:
Bem descrito. Dá para imaginar a cena caricata. É bem à portuguesa!
Será que não vou ver o meu país desenvolver o único bem que temos para oferecer.A luz do sol e turismo?
E já agora não temos música portuguesa para passar num local português?
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