Corados de vergonha (II): a questão essencial
Corre na blogosfera grande excitação entre os comunistas a propósito da iniciativa do Tiago Barbosa Ribeiro, e da condenação generalizada que os blogues portugueses fizeram em relação ao convite do PCP para que o braço político das FARC estivesse presente na Festa do Avante. O texto que escrevi sobre o assunto mereceu vários comentários extensos (que aliás circulam um pouco por toda a blogosfera), um dos quais é uma cópia de um post de António Vilarigues.
Independentemente de ter sido o próprio autor a inseri-lo ou um fiel seguidor, gostava de responder com o presente texto, em jeito de comentário à contra-indignação dos comunistas portuguesas. O argumento principal é a de que são cometidos vários crimes na Colômbia e ninguém mostra grande indignação por isso (em algumas versões mais pesadas, os americanos [surpresa!] andam a matar sindicalistas colombianos, noutras – mais leves – é uma gente sem rosto que assassina camponeses sem nome).
Ora, isto é muito interessante, mas não tem nada que ver com o caso. A indignação por muitos demonstrada, e nos quais me incluo, não incide sobre as práticas da FARC; só alguém extremamente mal informado poderia ficar surpreendido ou acordar subitamente para as acções sangrentas deste grupo, que anda a espalhar o terror na Colômbia há décadas. A questão relevante não é portanto saber se há outros criminosos na Colômbia além das FARC – porque é óbvio que há. Há assassinos de esquerda, de direita e – vejam lá bem – até gente que mata sem ser por razões políticas ou motivações ideológicas.
O que me perturba é que o PCP, um partido com representação parlamentar num país democrático como Portugal, um partido que apregoa o primado da liberdade e que se diz defensor dos direitos humanos, apadrinhe e convide um grupo terrorista para a sua festa oficial. Esta é a questão e o problema a justificar. E a esta questão nenhum comunista responde apropriadamente.
Porque das duas uma: ou o PCP não reconhece que as FARC são uma organização terrorista – e é melhor que advogue a saída imediata da UE e da NATO, porque estas duas entidades declararam oficialmente as FARC como um dos mais extremistas e violentos grupos terroristas mundiais; ou o PCP reconhece o que são as FARC e assume que convidou o seu braço político plenamente ciente do que ele representa, e nesse caso não pode continuar a dizer de si próprio que é um partido favorável à democracia, que respeita os direitos humanos e que defende intransigentemente a liberdade.
Independentemente de ter sido o próprio autor a inseri-lo ou um fiel seguidor, gostava de responder com o presente texto, em jeito de comentário à contra-indignação dos comunistas portuguesas. O argumento principal é a de que são cometidos vários crimes na Colômbia e ninguém mostra grande indignação por isso (em algumas versões mais pesadas, os americanos [surpresa!] andam a matar sindicalistas colombianos, noutras – mais leves – é uma gente sem rosto que assassina camponeses sem nome).
Ora, isto é muito interessante, mas não tem nada que ver com o caso. A indignação por muitos demonstrada, e nos quais me incluo, não incide sobre as práticas da FARC; só alguém extremamente mal informado poderia ficar surpreendido ou acordar subitamente para as acções sangrentas deste grupo, que anda a espalhar o terror na Colômbia há décadas. A questão relevante não é portanto saber se há outros criminosos na Colômbia além das FARC – porque é óbvio que há. Há assassinos de esquerda, de direita e – vejam lá bem – até gente que mata sem ser por razões políticas ou motivações ideológicas.
O que me perturba é que o PCP, um partido com representação parlamentar num país democrático como Portugal, um partido que apregoa o primado da liberdade e que se diz defensor dos direitos humanos, apadrinhe e convide um grupo terrorista para a sua festa oficial. Esta é a questão e o problema a justificar. E a esta questão nenhum comunista responde apropriadamente.
Porque das duas uma: ou o PCP não reconhece que as FARC são uma organização terrorista – e é melhor que advogue a saída imediata da UE e da NATO, porque estas duas entidades declararam oficialmente as FARC como um dos mais extremistas e violentos grupos terroristas mundiais; ou o PCP reconhece o que são as FARC e assume que convidou o seu braço político plenamente ciente do que ele representa, e nesse caso não pode continuar a dizer de si próprio que é um partido favorável à democracia, que respeita os direitos humanos e que defende intransigentemente a liberdade.
Etiquetas: FARC, liberdades, mundos paralelos, PCP
9 Comments:
Eu creio que o PCP sempre advogou a saída de Portugal da NATO. Sempre tomei essa ideia como parte da doutrina oficial do grupinho...
Este texto vai directo ao ponto. São episódios deste tipo que ilustram a condição esquizofrénica do PCP actualmente.
Epá, pensando bem, até seria boa ideia sair de um tratado cuja existência se deve à protecção perante uma ameaça vermelha que já não existe hoje em dia... A não ser que o martelo e a foice sobre fundo vermelho se tenham transfigurado, magicamente, num crescente vermelho!
Deixo o flanco em aberto para mais uma catalogação sobranceira com palavras terminadas em "inho".
Atenciosamente,
O anónimo que até tem nome próprio.
Meus caros, a questão da NATO não é propriamente relevante - neste caso particular (embora fosse interessante que o PCP revelasse EXACTAMENTE qual é a sua posição sobre a presença de Portugal nas organizações internacionais ONU, NATO e UE... - acho que ficaríamos mais esclarecidos sobre o ADN comunista).
Quando falei na NATO, o que pretendia sublinhar é que várias organizações internacionais prestigiadas incluíram as FARC num conjunto de grupos terroristas, sendo os seus membros procurados pelas polícias de todo o mundo, e os seus actos condenados ao mais alto nível. Ou seja, esta ideia de que as FARC são uma organização sanguinária e assassina não é propriamente um delírio da "direita" e do "capital"...
Em rigor, basta procurar na Internet pelos sites desta malta e do seu braço político (o PCC, o tal que é convidado frequente do Avante), porque são os próprios a enaltecerem os sequestros, os actos violentos, etc...
Ah, obrigado pelo seu comentário, caro Pedro Magalhães. Parece-me que, como escrevi antes, essa "condição esquizofrénica" é justamente uma componente identitária do PCP...
Caro anónimo com nome próprio (não é isso um oxímoro?!),
um leitor atento do bempelocontrario sabe que o autor das "duvidanças" deste blogue já perguntou para que diabo serve tal organização, e deixou no ar a perplexidade pela sua existência.
Quanto à acusação de sobranceria pelo uso de diminutivos: é espantoso o que um simples sufixo consegue fazer, não é?
Cumprimentos
Claro que só é possível tanto paleio porque para o autor do «post» o Diário de Notícias é sua Bíblia e o DN disse que o PC da Colômbia era o braço político das FARC.
Acontece que o PC da Colômbia até faz parte de uma coligação eleitoral que repudia as acções violentas, para além de ter mais 40 anos de vida e de história que as FARC.
Mostrem as provas de que o PC da Colômbia é o braço político das FARC.
Depois dizer que falar dos assassinados não vêm agora ao caso
é mesmo de hipocritas que se rala mais com uma felizmente viva do que com milhares que estão enterrados.
Caríssimo, hesitei muito em comentar isto, tal como tinha desistido de comentar o post anterior. É um tema complexo sobre o qual não possuo informação suficiente ou suficientemente credível de nenhum dos lados. Por isso, parece-me arriscado que tenhas decidido comentar o tema de forma tão tenaz. A história da esquerda colombiana (e latino-americana em geral) é muito complexa. Como disse a Joana Caldeira, não há qualquer evidência indesmentível da ligação das FARC ao PCC, tanto mais que em 2000 o movimento revolucionário/terrorista formou um partido comunista clandestino à parte. Por outro lado, a eliminação gradual de membros do PCC, desde a sua fundação, tem sido uma constante (6000 membros só nos últimos 10 anos - e não estamos a falar de membros efectivos das FARC). O apoio mais ou menos directo dos grupos paramilitares por parte da CIA também não é um assunto fácil. De resto, esta é uma outra constante na história da América Latina, sendo o caso dos Contra da Nicarágua o mais gritante. Com tudo isto, não estou a defender o convite do PCP ou sequer a tomar uma posição, mas tão só a chamar a atenção para a complexidade do caso e para a falta de informação credível que permite um posicionamento claro. Abraço e até breve.
Pouco tenho a acrescentar. Obrigado pelos comentários, Joana Caldeira e Gonçalo; nunca disse que o problema não era complexo. As relações entre partidos e grupos armados na América Latina é de facto intrincada e nem sempre clara. Não julgo ser o caso das FARC e do PCC, que têm uma história de décadas de apoio e elogio mútuos... Vejam por exemplo http://www.google.pt/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4ADBF_pt-BRUS222PT222&q=farc+site%3ahttp%3a%2f%2fwww%2eavante%2ept%2f
(referências do "Avante" às acções extraordinárias das FARC)...
Ainda assim, admito que a relação possa neste momento ser mais ténue.
Mas gostaria de sublinhar que a minha indignação não tinha tanto que ver com as FARC propriamente ditas, mas com a atitude do PCP. Penso que houve falta de bom senso, e a reacção dos comunistas às observações e críticas na blogosfera, por exemplo, foi clara do mal-estar que existe no PCP sobre o assunto, que insistiu na "contra-informação", e nunca decidiu condenar as acções das FARC, expor qual a sua posição relativamente a este grupo e justificar adequadamente o "convite" ao PCC.
Enviar um comentário
<< Home